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Espiral negativa

Sem clareza sobre o futuro do endividamento, sobem os juros e desvaloriza-se a moeda nacional

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Operadores observam índices do mercado financeiro na Bovespa - Paulo Guereta/Zimel Press/Folhapress

A imprevidência do governo de Jair Bolsonaro tem enormes custos para o país. Novos gastos eleitoreiros são mais um golpe na claudicante credibilidade da política econômica. Inflação e juros em alta, com nefastas consequências sociais, são o resultado direto.

Sem considerar as desonerações tributárias oportunistas, como as isenções federais para reduzir os preços dos combustíveis, o custo da farra de gastos já chega a R$ 150 bilhões desde o ano passado.

Embora parcialmente compensadas pelo aumento surpreendente da arrecadação, ele próprio derivado em grande medida da inflação, as mudanças casuísticas nas despesas têm enorme consequência.

O dano se dá principalmente pela sinalização de que não se pode confiar nas regras fiscais, concebidas para evitar que um governo de plantão desequilibre o jogo eleitoral com benesses populistas.

Desde que se intensificaram os ataques ao teto de gastos inscrito na Constituição, foi praticamente revertida a tendência de queda dos juros que vinha desde 2017.

Sem clareza sobre o que esperar em horizontes mais longos, sobem os custos de financiamento do governo e desvaloriza-se a moeda nacional. Depois de atingir 2% no auge da pandemia, a taxa básica de juros (Selic) já chega a 13,25% e deve continuar a subir.

O arrocho monetário se torna a única ferramenta contra a inflação, que não dá sinais de recuo relevante. Depois de marcar 10,06% em 2021, o principal índice ao consumidor, o IPCA, deve subir mais 8% neste ano.

Descontada a inflação esperada para os próximos 12 meses, a chamada taxa real de juros está em 8,5%, apenas um pouco abaixo do pior momento observado no final do governo Dilma Rousseff (9,6%).

Despesas maiores para rolar a dívida pública estreitam a já diminuta margem no Orçamento. Longe de significar uma conspiração de rentistas, tal dinâmica é resultado direto de escolhas irresponsáveis do governo e do Congresso. Pior, os sinais são de que as pressões nos preços vão adquirindo caráter inercial, sempre difícil de debelar.

Será necessário um longo e penoso trabalho de restauração da qualidade do processo orçamentário, o que dependerá de reformas.

Sem um compromisso crível do próximo governo de que não será permitida uma disparada do endividamento, de modo a reverter as expectativas altistas para a inflação e os juros, não haverá retorno do crescimento sustentável.

editoriais@grupofolha.com.br ​ ​ ​

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