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Hugo Aguilaniu

O papel da ciência nas eleições

Políticas de investimento são essenciais para gerar desenvolvimento e riqueza

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Hugo Aguilaniu

Biólogo geneticista e diretor-presidente do Instituto Serrapilheira

Caberá ao próximo governo federal a reconstrução da economia, das políticas públicas e da democracia —e, para tanto, discutir a política científica é fundamental.

Os cortes nos programas destinados à ciência e à educação, a defasagem das bolsas e as ameaças e intimidações a pesquisadores resultaram na fuga de cientistas para o exterior, no esvaziamento das universidades, na interrupção de projetos e em atraso para o desenvolvimento do país.

Mesmo com a omissão em promover campanhas de vacinação e a insistência de governantes em questionar a eficácia das vacinas, é notável que tenhamos atingido mais de 80% de cobertura vacinal em adultos, números superiores aos de Itália, Japão e França. Resultados possíveis graças a décadas de investimentos públicos em instituições, como Fiocruz e Instituto Butantan, e no Programa Nacional de Imunizações.

Décadas de investimentos permitiram que, em 2020, o Brasil estivesse entre os 11 países com mais trabalhos publicados sobre Covid-19, 98% deles realizados em instituições públicas. Possibilitaram que estudos liderados por Cesar Victora, sobre aleitamento materno e desenvolvimento infantil, e o Guia Alimentar para a População Brasileira, desenvolvido por Carlos Monteiro, embasassem políticas mundiais de saúde pública. E também que as pesquisas de Johanna Döbereiner servissem de fundamento para o Programa Brasileiro de Melhoramento da Soja, fazendo do Brasil um ator competitivo no mercado internacional. Foi também graças a esses investimentos que pudemos conhecer os impactos da destruição de nossos ecossistemas, como nos mostra Carlos Nobre ao apontar o ponto de não retorno de desmatamento da Amazônia.

Políticas de investimento estruturado em ciência e tecnologia serão essenciais para promover o desenvolvimento, gerar riqueza a médio e longo prazo e maior competitividade na economia internacional. Sem elas, não chegaremos a novas fontes de energia limpa nem conseguiremos preservar a biodiversidade e os biomas, não estaremos preparados para os desafios da saúde pública e veremos uma queda de produtividade agrícola e industrial.

O Instituto Serrapilheira é uma instituição privada que investe na pesquisa e na divulgação científica desde 2017 porque acreditamos que o futuro do país depende do desenvolvimento de seu potencial criativo. Mas nossos investimentos só fazem sentido se o ambiente para pesquisa for positivo. E isso depende diretamente das políticas públicas e da inclinação de nossos governos a fomentar a ciência. Quanto maior o investimento público, maior e mais eficaz será o investimento privado, filantrópico ou não.

As eleições de 2022 são um momento decisivo. Em uma parceria com a Maranta Inteligência Política, convidamos colunistas a ceder espaço a formuladores de políticas públicas, cientistas e intelectuais que, ao longo deste mês de julho, refletirão sobre o papel da #CiênciaNasEleições.

Como disse Gilberto Gil, "é o brilho da ciência e da cultura que nos ajuda a sair da noite escura".

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