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O que a Folha pensa inflação

Alívio com ressalvas

Deflação interrompe alta do IPCA, mas tem causas transitórias e efeito desigual

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Preço reduzido em posto de combustíveis de São Paulo - Rivaldo Gomes/Folhapress

A deflação de 0,68% em julho, medida nos preços ao consumidor, representa um alívio parcial no custo de vida depois de quase dois anos de aumentos acelerados, especialmente em produtos de primeira necessidade como alimentos, energia elétrica e combustíveis.

O resultado, que fez a variação acumulada do IPCA em 12 meses cair de 11,89% para 10,07%, decorre principalmente da queda de 4,35% nos preços administrados —grupo que inclui combustíveis, barateados após o corte do ICMS estadual aprovado no Congresso.

O movimento, ademais, deve prosseguir neste agosto, com a retração das cotações do petróleo no mercado internacional.

A valorização recente do real e a queda de preços de matérias-primas foram outros fatores positivos, que permitiram quedas de preços de alimentos in natura (4,38%) e produtos industriais (0,11%).

De outro lado, ainda há pressões em setores que mostram maior grau de inércia, como serviços, que tem peso de 34% no IPCA e subiram 0,8%. Em tais recortes, a inflação ainda caminha em ritmo muito acima das metas de 3,5% para este ano e 3,25% para 2023, o que sugere que os juros vão permanecer elevados ainda por muitos meses.

Um sinal nessa direção foi dado pelo Banco Central, que elevou a taxa Selic para 13,75% anuais na semana passada e indicou estabilidade nesse nível até que seja observada inflexão clara do IPCA em direção aos objetivos da instituição.

A trégua de julho é sem dúvida bem-vinda, embora incipiente e por ora menos impactante para a população de baixa renda. No caso de São Paulo, segundo medida da Fipe que estratifica a inflação por faixa de renda, a deflação do mês chegou apenas para as famílias com renda mensal acima de oito salários mínimos (R$ 9.696).

O caminho é longo até uma melhora mais palpável para os mais pobres, o que depende de preços menores nos itens essenciais, sobretudo alimentação no domicílio —que tem peso de 15% no IPCA e acumula alta de 11,84% neste ano e de 17,51% em 12 meses.

Foi justamente a combinação de elevação dos preços de artigos de primeira necessidade no ano passado com letargia do emprego que fez a pobreza aumentar no país.

Segundo o boletim Desigualdade nas Metrópoles, o número de pessoas em situação de pobreza nas 22 principais áreas metropolitanas chegou a 19,8 milhões em 2021. Trata-se da maior cifra da série histórica iniciada em 2012.

Reverter esse quadro demanda auxílio social focado em quem precisa e uma política econômica sólida, que permita controle da inflação e continuidade da geração de emprego, que felizmente ganhou força nos últimos meses.

editoriais@grupofolha.com.br

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