Descrição de chapéu
O que a Folha pensa Selic

Fim de ciclo

BC anuncia que elevação dos juros acabará logo; redução das taxas dependerá do próximo governo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O edifício-sede do Banco Central, em Brasília. - Adriano Machado/Reuters

Em decisão unânime, o Comitê de Política Monetária do Banco Central elevou novamente a taxa básica de juros em 0,5 ponto porcentual, para 13,75%. A informação mais importante foi a indicação de que o ciclo de alta iniciado em março de 2021, quando a Selic estava em 2%, está em vias de encerramento.

O BC deixou espaço em seu comunicado para um ajuste residual em setembro, mas o movimento dependerá de novos dados sobre a inflação e a atividade econômica e poderá não ocorrer.

Com um cenário mais incerto do que o usual, o comitê continua a alertar para riscos inflacionários. Um dos principais é a continuidade da expansão de gastos públicos, que pode ampliar pressões na demanda, que já se mostram fortes.

Entram nessa conta a decisão do governo de aumentar despesas para melhorar as chances eleitorais de Jair Bolsonaro (PL) e as sinalizações duvidosas para o próximo ciclo presidencial. A falta de confiança na gestão prudente do Orçamento dificulta a ação da política monetária.

O crescimento da atividade e a redução do desemprego nos últimos meses são boas notícias, e justamente por isso é importante dosar estímulos fiscais adicionais.

Num contexto em que a inflação ainda se mostra elevada, sem clara evidência de inflexão nas medidas que capturam melhor seus efeitos inerciais, é preciso cuidado para que não seja necessário apertar ainda mais o torniquete dos juros, o que impediria manter a economia em trajetória de crescimento.

Com a redução dos impostos sobre combustíveis, o BC baixou de 8,8% para 6,8% sua projeção para o principal índice de preços, o IPCA, neste ano. Em contrapartida, elevou a previsão de 4% para 4,6% em 2023, quando parte dos cortes de tributos poderá ser revertida.

A expectativa para o próximo ano está muito acima da meta fixada pelo governo para o período (3,25%), mas o BC adotou postura mais flexível, estendendo o horizonte de referência para o primeiro trimestre de 2024 —quando se espera que a inflação acumulada em 12 meses esteja mais próxima do patamar desejado.

À luz da alta acumulada nos juros desde o ano passado, o BC faz bem agora em indicar paciência. Alguns efeitos da política monetária tendem a ser percebidos mais tarde, desacelerando a atividade econômica até o ano que vem, e faz mais sentido aguardá-los sem impor sacrifício adicional à economia.

Os próximos passos dependerão principalmente de informações sobre a política econômica do futuro governo, seja quem for o vencedor das eleições de outubro. Primar pela responsabilidade nos gastos públicos e na gestão da dívida será o caminho para viabilizar taxas de juros menores adiante.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.