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Recado a Bolsonaro

Na posse de novo presidente do TSE, presidente fica isolado em delírio golpista

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Cerimônia de posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do TSE - Antônio Augusto/Secom/TSE

Do ponto de vista simbólico, a posse de Alexandre de Moraes na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dificilmente poderia ter sido mais bem-sucedida.

A elite institucional do país compareceu em peso, num sinal inequívoco de prestígio da corte eleitoral e de apoio a Moraes, um ministro cuja agenda todos conhecem há tempos e que pode se resumir em dois pilares: defesa da urna eletrônica e combate à desinformação.

Diante de olhares melancólicos do presidente Jair Bolsonaro (PL), o ministro exaltou o TSE e sua capacidade de apresentar os resultados da disputa no mesmo dia, com segurança e transparência. "Isso é motivo de orgulho nacional", disse.

Moraes também anunciou que o tribunal procurará intervir o mínimo nas eleições, mas o fará com velocidade e firmeza se for necessário coibir a divulgação de notícias falsas ou de qualquer outra prática abusiva. "Principalmente daquelas escondidas no covarde anonimato das redes sociais", completou.

Enquanto a plateia saudava Moraes de forma efusiva, Bolsonaro recusava-se a aplaudir —talvez por estar ocupado procurando uma maneira de desaparecer sem chamar a atenção, tal era seu constrangimento naquele ambiente solene.

Não é segredo que o chefe de Estado promove o oposto do que enunciou o presidente do TSE. Ataca o sistema eleitoral, estimula a circulação de fake news e insinua a possibilidade de não passar a faixa caso seja derrotado.

Contra sua inclinação golpista já se ergueram diversas barreiras da sociedade civil. A mais relevante delas foi o ato de 11 de agosto, no qual entidades distintas entre si e mais de 1 milhão de pessoas ofereceram seus nomes como bastiões do processo democrático.

A iniciativas como essas se junta a cerimônia no TSE. Chefes e membros de Legislativo e Judiciário, ex-presidentes e governadores mostraram apreço pelas regras do jogo, deixando Bolsonaro isolado no seu delírio bonapartista.

São sinais cristalinos, sem dúvida, mas não se descarta que o presidente da República, do alto de sua parvoíce, revele-se inapto a compreender o óbvio —ou que, de outro modo, não queira fazê-lo.

Afinal, entre os convivas de Moraes estavam dois braços auxiliares do bolsonarismo: Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, e Augusto Aras, procurador-geral da República.

É difícil imaginar que já tenham virado as costas ao presidente; assim como eles, outros adeptos dos rapapés brasilienses podem muito bem omitir-se mais adiante.

Haverá eleições limpas e o vitorioso adentrará o Planalto em 1º de janeiro. Nem por isso os rosnados antidemocráticos deixam de merecer vigilância permanente.

editoriais@grupofolha.com.br

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