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Zona de conforto

Lula e Bolsonaro escolhem platitudes e ataques, em vez de debater o que importa

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Em montagem, os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) - Antonio Molina e Pedro Ladeira/Folhapress

Com o início oficial da campanha eleitoral nesta terça (16), os dois candidatos que lideram a corrida ao Palácio do Planalto foram às ruas pedir votos e seguiram um roteiro bastante previsível.

Jair Bolsonaro (PL), em busca da reeleição, encontrou-se com líderes religiosos em Juiz de Fora (MG) e fez comício no local onde levou uma facada na reta final da campanha de 2018. Atribuiu sua vitória a um milagre e disse ter salvado o país do socialismo.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas, foi à porta de uma fábrica em São Bernardo do Campo (SP), onde iniciou a carreira de sindicalista antes de se lançar na política. Chamou o adversário de mentiroso e genocida.

Ambos fizeram escolhas cômodas, revisitando territórios conhecidos em busca de audiência amistosa. O objetivo principal era garantir imagens espetaculosas para os telejornais e o horário de propaganda eleitoral, que estreia no rádio e na televisão na próxima semana.

Ao registrar suas candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral, os dois apresentaram há poucos dias seus planos de governo, cumprindo como mera formalidade a exigência imposta pela legislação a todos que disputam cargos executivos.

Causa desalento folhear os documentos protocolados, repletos de platitudes e promessas irrealistas —que estão longe de oferecer respostas para os desafios enfrentados pelo país após anos de estagnação econômica e crise sanitária.

Faltando um mês e meio para o primeiro turno da votação, é lamentável que os candidatos tenham feito de tudo para reduzir as oportunidades em que estarão frente a frente para expor seus pontos de vista e debater propostas.

Nas últimas semanas, dois encontros organizados por veículos jornalísticos foram cancelados devido ao desinteresse dos dois principais contendores. Há outros quatro programados, sem confirmação de que ambos estarão presentes.

Entre os presidenciáveis com maior pontuação nas pesquisas, somente Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) se expuseram a sabatinas com jornalistas profissionais. Bolsonaro e Lula têm preferido conversas com personalidades da internet, em que são raros os questionamentos incisivos.

Falando na USP, Lula desafiou Bolsonaro a um debate com ele e os estudantes. Como até agora o petista só confirmou presença em um evento, fica a impressão de que outro confronto só lhe interessa se tiver a torcida ao seu lado.

Debates proporcionam a chance de examinar os candidatos e suas ideias longe da zona de conforto erguida pelos estrategistas dos partidos. Lula e Bolsonaro mostram pouco-caso com uma parte essencial do processo democrático.

editoriais@grupofolha.com.br

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