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Edson Luiz Sampel

70 anos da CNBB

Sob os princípios do cristianismo, congregação de bispos é voz na consciência dos católicos

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Edson Luiz Sampel

Advogado, é presidente da Comissão Especial de Direito Canônico da OAB-SP

No dia 14 de outubro de 2022 comemora-se o septuagésimo ano da fundação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O sodalício que congrega os bispos brasileiros contou com o protagonismo de homens como dom Hélder Câmara, em processo de canonização.

De fato, há um famoso dito desse eminente prelado que caracteriza a trajetória da conferência episcopal de nosso país: "Quando dou alimento aos pobres, chamam-me de santo, mas, se pergunto porque os pobres passam fome, chamam-me de comunista". Com efeito, a chamada evangélica opção preferencial pelos pobres, não exclusiva nem excludente, tem sido a marca da CNBB.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB

E não poderia ser diferente, porquanto o próprio divino fundador da Igreja Católica, Jesus Cristo, Senhor nosso, optou preferencialmente pelos pobres. Eis suas sacrossantas palavras: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor" (Lc 4, 18-19). Diante de assertivas tão claras, como poderia a CNBB preocupar-se com quinquilharias?

Na condição de leigo (membro da igreja que não é clérigo), decidi escrever este artigo primeiro porque, conforme o adágio popular, elogio em boca própria é vitupério; isto eventualmente ocorreria caso um antístite encomiasse a conferência episcopal; segundo, e principalmente, porque há muitíssimos católicos leigos que hostilizam a CNBB, apodando-a exatamente de comunista, esquerdista, marxista etc.

A CNBB pauta seus pronunciamentos e ações na denominada Doutrina Social da Igreja, encetada por Leão 13, com a magistral encíclica "Rerum Novarum". São João Paulo 2º ensinou que a doutrina social é parte integrante do evangelho. Sem embargo, certos grupos de leigos tradicionalistas envolvem os católicos incautos em uma liça injusta contra a CNBB, atacando a própria entidade, o Concílio Vaticano 2º, o papa Francisco e —pasmem!— a missa dominical de sempre, uma vez que só aceitam a liturgia em latim.

Agem sobretudo pela internet, disseminando vídeos e sites inoculadores de ódio. Tais pessoas desditosas, genuínos gnósticos coevos, que se posicionam perigosamente na fronteira do cisma, fecham-se em luciferino subjetivismo, "no qual apenas interessa determinada experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência de sua própria razão e de seus sentimentos" (Papa Francisco, "Gaudete et Exsultate", 36). Vale dizer, os algozes da CNBB encaram a religião como mero diletantismo, fazendo dicotomia entre fé e vida.

A CNBB, desde os albores, inculca na política, na economia, no mundo do trabalho, na cultura, enfim, em todos os setores, inclusive nas instâncias governativas, os princípios éticos hauridos do cristianismo. É sua missão! Não apresenta nenhuma "solução católica", que inexiste.

Desta feita, a prestigiosa instituição septuagenária não se calou diante dos arbítrios da ditadura militar, como não se aquieta em face de quaisquer posturas atuais que vulnerem a democracia e outros bens da sociedade.

Em suma, a CNBB é uma voz na consciência dos católicos, com portentosa admoestação aos que, alienados em doutrinarismos, deixam de colocar a questão social em primeiro lugar e, destarte, fazem ouvidos moucos aos ensinamentos de Jesus Cristo que, identificando-se com os excluídos da sociedade, pontificou: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e para seus anjos, porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, fui forasteiro e não me recolhestes; estive nu e não me vestistes, doente e preso e não me visitastes" (Mt 25, 41-43).

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