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A soberana

Morte de Elizabeth 2ª encerra uma era e pode afetar a popularidade da monarquia

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A rainha Elizabeth 2ª, em foto de fevereiro - Joe Giddens/Reuters

Morta aos 96 anos, Elizabeth 2ª carrega consigo marcas difíceis de superar. Foi a pessoa que mais tempo ficou no trono britânico, 70 anos completados em fevereiro. Tivesse vivido por mais dois anos, bateria o francês Luís 14 como dona do mais longo reinado conhecido na história —já não tinha páreo em casas reais no mundo atual.

A monarca viveu uma montanha-russa de crises que parece associada à sua família, a Casa de Windsor. Sua ascensão só foi possível porque o tio abdicou para casar-se com uma plebeia americana, deixando a cadeira para o irmão.

Antes de ser rainha, Elizabeth deu exemplo servindo como mecânica e sendo figura assídua no noticiário da Segunda Guerra Mundial em seu país. Tinha apenas 25 anos ao assumir a chefia de Estado.

Com a coroa, alternou popularidade com momentos duros: ignorou um dos maiores desastres da história de seu país, o acidente de mineração de Aberfan em 1966, e 31 anos depois foi tachada de insensível após a morte da princesa Diana, sua desafeta pública.

Tal trajetória teve grande impacto na cultura popular. A monarquia britânica causa constante fascinação, como o sucesso da telessérie "The Crown" atesta. Toda uma subcategoria de jornalismo, ávida por escândalos, desenvolveu-se parasitando os maus hábitos dos Windsor, sendo replicada mundo afora.

Com escassa interferência na vida política, a rainha tornou-se um símbolo de estabilidade em um Reino Unido sob aguda mudança com o desmantelamento do império. Autorizou formalmente os governos de 15 primeiros-ministros, lista que começa com o gigante Winston Churchill e chegou, nesta semana, à incógnita Liz Truss.

O simbolismo tem seu preço. Em 2014, a família real custou ao contribuinte £ 35,2 milhões. O Jubileu de Platina de 2022 e a renovação do Palácio de Buckingham fizeram o valor saltar para £ 102,4 milhões (R$ 614 milhões hoje).

Por ora, os britânicos parecem satisfeitos. Segundo pesquisa do YouGov em maio, 62% deles queriam a permanência da monarquia, e apenas 22% expressavam desejo de votar para chefe de Estado.

Ainda assim, o apoio teve uma queda de 13 pontos desde 2012. Mais importante, jovens de 18 a 21 anos eram mais refratários à Coroa: só 33% queriam seguir súditos.

O desparecimento de Elizabeth 2ª encerra uma era, turbulenta e glamorosa, cujos parâmetros parecem distantes do século 21.

Como é uma figura altamente impopular, devido ao conturbado fim de seu casamento com Diana, o agora rei Charles 3º talvez tenha de encarar o escrutínio da conveniência do sistema monárquico quando o luto pela morte de sua mãe estiver consumado.

editoriais@grupofolha.com.br

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