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Colapso educacional

Exame indica regressão trágica no ensino básico, que exige esforço federativo

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Escola fechada em Brasília durante a pandemia - Pedro Ladeira - 13.mar.20/Folhapress

Após quase dois anos de escolas fechadas e ensino a distância precário e desigual, era esperado que o resultado da avaliação nacional dos estudantes do ensino básico fosse ruim. O conjunto de indícios e indicadores de 2021, afinal conhecido, sugere um desastre a ser tratado como emergência em uma situação já cronicamente grave.

A avaliação foi prejudicada pela queda da participação dos estudantes e escolas no exame do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), realizado a cada dois anos. Por si, o fenômeno sugere uma espécie de desligamento da escola —abandono dos estudos, desalento ou falta de condições quaisquer para fazer a prova.

Essa abstenção dificulta comparações com o desempenho em anos anteriores. Feita a ressalva, os resultados parecem aterradores.

No caso do segundo ano do ensino fundamental, o Saeb realizou um exame com apenas uma amostra dos estudantes; no quinto e no nono ano do fundamental e do final do ensino médio, a avaliação se pretende censitária. Como ressaltado pelo instituto Todos pela Educação, verificou-se que um terço dos avaliados é incapaz de ler palavras isoladas em um texto.

Em certas disciplinas e séries, houve regressões de anos no nível de aprendizado, como se fosse perdido mesmo o pequeno, mas regular, progresso de uma década.

O diagnóstico preciso do prejuízo será, mais do que nunca, trabalho de investigação detalhada de cenários locais. Quanto aos esforços para atenuar a catástrofe, urge também uma iniciativa nacional.

Não se trata de retórica. A educação básica é da alçada de cidades e estados, porém o financiamento desses níveis de ensino tem complementação federal. Agora, de modo tardio, é preciso que se realize um esforço federativo a fim de alertar para a gravidade do problema, identificar os auxílios necessários e coordenar ações.

É uma crise nacional, um subproduto da epidemia, mas também da desigualdade crônica e de descaso secular com a escola. Como agravante, o Ministério da Educação está em ruínas depois dos anos de convulsão ideológica e administrativa de Jair Bolsonaro (PL).

É uma emergência, embora se saiba que avanços na educação tendam a ser lentos. A indiferença em relação ao colapso de 2020-21 pode prejudicar uma geração.

Trata-se também de um assunto de presidente da República, que deveria se dirigir de modo solene ao país e convocar um plano de recuperação, e de Congresso Nacional —ainda que as soluções devam ser locais e descentralizadas.

O tema, contudo, não está no centro dos debates desta campanha eleitoral, até aqui muito pobre de conteúdo programático.

editoriais@grupofolha.com.br

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