Descrição de chapéu
O que a Folha pensa

Convulsão iraniana

Protestos contra opressão a mulheres abalam a teocracia islâmica, já em crise

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Protestos em Teerã devido à morte de Mahsa Amini - Reuters

Em 13 de setembro, uma mulher de 22 anos foi detida na entrada de uma estação de metrô de Teerã, capital do Irã, enquanto visitava a cidade com a família, oriunda de uma província curda ao sul do país.

Mahsa Amini foi acusada pela polícia moral do regime teocrático de vestir "trajes inadequados", numa violação do severo código de vestimenta imposto às mulheres da nação persa, que incluem a exigência do uso do hijab, um lenço que cobre a cabeça.

Levada pelos agentes para ser "convencida e educada", Amini saiu da prisão para o hospital, onde morreu três dias depois.

Embora as autoridades aleguem que ela sofreu um ataque cardíaco, são fortes os indícios de abusos e maus-tratos —um vídeo que circulou amplamente nas redes sociais mostra a jovem inconsciente e entubada numa cama de hospital, com hematomas nos olhos e sangue escorrendo das orelhas.

Foi o estopim de protestos de rua que já duram quase uma semana, na maior e mais ousada manifestação recente de repúdio às restrições impostas às mulheres no país. Iniciados na província de origem de Amini, onde ela foi enterrada, eles se espalharam por dezenas de cidades, incluindo a capital.

Iranianas passaram a protestar queimando seus véus e cortando os cabelos, num desafio explícito às autoridades, enquanto multidões gritavam "morte ao ditador".

Em vigor no Irã desde 1981, a imposição do hijab há muito tem sido questionada no país. Pudera: a norma não só tira das mulheres a liberdade de escolha sobre sua aparência em público como as submete à violência e ao assédio das forças de repressão moral.

Diante da fúria feminina, as autoridades responderam com mais repressão e violência. Centenas de pessoas já foram presas, e ONGs de direitos humanos falam em mais de 30 mortos, enquanto as fontes oficiais apontam 17 vítimas até o momento. Num expediente típico de ditaduras, o governo bloqueou o acesso às redes sociais.

Enfrentando uma grave crise econômica, exacerbada por sanções internacionais, o Irã vem buscando reviver o acordo nuclear com as potências ocidentais, mas as tentativas vêm falhando sistematicamente. Ademais, o líder supremo, aiatolá Khamenei, de 83 anos, encontra-se gravemente doente.

A convulsão social mostra que, para parte expressiva do país, também doentes estão a teocracia islâmica e seus ditames opressores.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.