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O que a Folha pensa Rússia

Surpresa de Kiev

Ataque ucraniano altera dinâmica da guerra, mas é cedo para falar em uma virada

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Prédios atingidos em ataque militar russo a Kharkiv, na Ucrânia - Viktoriia Yakymenko/Reuters

Em fins de julho, ataques coordenados com artilharia de precisão americana por parte das Forças Armadas da Ucrânia anunciaram, pode-se dizer, o início da terceira grande fase da guerra iniciada pela Rússia de Vladimir Putin.

Kiev buscaria reconquistar parte da província sulista de Kherson, vital para os ocupantes russos por integrar o corredor terrestre que liga o leste russófono do país, que já estava em mãos pró-Kremlin desde 2014 com a Crimeia.

Durante cinco semanas, a ofensiva não decolou, mas atraiu grandes reforços russos. Quando foi enfim lançada, enfrentou muitas dificuldades para romper as defesas estabelecidas por Moscou na área.

O que nem russos nem analistas militares esperavam ocorreu na primeira semana de setembro: a abertura de uma segunda contraofensiva, desta vez na região nordeste da Ucrânia, na província de Kharkiv —que, com exceção da capital e da porção oeste, encontrava-se ocupada desde abril.

Ali, o exército invasor estava menos guarnecido devido aos reforços enviados ao sul, e o resultado foi uma estrondosa vitória para Kiev —que retomou quase todo o território, no seu mais bem-sucedido ataque em seis meses de guerra.

Antes, na primeira etapa do conflito, a Rússia fracassou em dobrar o governo de Volodimir Zelenski com uma investida tão ambiciosa quanto mal planejada. Foi mais uma derrota tática para si própria do que um triunfo ucraniano.

Putin teve de deixar as áreas em torno de Kiev, norte e nordeste do país, porém manteve seus ganhos no sul e iniciou uma fase centrada no Donbass, o leste russófono. Ali vem colhendo bons resultados, mesmo que lentamente.

Agora, o novo capítulo do embate se dá sob o signo da surpresa de setembro de Kiev. Cabe, contudo, cautela: os russos fugiram para leste, deixando áreas sem resistência, e poderão se reagrupar.

Nesta segunda-feira (12), retomaram a rotina de bombardeio punitivo a civis, deixando a cidade de Kharkiv, a segunda mais populosa da Ucrânia, no escuro e sem água.

Não é certa a capacidade de Zelenski de defender áreas reconquistadas tão rapidamente a tempo de evitar um contra-ataque com eficiência, e ainda é cedo para dizer que as perdas russas indicam uma virada maior no tabuleiro militar.

Isso dito, a dinâmica de uma guerra que se desenha arrastada está sendo redefinida, e pela primeira vez por iniciativa de Kiev.

editoriais@grupofolha.com.br

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