Descrição de chapéu América Latina

Um rolê pela favela pop de Medellín

O exemplo bem-sucedido da Comuna 13 mostra que é possível pacificar uma comunidade e ainda gerar empregos investindo na cultura local

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Giovana Madalosso

Estou em Medellín a convite da Fiesta del Libro e aproveitei para conhecer a Comuna 13. Talvez você já tenha ouvido falar dessa favela, durante anos dominada pelo narcotráfico e violenta a ponto de fazer os infernos brasileiros parecerem coisa de iniciante.

Visitei um campo de futebol onde crianças eram convidadas pelos traficantes a matarem uma pessoa. Se não conseguissem, eram mortas e decepadas, mostrando que a falta de coragem ou subserviência ao tráfico tinha seu preço. Até hoje os fios de luz são cheios de tênis de jovens assassinados nessas circunstâncias. Em 2002, um menino de 9 anos, armado com uma Mini Uzi, matou dois policiais e, logo depois, foi morto pela polícia.

Tela produzida por artistas locais em galeria da Comuna 13, uma das maiores favelas da Colômbia, que reúne bairros de baixa renda numa encosta na parte oeste de Medellí, e que era dominada por criminosos e narcotraficantes
Tela produzida por artistas locais em galeria da Comuna 13, uma das maiores favelas da Colômbia, que reúne bairros de baixa renda numa encosta na parte oeste de Medellí, e que era dominada por criminosos e narcotraficantes - Giovana Madalosso

Era o fundo do fundo do poço. O governo resolveu se mobilizar. Mais de duas dezenas de operações militares foram montadas para extirpar a guerrilha. A derradeira, segundo números extraoficiais, deixou 250 mortos. Uma moradora me contou que via, literalmente, rios de sangue correndo entre os barracos. E tendo finalmente conseguido botar o narco para fora, os moradores não podiam deixá-lo voltar.

Apostaram na arte para resistir e narrar sua história. A partir daí, nasceram os grafites que estão por todo lado. Os grupos de dança, os trovadores e o hip-hop. As galerias de arte para vender essa nova estética. E lanchonetes, sorveterias e inúmeras lojas de souvenir para atender os turistas.

Hoje escadas rolantes atravessam essa comunidade que não só pulsa como gera renda. Subi por uma, comprei uma cerveja feita no local e assisti a um show de dança. Imaginar o que aqueles bailarinos testemunharam e vê-los ali, vivos, orgulhosos si mesmos, me emocionou e me deu esperança.

Nenhum país precisa se armar e aceitar o descaso, a morte e o genocídio de parte de sua população, como vem ocorrendo no Brasil. Tem por onde. E pode ser bom para todos. A Comuna 13 que o diga.

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