Estou em Medellín a convite da Fiesta del Libro e aproveitei para conhecer a Comuna 13. Talvez você já tenha ouvido falar dessa favela, durante anos dominada pelo narcotráfico e violenta a ponto de fazer os infernos brasileiros parecerem coisa de iniciante.
Visitei um campo de futebol onde crianças eram convidadas pelos traficantes a matarem uma pessoa. Se não conseguissem, eram mortas e decepadas, mostrando que a falta de coragem ou subserviência ao tráfico tinha seu preço. Até hoje os fios de luz são cheios de tênis de jovens assassinados nessas circunstâncias. Em 2002, um menino de 9 anos, armado com uma Mini Uzi, matou dois policiais e, logo depois, foi morto pela polícia.
Era o fundo do fundo do poço. O governo resolveu se mobilizar. Mais de duas dezenas de operações militares foram montadas para extirpar a guerrilha. A derradeira, segundo números extraoficiais, deixou 250 mortos. Uma moradora me contou que via, literalmente, rios de sangue correndo entre os barracos. E tendo finalmente conseguido botar o narco para fora, os moradores não podiam deixá-lo voltar.
Apostaram na arte para resistir e narrar sua história. A partir daí, nasceram os grafites que estão por todo lado. Os grupos de dança, os trovadores e o hip-hop. As galerias de arte para vender essa nova estética. E lanchonetes, sorveterias e inúmeras lojas de souvenir para atender os turistas.
Hoje escadas rolantes atravessam essa comunidade que não só pulsa como gera renda. Subi por uma, comprei uma cerveja feita no local e assisti a um show de dança. Imaginar o que aqueles bailarinos testemunharam e vê-los ali, vivos, orgulhosos si mesmos, me emocionou e me deu esperança.
Nenhum país precisa se armar e aceitar o descaso, a morte e o genocídio de parte de sua população, como vem ocorrendo no Brasil. Tem por onde. E pode ser bom para todos. A Comuna 13 que o diga.
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