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Luiz Paulo Rosa

Como voltar a ser referência internacional na vacinação?

Desinformação combate-se com educação popular: aumentemos a dosagem

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Luiz Paulo Rosa

Médico de família e comunidade, é mestre em saúde coletiva e membro da equipe Halo, da ONU

A cobertura vacinal para diversas doenças teve uma queda importante nos últimos anos. Dados do Ministério da Saúde apontam que, até o início de setembro, apenas 35% das crianças entre 1 e 5 anos foram vacinadas para poliomielite, quando a meta era atingir ao menos 95% delas.

Informações disponíveis no DataSUS sobre o tema indicam queda expressiva no percentual global. A taxa de vacinação caiu de 73,29%, em 2013, para 60,06% em 2021. Os dados deste ano são ainda mais preocupantes: até 3 de outubro, a cobertura vacinal nacional totalizava apenas 40,24% da população.

Campanha de Vacinação contra a Poliomielite e Sarampo
Criança é vacinada contra a poliomielite - Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Brasil tem um histórico exitoso em políticas públicas de vacinação. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) foi institucionalizado em 1975, mas antes ocorriam campanhas para doenças específicas. Passamos a ser referência para o mundo, e o PNI integra o programa da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Analisando o passado recente de êxito e o presente de declínio, surge o questionamento dos motivos para essa regressão. As causas são múltiplas, mas a principal consequência é uma vulnerabilidade frente a doenças que antes pareciam erradicadas.

Nos cursos da área da saúde, aprendemos o conceito de prevenção primária. Esse nível de prevenção ocorre em situações nas quais o adoecimento ainda não surgiu e envolve ações para evitá-lo. São exemplos importantes a legislação para aumentar os impostos sobre a venda de cigarros, diminuir o consumo e reduzir o tabagismo; o investimento em saneamento básico; a alimentação saudável e livre de agrotóxicos; o combate à fome; a geração de emprego e as políticas de combate à desigualdade social.

É impossível não relacionar a diminuição da cobertura vacinal com a enxurrada de desinformação que ocorreu em meio a pandemia de Covid-19. As notícias falsas sobre possíveis efeitos colaterais da vacina funcionaram como um fator que afastou a população da procura por imunizantes. A impressão é que rompemos gradativamente um pacto civilizatório, responsável por livrar milhões de crianças da paralisia infantil, da malária, da varíola, da coqueluche e de diversas outras doenças.

A vacinação é uma ação em saúde que só faz sentido no coletivo. A retomada das campanhas de vacinação é importante neste momento, mas não pode ser a única medida. Planejamento a longo prazo e longitudinalidade no incentivo à imunização são essenciais. A sociedade civil se organiza de diversas formas, e as campanhas de veículos de telecomunicação, com artistas conhecidos do grande público, são exemplos disso, mas insuficientes.

Precisamos voltar ao passado recente e percorrer os caminhos já construídos que nos levaram ao êxito nas políticas de incentivo à vacinação. Esse percurso envolve a retomada de um compromisso social e o incentivo de políticas curativas e também preventivas. O ditado popular diz que "o que não tem remédio, remediado está". A boa notícia é que temos remédio sim.

Nesta segunda-feira (17), Dia Nacional da Vacinação, urge lembrar que é possível combater a desinformação com educação popular e conhecimento acessível —já temos isso demonstrado. É necessário aumentar a dosagem.

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