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O que a Folha pensa forças armadas

Desordem unida

Ao manter silêncio sobre as urnas, militares ajudam Bolsonaro a semear confusão

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O ministro do Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira - Gabriela Biló/Folhapress

Passadas três semanas desde o primeiro turno da eleição presidencial, as Forças Armadas ainda mantêm em segredo as conclusões dos militares destacados para a fiscalização do processo eleitoral.

Após meses de desconfianças infundadas lançadas sobre o sistema de votação e intrigas com a Justiça, nenhum oficial veio a público dizer se encontrou algo errado nas urnas eletrônicas ou identificou qualquer outro problema.

Questionado pelo Tribunal Superior Eleitoral, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, bateu em retirada, dizendo não ter condições de apresentar nem mesmo um relatório parcial, com conclusões preliminares.

Segundo ele, só será possível fazê-lo após o segundo turno, marcado para domingo (30). Seria precipitado adiantar qualquer coisa antes de cotejar as informações colhidas com as que serão liberadas pelo TSE depois, argumentou.

A resposta evasiva do ministro deixa evidente que o objetivo das Forças Armadas, desde que aceitaram o convite do tribunal para participar da fiscalização das eleições deste ano, nunca foi contribuir para aprimorar o processo.

Estivessem preocupados em garantir a segurança das urnas e tranquilizar a população, bastaria divulgar o resultado dos trabalhos feitos no primeiro turno, deixando claro que não encontraram nenhum indício de irregularidade, como parece evidente.

A opção pela embromação, ao contrário, serve apenas para engrossar a campanha de descrédito que o presidente Jair Bolsonaro (PL) move incansavelmente contra o processo eleitoral, alimentando a ilusão de que algo importante possa ser revelado mais tarde.

A tática dos militares, talvez um subterfúgio para contornar as pressões do chefe de Estado, deixa a pista livre para a fabricação de teorias conspiratórias depois do segundo turno, quando Bolsonaro usará qualquer coisa para contestar um eventual resultado desfavorável.

Existe até a possibilidade de que os estudos não cheguem a conclusão alguma. Como este jornal noticiou, a última etapa do plano de fiscalização dos militares dependerá de especialistas em processamento de dados que ainda nem sequer foram recrutados.

Em entrevista veiculada por um podcast americano nesta terça (25), o próprio Bolsonaro expôs o sentido do embuste, dizendo que seria impossível para as Forças Armadas certificar a lisura do sistema.

Haverá eleições no domingo, as urnas recolherão os votos, e o vencedor será conhecido à noite. Independentemente do resultado, a participação na farsa urdida por Bolsonaro manchará a reputação dos militares por muito tempo, como uma nódoa difícil de apagar.

editoriais@grupofolha.com.br

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