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Saem urnas, entram pesquisas no alvo; desejo de Bolsonaro é impedir informações

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Jair Bolsonaro (PL) em entrevista após resultado do primeiro turno das eleições - Gabriela Biló/Folhapress

Em sua cruzada para minar as instituições, tutelar o eleitor e prejudicar o livre fluxo de informações de qualidade, Jair Bolsonaro (PL) mudou o foco dos ataques.

Saíram do alvo, ao menos provisoriamente, as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral —que mais uma vez, como esperado, deram prova de eficácia e segurança. Entraram as pesquisas eleitorais.

Na primeira entrevista após confirmado o segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mais votado, o presidente despejou inverdades e fez ameaças.

"Acho que se desmoralizou [sic] de vez os institutos de pesquisa. O Datafolha estava dando 51 a 30 e pouco, a diferença foi quatro. Isso tudo ajuda a levar voto para o outro lado e isso vai deixar de existir. Até porque acho que não vão continuar fazendo pesquisa."

Dado o apito do chefe, auxiliares começaram a reverberar as acusações e escalar as intimidações. Líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) disse que é preciso criminalizar pesquisas que não baterem com o resultado das urnas.

Os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) e Fábio Faria (Comunicações) pediram que os eleitores boicotassem os institutos, não mais respondendo a questionários. O senador Marcos do Val (Podemos-ES) apresentou um requerimento de CPI.

Por fim, o ministro da Justiça, Anderson Torres, coroou a ópera-bufa ao enviar à Polícia Federal pedido de abertura de inquérito para investigar os institutos.

Não há o que investigar. Há, isso sim, o que esclarecer.

Pesquisas não são projeção ou antecipação de resultados eleitorais. Portanto, não "erram" ou "acertam". São pesquisas. Se bem feitas, ouvem uma amostra representativa da sociedade e, com base nas respostas, retratam um momento, que necessariamente será diferente do que ocorrerá nas urnas —a fotografia é anterior.

De posse desses levantamentos, o eleitor pode tomar sua decisão de maneira mais bem informada do que se estivesse proibido de saber das tendências mais recentes.

No caso do levantamento mencionado por Bolsonaro, o Datafolha (parte do Grupo Folha, que publica este jornal, que por sua vez é cliente do instituto) aferiu que, na véspera do primeiro turno, Lula contava intenções de votos válidos entre 48% e 52%, considerada a margem de erro de dois pontos percentuais. O candidato petista obteve 48,43% nas urnas.

Bolsonaro aparecia com 36%, seguido de Simone Tebet (MDB), com 6%, e Ciro Gomes (PDT), com 5%, e os indecisos somavam 2%. Os resultados finais foram, respectivamente, 43,2%, 4,16% e 3,04%.

Uma hipótese é que parte dos eleitores da emedebista e do pedetista despejou voto útil no presidente, que pode ter se beneficiado também dos antes indecisos.

Muitos fatores podem explicar a migração dos votos de última hora, entre eles o desejo de impedir que Lula vencesse já. Mas não é de explicações que os serviçais do presidente estão atrás. É de censura.

editoriais@grupofolha.com.br

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