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O que a Folha pensa

O fantasma da pólio

Queda alarmante da cobertura vacinal desde 2015 pode levar à volta da doença

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Vacinação contra a poliomielite em Corumbá (MS) - Clóvis Neto/Fotoarena/Agência O Globo

São bastante preocupantes os resultados obtidos pela campanha nacional de imunização infantil contra a poliomielite, concluída no dia 30 de setembro.

Iniciada em 9 de agosto, a ação do Ministério da Saúde estava programada para terminar um mês depois. Mas os baixos índices de imunização levaram a pasta a prorrogá-la por mais três semanas.

Mesmo assim, a iniciativa só atingiu pouco mais da metade das crianças menores de 5 anos. Trata-se, portanto, de índice muito abaixo da meta de 95% preconizada pelos epidemiologistas e crucial para impedir a circulação da pólio.

O número geral esconde um quadro regional heterogêneo que indica onde estão os principais gargalos do país. A Paraíba alcançou 86% do público-alvo, por exemplo, mas Roraima chegou a somente 23%.

Provocada por um vírus que se aloja no sistema nervoso central, a poliomielite é uma doença altamente contagiosa, que nas suas formas mais graves causa a paralisia permanente dos membros.

O último caso registrado no Brasil remonta a 1989, e em 1994 a Organização Mundial da Saúde conferiu ao país o certificado de erradicação da moléstia. Porém o vírus permanece em circulação na Nigéria, no Paquistão e no Afeganistão.

A única maneira de evitar a volta da pólio no Brasil é manter elevado o percentual de crianças imunizadas. Acontece que, desde 2015, esse número só regride por aqui.

Naquele ano, a taxa se encontrava no sólido patamar de 98,2%. Caiu no ano seguinte para 84,4% e, em 2020, minguou a 75,9%. Em 2021, no pior ano da pandemia, desabou para alarmantes 67%.

Não à toa, o Brasil foi incluído pela Organização Pan-Americana de Saúde —ao lado de República Dominicana, Haiti e Peru— no rol de países que correm risco muito alto de reintrodução da poliomielite.

Especialistas veem uma conjunção de fatores por trás do declínio: do relaxamento da população diante da ausência de casos até a complexidade do calendário vacinal, para não falar da possível influência do negacionismo antivax.

Diante disso, compete ao Estado, em especial o governo federal, no mínimo divulgar de modo amplo e convincente, a pais e responsáveis, informações a respeito da imunização. Talvez a mensagem mais relevante neste momento seja a de que, apesar do fim da campanha nacional, a vacinação contra a pólio segue ocorrendo em todos os postos de saúde do país.

editoriais@grupofolha.com.br

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