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Marco Antonio Carvalho Teixeira

Palanques regionais e o segundo turno presidencial

Lula e Bolsonaro terão estruturas desmontadas onde a eleição já foi definida

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Marco Antonio Carvalho Teixeira

Cientista político, é doutor em ciências sociais (PUC-SP) e professor da FGV-Eaesp

E o Brasil começa a corrida ao segundo turno. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) vão ao embate decisivo com pequena vantagem numérica para o ex-presidente, mas que ainda revela um país completamente fraturado por uma rivalidade que promoveu uma violência política sem precedentes em tempos de democracia.

O jogo agora, porém, é outro. São apenas dois candidatos, o tempo de TV é distribuído igualmente, os debates televisivos terão mais foco e as eleições estaduais já foram definidas em alguns estados, dois deles os mais populosos do país: Minas Gerais e Rio de Janeiro. Onde não há segundo turno para governos estaduais, os presidenciáveis terão palanques mornos sem que sejam afetados pela política local. Onde ainda haverá disputa, certamente Lula e Bolsonaro terão espaços privilegiados nos palanques de seus aliados em busca do voto local.

Os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) votam neste domingo (2) - Mariana Greif/Reuters e Eduardo Anizelli/Folhapress

A disputa presidencial nos três estados mais populosos, dois sem segundo turno (MG e RJ), e um com (SP), será crucial para definir esta etapa final. Um exemplo: em Minas Gerais, Romeu Zema, apesar de sua proximidade com Bolsonaro e do antagonismo do Novo ao PT, agiu de forma pragmática ao passar todo o primeiro turno evitando declarar apoio explícito ao presidente em razão da alta popularidade de Lula. O petista venceu Bolsonaro em Minas Gerais, onde o governador, seu opositor, foi reeleito com grande parte dos votantes fazendo a dobradinha Lula-Zema.

Neste segundo turno, o governador mineiro terá liberdade para explicitar seu apoio a Bolsonaro sem que haja riscos eleitorais e/ou qualquer dano aos candidatos proporcionais do seu partido. Entretanto, a estrutura que mobilizava a campanha estadual já foi desmontada, o que reduz o potencial efeito desse endosso. Mas, de todo modo, o apoio de Zema, reeleito, será mais efetivo do que o apoio do derrotado Alexandre Kalil (PSD) para Lula.

No Rio de Janeiro, onde Cláudio Castro (PL) foi reeleito em primeiro turno e o bolsonarismo tem forte base social, sobretudo entre os evangélicos, a tendência é que Castro, do mesmo partido de Bolsonaro, faça agora todo esforço pela reeleição do atual presidente. O PT vai precisar buscar forças num contexto em que conseguiu fazer uma ampla aliança com o PSB de Marcelo Freixo, que incluiu até o PSDB, mas não conseguiu fazer frente à força do bolsonarismo junto aos fluminenses.

Em São Paulo, onde Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) estão no segundo turno, certamente ambos vão nacionalizar ainda mais o pleito local por dependerem de seus padrinhos políticos para maximizarem as suas chances de vitória. Resta saber qual será o comportamento do PSDB e do seu candidato derrotado, Rodrigo Garcia. Alvejado tanto por Haddad como por Tarcísio durante a primeira etapa, Rodrigo pode não se manifestar ou declarar apoio sem que se envolva diretamente em qualquer campanha. Rompido com o ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, o que levou o PSD a apoiar Tarcísio, o governador teria hoje mais motivos para ficar ao lado do PT do que se aliar ao bolsonarismo —o trauma do "BolsoDoria" ainda permanece vivo no ninho tucano.

Mas existe ainda um trunfo para o petista Haddad buscar o apoio de Garcia. Negociar com o PT do Rio Grande do Sul o apoio de Eduardo Leite (PSDB) no segundo turno contra Onyx Lorenzoni (PL). Isso resolveria dois problemas. Leite contaria com o apoio de peso do petista Edegar Pretto, terceiro colocado com uma margem apertadíssima. Assim, se o acordo for feito, Lula também teria um palanque importante na disputa gaúcha. Se isso não ocorrer, Bolsonaro terá palanque na disputa estadual, e Lula, não. Do lado do bolsonarismo, se não houver um movimento de aproximação com ACM Neto na Bahia, que disputa com o PT o segundo turno, Jair Bolsonaro, que é muito frágil eleitoralmente na região Nordeste, ficará sem palanque na sucessão baiana.

A disputa em São Paulo, o estado mais populoso do país, passa obrigatoriamente pelas eleições nacionais porque reflete diretamente o embate entre Lula e Bolsonaro e Tarcísio e Haddad. Todavia, o risco de a pauta nacional se sobrepor à local é inevitável. Isso contribui para reduzir o espaço do debate programático e traz, como tem sido praxe, não as propostas, mas os embates acusatórios, o que têm caracterizado estas eleições e não contribuem em nada para a democracia.

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