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Sergio Takemoto

Para Bolsonaro, Caixa não passa de arma de campanha

Banco precisa voltar à função principal de implementar programas sociais

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Sergio Takemoto

Presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae)

A recente revelação sobre os repasses feitos pela Caixa Econômica Federal ao município de Miracatu (SP), cidade onde cresceu Jair Bolsonaro (PL), é apenas mais um exemplo do uso político do banco pelo atual governo. Em véspera de eleições, a prática já virou costume do presidente —desde a propaganda massiva do programa Caixa para Elas, buscando apelar ao voto feminino, às últimas mudanças eleitoreiras no Casa Verde e Amarela, entre outros episódios. Para Bolsonaro, evidentemente, a Caixa não é o banco dos brasileiros, mas sim ferramenta de campanha.

É estarrecedor pensar que bastou uma visita do irmão do presidente, Renato Bolsonaro —então chefe de gabinete da Prefeitura de Miracatu—, à Caixa para serem liberados R$ 29,6 milhões. O valor é o dobro do que a cidade de 19 mil habitantes recebeu em 14 anos. Em 2021, o município vizinho de Registro, que tem o triplo de população, recebeu apenas 3,7% das verbas destinadas a Miracatu. É lamentável que uma instituição como a Caixa, sempre comprometida com o desenvolvimento do país, tenha sido usada para fins como esse.

Renato Bolsonaro (de branco), ao lado do irmão, o presidente Jair Bolsonaro (PL), durante evento no Vale do Ribeira, em São Paulo - Adriano Vizoni-3.set.20/Folhapress

O caso está longe de ser o primeiro exemplo de uso político da máquina pública por Bolsonaro. Com o anúncio do Auxílio Brasil de R$ 600, a Secretaria de Comunicação e ministérios alinharam postagens nas redes sociais para promover o benefício. A mesma estratégia foi empregada com o programa Caixa Para Elas, voltado ao público feminino e lançado logo após o ex-presidente do banco, Pedro Guimarães, ser acusado de assédio sexual. Enquanto o governo se preocupa com a crise de imagem, vale ressaltar, a apuração das denúncias completou mais de três meses sem nenhuma conclusão.

Só em agosto, pelo menos sete ministros —seis homens e só uma mulher— visitaram diversas agências para divulgar o Caixa para Elas. Trata-se de uma tentativa desesperada de reduzir a resistência das eleitoras contra Bolsonaro. Além disso, 47% das mulheres classificam o atual governo como ruim ou péssimo (BTG Pactual/FSB).

Outra política pública apropriada por Bolsonaro para fins eleitorais foi o Casa Verde e Amarela. Sem pudor algum, o governo dias antes do primeiro turno o uso de emendas parlamentares para quitar a entrada dos financiamentos habitacionais, praticamente transformando o programa num esquema de compra de votos. Isso depois do Executivo enviar ao Congresso Nacional proposta de Orçamento para 2023 cortando 95% dos recursos do programa. Melhorar as condições de vida da população, claramente, não é a prioridade.

Em vez de fortalecer o Casa Verde e Amarela para enfrentar o atual déficit habitacional de 6 milhões de residências (Fundação João Pinheiro), o governo achou uma melhor solução liberar o uso de depósitos futuros do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para a compra de imóveis pelo programa, a partir de ano que vem. Se o trabalhador perder o emprego, ele fica com a dívida e pode até perder a casa. Isso num momento em que a inadimplência bate recordes, com mais de 63 milhões de brasileiros negativados no país (CNC).

Em meio a todos esses anúncios, o governo não deu nenhum sinal de que se importa com aqueles que trabalham arduamente para colocar essas políticas de pé: os funcionários da Caixa. Enquanto nossos empregados trabalham com metas inviáveis, em condições muitas vezes precárias para entregar aos brasileiros políticas públicas fundamentais para o país, o governo ainda exige a presença deles em eventos políticos, como a convocação para os desfiles do 7 de Setembro —eventos agora estão sendo investigados pelo Tribunal Superior Eleitoral e Ministério Público Federal.

Como banco público, a Caixa tem como principal função implementar programas sociais que impulsionem o desenvolvimento e a qualidade de vida no país, de forma igualitária e inclusiva. Para Bolsonaro, no entanto, o banco não passa de arma eleitoral, uma instituição da qual pode usar e abusar de forma escancarada, seguindo apenas fins pessoais. Com urgência, precisamos nos unir para que a Caixa volte a servir apenas a quem ela realmente pertence: o povo brasileiro.

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