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Deslizes aéreos

Viajar às expensas de empresários não ajuda imagem de Lula e de ministros do STF

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O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após discurso na COP27 - Ahmad Gharabli/AFP

Na condição de presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está no centro das atenções e das expectativas —e do escrutínio e da cobrança— de um país que segue marcado por antagonismos políticos e dúvidas quanto ao futuro.

Nesse contexto, a viagem do petista e de seus convidados à COP27, no Egito, a bordo do jato particular do empresário amigo José Seripieri Filho, que foi alvo da Operação Lava Jato, foi um mau passo que não passaria despercebido. O episódio, revelado pela Folha, criou ruído, explorado por opositores, e provocou desconforto mesmo entre apoiadores.

De acordo com informações colhidas em círculos do entorno de Lula, o risco de repercussão negativa havia sido previamente detectado. Alertas foram emitidos e, como se viu, desconsiderados.

Também se alegaram dificuldades objetivas para o transporte, uma vez que não há verbas oficiais para custear despesas de um presidente eleito, e o PT não teria recursos para fretar um jato. Aventou-se ainda, segundo relatos, a possibilidade de pedir apoio ao atual governo, mas temeu-se, em caso de concordância, pela segurança —um receio que soa fantasioso.

Por fim, foi descartada a opção que parecia a mais adequada, recorrer a um voo comercial. Assim fez, aliás, a correligionária Dilma Rousseff, em novembro de 2010, quando compareceu a uma reunião do G20 na Coreia do Sul após vencer a disputa ao Planalto.

Por si só, o usufruto da aeronave por Lula não contraria formalmente a lei, ainda mais antes da posse. Mas decerto não ajuda a imagem de um futuro governante —e, no caso, um ex-presidente com pesada bagagem de casos rumorosos— aceitar favores generosos de detentores do poder econômico.

Na mesma direção, também não deve ser tomada como procedimento corriqueiro a viagem de cinco ministros do Supremo Tribunal Federal a Nova York, com direito a hospedagem, para participar de evento patrocinado pela Lide, organização comandada pelo empresário João Doria, ex-governador de São Paulo.

Mais uma vez, não se pode considerar que o fato em si demonstre favorecimento ou falta de isenção dos magistrados. Porém, uma hipotética decisão de Lula ou do Supremo que beneficie os citados empresários correrá sempre o risco de ser criticada à luz de uma suposta licenciosidade pregressa.

Trata-se, sobretudo, de valorizar a liturgia republicana de modo a não oferecer margem a interpretações, capciosas que sejam, sobre possíveis conflitos de interesses.

editoriais@grupofolha.com

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