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O que a Folha pensa mudança climática

Perdas e danos na COP27

Apesar de avanços em justiça climática, reunião no Egito falhou no principal

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Sessão plenária de encerramento da COP27, em Sharm el-Sheikh (Egito) - Sui Xiankai/Xinhua

A 27ª conferência dos países signatários da Convenção da ONU sobre Mudança Climática (COP27) terminou com dois dias de atraso, alguns avanços e estagnação no objetivo de frear o aquecimento global. O que mais importa ficou de novo para o ano que vem.

A reunião no Egito só escapou do fracasso porque os anfitriões lograram obter, na última hora, um acordo sobre o tema de perdas e danos. Criou-se um fundo para auxiliar nações vulneráveis a eventos climáticos extremos.

Países ricos queriam que constasse do texto a expressão "mais vulneráveis", o que no jargão das COPs excluiria países como o Paquistão, que sofreu neste ano enchentes calamitosas. Os mais desenvolvidos acabaram por ceder.

Mesmo assim, restam por definir os detalhes do fundo, como montantes destinados a cada parte. Cabe recordar que outra promessa, de US$ 100 bilhões anuais para países em desenvolvimento, jamais se realizou inteiramente.

De toda maneira, a negociação internacional sobre clima agora se apoia num tripé: além de mitigação e adaptação, esteios até aqui, desponta a reparação. Reequilibra-se a balança geopolítica entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, mas a vitória dos últimos no Egito pode revelar-se pírrica.

Os ricos argumentam que não haverá recursos no mundo para dar conta dos danos se a atmosfera seguir na trajetória atual de aquecimento de 2,8ºC sobre níveis pré-industriais, em lugar de 1,5ºC. E, nesse quesito, a COP27 não progrediu.

Havia a expectativa de que signatários da convenção aumentassem a ambição de suas contribuições para conter a emissão de gases do efeito estufa, ou seja, a mitigação do aquecimento global. Um dos raros anúncios veio da União Europeia: reduzir suas emissões em 57% (e não mais 55%) até 2030.

Embora o percentual exceda o esforço necessário do planeta para ter chance de ficar abaixo de 1,5ºC (cortar pela metade o carbono nos próximos oito anos), a diferença é diminuta. A cada ano fica mais evidente que tal objetivo está longe de ser alcançado.

Persiste o impasse da COP26, em Glasgow (Escócia): economias dependentes de combustíveis fósseis impediram um vislumbre, no texto egípcio, de um horizonte para a eliminação dessa matriz na produção energética global. Fala-se somente em redução, e mesmo assim apenas do carvão.

Dificilmente haverá ganhos nesse item na COP28, sediada em outro país petroleiro do Oriente Médio, Emirados Árabes Unidos. Assim, prosseguem as perdas da Terra.

editoriais@grupofolha.com

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