Se fosse um paciente sob cuidados médicos, seria possível dizer que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) chega ao último ano do governo Jair Bolsonaro (PL) respirando por aparelhos.
Afinal, ao longo da atual gestão, o sistema de avaliação definhou, foi contaminado por picuinhas ideológicas e padeceu com falhas logísticas e escassez de questões.
O exame de 2022, cuja primeira etapa será realizada neste domingo (13), recebeu somente 3,4 milhões de inscrições —o menor volume em 17 anos, e apenas uma sombra dos mais de 8,5 milhões de estudantes em 2016.
Ainda mais preocupante é a queda do número de concorrentes pretos, pardos e indígenas que, na avaliação do ano passado, alcançaram a menor proporção em dez anos, interrompendo um processo de aumento gradual da participação desses estratos sociais.
A pandemia decerto tem parte da culpa sobre esses números, mas o governo nada fez para atenuar o grave problema.
Pelo contrário. Em vez de investir na valorização do Enem, o Ministério da Educação se dedicou a interferir no conteúdo da prova, criando uma espécie de tribunal moral e ideológico destinado a censurar temas indigestos para o bolsonarismo. Também paralisou a produção de novas perguntas, fazendo com que, neste ano, parte das questões tivesse de ser reciclada.
Recuperar a credibilidade do exame e elevar o número de participantes precisa, portanto, constar entre as prioridades do novo governo. Esse, contudo, não é o único desafio pela frente.
Criado em 1998 e, desde 2009, a principal porta de acesso às universidades federais, o Enem deve ser remodelado em 2024 para atender às diretrizes da reforma do ensino médio, que busca dar maior flexibilidade a essa etapa e torná-la mais atraente e próxima do cotidiano dos estudantes.
O exame será no primeiro dia de provas, baseado nos conteúdos da formação geral da Base Nacional Comum Curricular, com ênfase em português e matemática. No outro, serão cobrados os assuntos específicos que o aluno escolheu cursar, dentre quatro opções.
Se tal processo for conduzido com expertise, o Enem poderá recuperar a vitalidade e cumprir a missão para a qual foi desenhado —uma prova que, apesar dos problemas, amparava-se em critérios técnicos e contribuía para aumentar o acesso ao ensino superior.
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