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Dúvidas no Butantan

Fundação sob investigação e saída de diretor exigem resposta do governo de SP

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Dimas Covas, ex-diretor do Instituto Butantan - Amanda Perobelli/Reuters

Ao longo de 121 anos de história, o Instituto Butantan alcançou reconhecimento internacional como centro biomédico de excelência, integrando pesquisas científicas e tecnológicas e produção de imunobiológicos em larga escala.

Mais recentemente, durante a pandemia, coube à entidade paulista o papel determinante de contrapor-se ao negacionismo do governo Jair Bolsonaro (PL), que desprezou a gravidade da doença e retardou a compra de vacinas.

Foi em grande parte graças aos esforços do Butantan que milhões de brasileiros se protegeram com a Coronavac, desenvolvida em parceria com uma farmacêutica chinesa.

Por tudo isso, causou espécie o ainda nebuloso pedido de demissão de Dimas Covas, diretor do instituto e um dos responsáveis pelo sucesso do imunizante no país.

A saída de Covas ocorreu após reportagem da Folha apontar que a Fundação Butantan —entidade privada também sob sua responsabilidade e que atua como braço administrativo do instituto— foi responsável por gastos com obras e salários considerados dispendiosos e contratos sem licitação.

O Tribunal de Contas do Estado investiga possíveis irregularidades em negócios firmados com uma empresa fornecedora de software em valores que somam R$ 161 milhões. O instituto nega ilicitude.

Outros números e valores também saltam aos olhos. O professor de medicina da USP assumiu ambas as entidades em 2017, quando a fundação tinha 1.327 empregados ante 663 servidores do instituto. Cinco anos depois são, respectivamente, 2.970 para 461.

Há estranheza ainda com a proposta de construir um edifício-garagem para os funcionários da fundação ao custo de R$ 140 milhões (orçado inicialmente por R$ 300 milhões) e remunerações espetaculares —como o caso de uma diretora admitida em 2017 com salário de R$ 7.267,64, mas que em agosto deste ano recebeu R$ 79.972,16.

Covas disse que não deixou o cargo em razão da investigação, mas para evitar o acúmulo de funções e para que pudesse poupar ambas as entidades de mudanças bruscas sob a gestão do futuro governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Em seus estertores, o governo Rodrigo Garcia (PSDB) deve de imediato jogar luz sobre as atividades da Fundação Butantan e colaborar com as investigações do TCE —ou estará sob risco de macular um período significativo da trajetória de um orgulho da ciência nacional.

editoriais@grupofolha.com

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