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João Camargo

Lula merece o crédito dos empresários

Algum setor perdeu dinheiro nos outros dois mandatos?

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João Camargo

Presidente do grupo Esfera Brasil e do Conselho da CNN Brasil

O empresariado brasileiro tem a obrigação de apoiar o governo do presidente eleito. É uma obrigação cívica e moral. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito num processo justo, transparente, reconhecido internacionalmente. Seu sucesso será o sucesso do Brasil. O empresário que afrontar essa lógica estará agindo contra a coletividade e contra seus próprios interesses.

O apoio a Lula não deve se limitar à retórica. Deve ser efetivo, consequente, impactante. O país atravessa um momento político delicado, que demanda um esforço em prol da unificação —e nada mais óbvio do que cerrar fileiras em torno daquele que, afinal, venceu as eleições. O Brasil não pode mais se permitir brincar com a polarização ideológica, um jogo perigoso com desdobramentos imprevisíveis.

Convido meus pares a atentarem para a dimensão histórica deste período de transição, o mais relevante de nossa jovem democracia. Que os membros das classes produtoras possam no futuro contar com orgulho a seus netos que em 2022 estiveram do lado certo da história.

Lula merece um voto de confiança dos empresários. Desafio qualquer liderança a vir a público para dizer que seu setor perdeu dinheiro durante os dois mandatos do petista. Isso não aconteceu. Ao contrário, todos ganharam. É por isso que não hesito em tachar de antidemocráticos aqueles que fazem manifestações em frente aos quartéis ou bloqueiam estradas demandando "intervenção federal", um eufemismo capenga para pedir a ação militar que não virá, graças ao discernimento e à responsabilidade da mais alta hierarquia das casernas.

Lula merece crédito sim, sobretudo porque se trata de um político bem mais maduro desde que ocupou o Palácio do Planalto. É mais experiente e se mostra mais aberto ao diálogo, como está evidente já a partir da composição partidária que o apoia, que vai do militante de esquerda ao economista liberal.

Não temos mais espaço para erros. O brasileiro escolheu Lula, e o empresariado, insisto, precisa apoiar e fazer o que estiver ao seu alcance para que seu governo seja exitoso, inclusive pedindo ao Congresso para viabilizar a adoção das políticas sociais do presidente eleito.

A PEC da Transição precisa ser aprovada pelo Parlamento, de maneira a garantir, por quatro anos, o Bolsa Família com renda de R$ 600 fora do teto dos gastos. Num cenário desolador como o atual, em que o Brasil voltou ao mapa mundial da fome, seria desumano qualquer decisão que colocasse em risco a segurança alimentar do brasileiro. Tentar colocar uma espada sobre o pescoço do futuro presidente, negando-lhe esse mínimo, seria atentar não contra ele, mas contra a parcela mais vulnerável da nossa sociedade.

Torcer contra o sucesso de Lula é torcer contra o Brasil. Ele, o PT e a ampla coligação não perderiam sozinhos —perderíamos todos nós. Se Lula errar, nossa obrigação será apontar o erro e cobrá-lo, claro. Mas, antes disso, temos que fazer o que for possível para minimizar a possibilidade de erro.

Novos governos, por tradição, desfrutam de uma lua de mel de cem dias a partir da posse, período em que a oposição e a imprensa dão uma chance ao novo mandatário para mostrar a que veio. As circunstâncias políticas exigem a antecipação desse interlúdio. O novo governo não será do PT, mas do Brasil.

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