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Americanas em queda

Rombo bilionário em uma das maiores varejistas do país precisa ser esclarecido

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Facha de loja Americanas, no Rio de Janeiro (RJ) - Tércio Teixeira/Folhapress

Com o comunicado ao mercado de que foram encontradas inconsistências —palavra que pode se revelar um eufemismo— contábeis de incríveis R$ 20 bilhões no balanço, as ações da varejista Americanas caíram 77% em um único dia.

A quantia é assombrosa ante o patrimônio líquido, de cerca de R$ 14,7 bilhões em setembro. Embora esclarecimentos feitos até agora indiquem que não haverá impacto relevante do ajuste contábil no fluxo de caixa, há outros riscos.

Além do dano na imagem, a crise pode levar ao rompimento de clausulas de endividamento, redução de novos financiamentos por fornecedores e exigência de ação rápida por parte dos bancos.

Negociar vencimentos com credores, minimizar a necessidade de recursos de curto prazo e até aumentar o capital estão no cardápio de medidas de contenção. Em situações desse tipo, sobretudo quando há viabilidade e solvência da empresa, a tendência dos bancos é rolar os empréstimos.

O episódio ainda é cercado de sombras. O CEO da empresa, Sergio Rial, ex-presidente do Santander, que ficou apenas 10 dias no cargo, renunciou no momento da revelação do rombo. Não se sabe como a nova gestão identificou em tão pouco tempo o problema, ainda de dimensão imprecisa. Tampouco está claro desde quando se processa tal conduta contábil —o prazo pode chegar a anos.

De certo, até agora, apenas o dano para a companhia, que já vinha sofrendo com alto endividamento e margens apertadas num setor competitivo e em contexto de juros e inadimplência elevados que limitam o dinamismo do varejo.

A forma do anúncio e a conferência com investidores, fechada ao público, suscitaram críticas. Transparência é requisito básico para restaurar credibilidade. Cabe às autoridades, como a Comissão de Valores Mobiliários, que regula o mercado de capitais, investigar e punir eventual má conduta.

Além de compreender como um desvio dessa dimensão foi possível, é necessário avaliar as responsabilidades do corpo executivo e dos auditores renomados que tinham o dever de identificar o problema.

Ademais, a partir das movimentações com o papel nos dias que antecederam o anúncio, aventa-se o uso de informações privilegiadas —o que suscita análises da CVM.

Pode ser difícil reunir evidências claras nesse caso, mas é fundamental que haja amplo escrutínio das transações e, se necessário, punições firmes que não se limitem apenas a multas simbólicas.

editoriais@grupofolha.com

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