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Programas criadores de textos que imitam humanos exigem atenção, não alarmismo

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Montagem tem seis ilustrações coloridas de robôs entrevistando uns aos outros
Ilustração criada pelo Dall-E, programa de inteligência artificial da empresa OpenAI, que desenvolveu o ChatGPT - Dall-E

A inteligência artificial, mais exatamente a IA generativa, surge como bode expiatório da vez na seara das novidades tecnológicas. Há razões para temer desvios com programas capazes de gerar textos que parecem escritos por humanos, não tanto, porém, para pânico.

Tecnologias inovadoras sempre despertaram desconfiança. Foi assim com rádio e TV, transplantes de órgãos, computadores, fertilização in vitro, telefones celulares, manipulação genética etc. Contudo, a seu tempo, todas foram assimiladas —em alguns casos apoiadas sob regulamentação necessária.

Com a velocidade crescente de disseminação, a reação inicial costuma revestir-se de alarmismo.
No caso da IA em questão, a polêmica começou no final de 2022, quando a empresa OpenAI —apoiada pela Microsoft— disponibilizou o acesso gratuito ao seu programa ChatGPT, colocando assim um gerador de textos nas mãos de qualquer pessoa conectada. Concorrentes já estariam em aquecimento para adentrar na competição que se afigura bilionária.

Não demorou para o recurso ser empregado por estudantes e pesquisadores na confecção fraudulenta de trabalhos intelectuais. Trata-se de variedade sofisticada de plágio, afinal o programa se vale do que já existe na rede mundial para articular conteúdos emulando de modo convincente a linguagem humana natural.

Instituições acadêmicas já providenciam formas de contenção dos desvios, como novas modalidades de avaliação e algoritmos para detectar escritos de máquinas. Nada tão diverso do desafio que já enfrentam com o copia e cola a partir de mecanismos de busca.

Outra maneira de encarar a IA direciona o foco para suas potencialidades. Ela pode liberar mentes humanas de uma série de tarefas tediosas para dedicarem mais tempo àquilo em que brilham: exame de particularidades para criar soluções impensadas e tomar decisões adequadas a cada caso.

Entre as aplicações mais promissoras se encontram diagnósticos e relatórios médicos, pareceres jurídicos, geração e correção de códigos para softwares, compilação de dados e assim por diante. Não haveria motivo para tolhê-las com interdições paternalistas.

Dito isso, é legítima a preocupação com distorções da tecnologia, como facilitar a viralização de notícias falsas e a difusão de programas para infectar computadores.

A prevenção de malefícios, como de hábito, se fará com controle social, autorregulamentação, regulação e responsabilização judicial dos abusos. Nada de novo sob o sol.

editoriais@grupofolha.com

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