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De volta à ciência

Após corrosão obscurantista, pasta da Saúde começa a trilhar o caminho da razão

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Nísia Trindade, ministra da Saúde - Eduardo Anizelli/Folhapress

O governo Jair Bolsonaro (PL) foi tão retrógrado em relação a pontos básicos do pacto civilizatório que sucedê-lo implica enfrentar duas agendas, a simbólica e a administrativa. Nísia Trindade, ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz e atual ministra da Saúde, não terá dificuldades com a primeira.

A saúde foi um dos setores que mais sofreram sob o bolsonarismo. Se a pandemia de Covid-19 já causou forte impacto mesmo sobre sistemas que responderam racionalmente à crise, os efeitos foram devastadores sobre aqueles que a enfrentaram com negacionismo e pensamento mágico, como foi o caso do governo brasileiro.

Trindade não precisa mais do que revogar diretrizes insensatas da administração anterior —como autorizar prescrição de cloroquina e ivermectina— para recolocar a pasta na trilha da ciência.

A agenda simbólica não se esgota na pandemia. Bolsonaro direcionou seu ranço ideológico para outros temas, como o aborto legal e o tratamento de dependências químicas e de transtornos mentais.

Revogar decretos, portarias e normas técnicas mais representativos do pensamento reacionário do ex-presidente é um imperativo, ao qual Trindade muito corretamente já se dedica.

É a agenda administrativa, entretanto, que reserva os verdadeiros desafios. Dois problemas merecem especial atenção. O primeiro é remanejar o orçamento do ministério para manter em funcionamento o Farmácia Popular —que facilita o acesso da população a medicamentos para tratar doenças muitas delas crônicas, como hipertensão arterial, diabetes e Parkinson.

Retirar verbas do programa foi mais um dos desatinos do governo passado contra a saúde. Vale lembrar que o gasto público para fornecer fármacos a baixo custo é bem menor do que tratar complicações de pacientes que deixam de tomar seus remédios.

Também são urgentes as medidas em relação ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), cujos índices de cobertura vêm caindo de modo preocupante.

O discurso antivacina de Bolsonaro de fato não ajudou, mas deve-se salientar que o fenômeno teve início em mandatos presidenciais anteriores, e está mais relacionado a questões práticas do que a posicionamentos ideológicos.

A boa notícia é que um programa-piloto para enfrentamento do problema obteve resultados positivos na Paraíba e no Amapá e pode, em princípio, ser expandido.

Ao anunciar que Farmácia Popular e PNI serão prioridades, Trindade inicia com acertos sua gestão.

editoriais@grupofolha.com

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