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Priscilla Bacalhau

Jovens por trás dos números

É preciso trazer as desigualdades para o centro do debate educacional

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Priscilla Bacalhau

Consultora de impacto social e pesquisadora do FGV/EESP Clear

Os jovens que concluíram o ensino médio no ano passado têm agora a oportunidade de começar uma nova etapa de suas vidas. Os quase 2,5 milhões que fizeram as provas do último Enem poderão participar da próxima edição do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), que deve ocorrer em fevereiro, e, assim, dar os próximos passos rumo a uma graduação.

O que o número de possíveis futuros universitários não mostra é quem está ficando para trás. Centenas de milhares de jovens não têm o direito de sonhar com uma faculdade. O abandono escolar na transição do ensino fundamental para o médio e ao longo desta última etapa da educação básica é um problema antigo e conhecido por educadores e pesquisadores. Iniciativas como entender o que os jovens esperam da escola, investir em busca ativa, reformulação de currículos e ensino integral são medidas que há anos vêm sendo exploradas para combater esse problema.

Candidatos chegam a unidade da Unip em Campinas (SP) para o segundo dia de provas do Enem - Luciano Claudino - 20.nov.22/Código 19/Agência O Globo

Os anos de pandemia, contudo, trouxeram um aumento de crianças e jovens fora da escola e, como tantos aspectos neste país, isso ocorre de maneira desigual. São jovens que não têm seu direito constitucional de receber uma educação de qualidade garantido. Estes jovens estão também excluídos dos principais indicadores de qualidade da educação, como o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que não considera aqueles que estão fora da escola.

A queda no número de inscritos no Enem, que é hoje a principal porta de entrada do ensino superior no Brasil, vem ocorrendo desde 2018. Para se ter ideia, a média de inscritos entre 2013 e 2017 foi de quase 8 milhões, mais que o dobro dos inscritos nos últimos dois anos. Os fatores para essa queda tão vertiginosa não recaem apenas na pandemia: descrédito do exame, falta de informação sobre o processo seletivo e sobre os maiores salários de quem faz graduação, necessidade de entrada imediata no mercado de trabalho e programas de financiamento limitados, entre outros.

Esses fatores não afetam a população da mesma forma. O número de estudantes pretos, pardos e indígenas inscritos no Enem 2021 caiu quase 50% em relação a 2020, frente à queda de 32% de estudantes brancos. Além da desigualdade racial, jovens em situação mais vulnerável não têm as mesmas oportunidades que os demais e são mais afetados por fatores socioeconômicos.

É preciso trazer as desigualdades para o centro do debate educacional. Como disse o presidente Lula em seu discurso de posse, o combate a todas as formas de desigualdade deve ser prioridade. Cabe às políticas educacionais garantir a equidade de oportunidades e de acesso a uma educação de qualidade, independentemente da raça e da renda.

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