Desde que ficou claro que a invasão russa da Ucrânia não seria o passeio imaginado pelo Kremlin há 11 meses, os Estados Unidos viram uma oportunidade de confrontar a agressividade de Vladimir Putin sem necessariamente arriscar uma Terceira Guerra Mundial.
Ao lado dos aliados europeus mais beligerantes, Reino Unido e Polônia à frente, Washington liderou o esforço ocidental para manter vivas as Forças Armadas de Kiev. Até aqui, gastou US$ 26,7 bilhões, mais de 65% do total da ajuda militar global aos agredidos.
Dadas as reiteradas ameaças de Putin acerca desse apoio, a maioria delas de natureza nuclear, os países do clube militar da Otan testaram paulatinamente novos níveis de auxílio aos ucranianos.
Primeiro vieram mísseis antitanques e antiaéreos portáteis, depois obuseiros e sistemas de artilharia com foguetes de precisão. Mas nada de armas que pudessem ser vistas como ofensivas e não defensivas por Moscou, como aviões de combate e tanques de guerra.
Pesava também a cautela de membros mais musculosos da Europa, notadamente a Alemanha do reticente premiê Olaf Scholz.
Além do temor de escalada, houve ali fatores domésticos: a economia se desconectou aos poucos da dependência que tinha de gás russo, e a opinião pública se mostra refratária a envolvimentos bélicos do país que legou o militarismo prussiano e o nazismo ao mundo.
Com a crescente pressão dos EUA, a Alemanha aquiesceu e concordou em não só enviar seus tanques Leopard-2 para Kiev mas também permitir que os operadores do ubíquo modelo, usado por 12 países europeus, fizessem o mesmo.
Como sinal de comprometimento, Washington prometeu 31 tanques Abrams, o mais potente do mundo. Nada disso, nos números anunciados, deverá mudar a dinâmica da guerra no médio prazo. São meses para preparar os blindados e treinar os militares que os usarão.
Isso dito, do ponto de vista político é mudança central, que deixa aberta a porta para incrementos no apoio armamentista, por óbvio elevando o risco de reação russa.
Talvez mais importante, o número ora comedido de blindados sugere que os aliados da Ucrânia querem manter os russos pressionados, sem contudo ofertar alguma chance decisiva a Kiev, levando assim a negociações de paz.
Hoje, isso é impensável para todos: os ucranianos não querem ceder mais território e Putin tem tido alguns ganhos após meses de más notícias, o que deve levar a grandes batalhas quando o inverno do Hemisfério Norte arrefecer.
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