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Bolsonaro de volta

Ex-presidente tem recepção fria, mas mantém potencial de líder da oposição

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Homem mexendo no celular
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no avião que o trouxe de volta ao Brasil - Anna Virginia Balloussier/Folhapress

Não foi o retorno apoteótico que Jair Bolsonaro sem dúvida almejava. No aeroporto de Brasília, onde o ex-presidente desembarcou, um esquema de segurança da Polícia Federal desmobilizou a maioria de seus apoiadores; na sede de seu partido, o PL, a concentração de pessoas não passou de irrisória.

Há bons motivos para a frieza na recepção. A viagem aos Estados Unidos, realizada antes de o mandato acabar e com o propósito mesquinho de evitar a passagem da faixa presidencial, soou mal entre seus eleitores moderados.

Os ataques tresloucados de 8 de janeiro ampliaram a fadiga com o radicalismo, enquanto os 89 dias que Bolsonaro passou em solo americano arrefeceram os ânimos de seus correligionários fervorosos.

Se existe algum simbolismo nessa chegada melancólica, ele diz pouco sobre o futuro de Bolsonaro. Dono de capital eleitoral imenso, ele ainda se apresenta como o principal nome da direita nacional.

Daí por que merecem ser tomadas com um grão de sal as suas declarações sobre a liderança da oposição. O ex-presidente até pode tergiversar quanto a isso e fingir que esse papel não lhe compete, mas seu plano de viajar pelo país indica a intenção inequívoca de galvanizar bolsonaristas Brasil afora.

Será uma situação inédita, porque ex-moradores do Palácio do Planalto sempre se mantiveram a uma distância respeitosa e protocolar do dia a dia oposicionista.

Quebrar protocolos é uma das marcas do bolsonarismo. Mesmo na Presidência da República, Bolsonaro fez questão de ignorar regras e desrespeitar liturgias, apenas para lapidar sua identidade de personagem antissistema.

Por baixo desse verniz, contudo, Bolsonaro não se diferencia de tantos outros políticos: desfruta vantagens de ex-deputado, receberá R$ 39.293 para assumir a presidência de honra do PL e acumula problemas em série na Justiça.

Contam-se, só no Supremo Tribunal Federal, seis inquéritos que podem resultar em ações criminais. No Tribunal Superior Eleitoral, há 16 processos em curso, os quais podem tornar Bolsonaro inelegível. De quebra, mais de uma dezena de investigações sobre o ex-presidente tramitam na primeira instância judicial —e nesses números nem se considera o valioso mistério das joias da Arábia Saudita.

Vêm daí, e não da recepção esvaziada ou das declarações de Bolsonaro, as incertezas quanto a seu futuro. Incertezas essas que, aliás, não se estendem ao bolsonarismo, corrente que parece capaz de se manter forte por muito tempo.

O bolsonarismo até poderia, se abandonasse a violência e o autoritarismo, liderar uma oposição saudável ao PT. Esse não é, infelizmente, o desfecho mais provável.

editoriais@grupofolha.com

Erramos: o texto foi alterado

Por erro da Redação, foi publicada uma versão anterior deste editorial, com uma conclusão diferente da aprovada para a edição impressa. O texto foi corrigido.

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