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O pior da politicagem

Reações levianas a apuração da PF vão do bolsonarismo a fala desastrada de Lula

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Evaristo Sá/AFP

A revelação de que a Polícia Federal investiga um plano de ataques do crime organizado a autoridades é fato grave, que merece resposta rigorosa das instituições. Na reação do mundo político, porém, prevaleceram o oportunismo rasteiro e afirmações levianas, encabeçadas por ninguém menos que o presidente da República.

Na quarta-feira (22), a PF cumpriu 24 mandados de busca e apreensão, 7 de prisão preventiva e 4 de prisão temporária em São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Rondônia, tendo prendido ao menos nove pessoas. A operação, pelo que foi divulgado, mirava esquema articulado pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

De acordo com a apuração, estavam entre os alvos do PCC o promotor Lincoln Gakiya, que atua em investigações sobre a facção, e o ex-juiz da Lava Jato, ex-ministro da Justiça e hoje senador Sergio Moro (União Brasil-PR).

Para azar de Lula, a ação policial ocorreu logo depois de mais uma de suas declarações impensadas. Em entrevista na véspera ao site governista Brasil 247, o presidente usara uma palavra de baixo calão ao contar que quando estava preso falava em retaliar Moro, responsável por sua condenação, posteriormente anulada.

De modo tão previsível como irresponsável, a coincidência foi explorada pela oposição bolsonarista. O próprio Jair Bolsonaro (PL), que nunca teve pudores em espalhar mentiras e teses estapafúrdias, tratou de estimular as hordas por meio das redes sociais.

"É vil, é leviana, é descabida qualquer vinculação desses eventos com a política brasileira. Fico espantado com o nível de mau-caratismo de quem tenta politizar uma investigação séria", declarou o ministro Flávio Dino, da Justiça, pasta que abriga a Polícia Federal.

Dino estava coberto de razão, mas decerto não imaginava que seu chefe levaria a baixeza adiante. Na quinta-feira (23), questionado sobre a operação, Lula saiu-se com a afirmação de que tudo —a apuração da PF, as prisões e os riscos para um promotor, um senador e outros servidores— não passaria de "uma armação do Moro".

Difícil saber se o líder petista deixou-se tomar pelo ressentimento, se tenta explorar as vantagens que a polarização ideológica lhe proporciona ou alguma outra hipótese não abonadora. Fato é que se tornou protagonista de uma espiral de politicagem em torno de tema que deveria ser tratado com máximo cuidado e seriedade.

Já Moro, assim que veio à tona a operação policial, tratou de reapresentar projeto de lei para tornar crime o planejamento de ataque a autoridades que atuam no combate ao crime organizado. Momentos de comoção não são os melhores conselheiros quando se debatem políticas de segurança.

editoriais@grupofolha.com

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