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O que a Folha pensa LGBTQIA+

A força do autocrata

Mesmo contra inflação e oposição, Erdogan vai ao 2º turno com chances na Turquia

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Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia que disputa reeleição - Adem Altan / AFP

Pesquisas de opinião indicavam que o autocrata Recep Erdogan, no poder há 20 anos, poderia perder a eleição turca no primeiro turno. Entretanto ele obteve o primeiro lugar com 49,5% dos votos, ante 44,9% de seu principal opositor, Kemal Kilicdaroglu, centrista, a favor do Estado laico e europeizante.

Não é improvável que, no segundo turno, Erdogan conte com a maioria dos eleitores do terceiro colocado, Sinan Ogan, de ultradireita. Caso vença no dia 28, o premiê de 2003 a 2014 conquistará seu terceiro mandato como presidente, com maioria no Parlamento.

Uma inflação de 44% ao ano e a rara coalizão de seis partidos de Kilicdaroglu pareciam ameaçar mais o líder autoritário —que está desgastado, mas nem tanto.

Ele venceu em 2014 com 51,8% e em 2018 com 52,6%. Desta vez, perdeu nas províncias da costa do Mediterrâneo, em Istambul, na capital, Ancara, e no leste curdo. Venceu entre os mais pobres, os religiosos e no interior mais rural.

Depois de enfrentar uma tentativa de golpe, em 2016, Erdogan promoveu expurgos nas Forças Armadas, na alta burocracia e na Justiça; aprovou leis que facilitam prisões de jornalistas. Controla a mídia estatal e veículos privados, de empresários amigos.

Na campanha, recorreu a reajustes salariais e tornou a previdência social mais generosa. Chamado de "neo-otomano", em oposição aos princípios da República laica fundada em 1923, faz propaganda da ideia de Turquia-potência.

Dá indícios de que pode reforçar a tendência pró-religiosa, islâmica, de seu governo —sob o qual mulheres puderam voltar a usar lenços na cabeça em repartições públicas, um tema importante no país.

Diz que a oposição se subordina ao Ocidente, ao FMI e a "terroristas" curdos, que aprovará direitos LGBTQIA+ e é inimiga da família.

O nacionalismo conservador de Erdogan parece ter apoio firme de parte da população, como se nota por seu desempenho em eleições consideradas livres, mas injustas, dados o poder excessivo do presidente e prisões de adversários.

Menos se nota que, apesar da inflação, da heterodoxia econômica e do risco de iminente crise externa, a economia teve crescimento expressivo desde 2003.

A renda per capita cresceu 122%, ante não mais de 27% no Brasil. Os turcos têm hoje o dobro do poder de compra dos brasileiros. Em 2022, a economia cresceu 5,6%. Em uma geração, o nível de vida no país mudou de patamar.

Com o prestígio do nacionalismo religioso, de guerras culturais e do "homem forte", um expoente internacional da autocracia pode conseguir mais uma vitória.

editoriais@grupofolha.com.br

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