Dos 12 países da América do Sul, 9 têm hoje governos à esquerda. Alguns dos atuais presidentes tiraram partidos de direita ou de centro-direita do poder. Foi o caso de Pedro Castilho no Peru e Gabriel Boric no Chile, em 2021, e do colombiano Gustavo Petro e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.
Já o Paraguai, com eleições concluídas no domingo (30), deu continuidade à gestão conservadora do Partido Colorado, que comanda o país há quase 70 anos, desde a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). Assim, apenas três países estão à direita na região, somando-se Equador e Uruguai.
O economista Santiago Penã obteve 42,7% dos votos, contra apenas 27,5% do advogado Efraín Alegre, do Concertación Nacional, uma grande coalizão de centro-direita, centro e centro-esquerda.
Apesar da ligação com o período ditatorial, contudo, o partido de Penã não era a opção mais radical.
O candidato Paraguayo Cubas, do Cruzada Nacional, é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o aborto mesmo em caso de estupro e a presença de estrangeiros no país —em 2019, teve o mandato de senador cassado por defender a morte de 100 mil brasileiros que vivem ali.
Mesmo assim, conseguiu 22,9% dos votos. Ademais, seu partido, que disputou um pleito pela primeira vez, elegeu cinco senadores e cinco deputados.
Com discurso agressivo, nacionalista e antissistema, Cubas é comparado a Jair Bolsonaro (PL). Assim como o ex-presidente brasileiro, refutou o resultado das urnas. Um dia após as eleições, protestos obstruíram ruas com denúncias de uma fraude fantasiosa. Ao menos 74 pessoas foram presas.
O Paraguai optou por uma direita institucionalizada, mais previsível e sem laivos disruptivos.
Peña terá grandes desafios pela frente. A informalidade no trabalho é altíssima (64%; no Brasil, 39%); há desigualdade no acesso a serviços básicos; a inflação subiu a 8% no ano passado, mesmo com estagnação da economia; no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano, o país ocupa a 105ª posição entre 189 países (Brasil é o 87º).
A polarização política, com o despontar de uma direita radical, se mantém no Paraguai —assim como em outros países das Américas. O eleitorado favoreceu o respeito às instituições, o que é obviamente positivo, mas a alternância no poder é também fundamental para a saúde da democracia.
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