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Arnaldo Niskier

Como descomplicar o nosso idioma?

Diplomacia é determinante na união lusófona

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Arnaldo Niskier

Doutor em educação, é professor, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL); presidente do Centro de Integração Empresa-Escola do Rio de Janeiro (Ciee/RJ)

Temos mais de 300 milhões de pessoas no mundo utilizando, como ferramenta de trabalho, a nossa querida língua portuguesa. A preocupação da Comissão de Lexicografia e Lexicologia da Academia Brasileira de Letras, hoje presidida pelo especialista Evanildo Bechara, tem sido a sua descomplicação. A esse empenho se juntam hoje o recém-eleito Ricardo Cavaliere e a competente imortal Ana Maria Machado.

Há temas que são verdadeiros desafios, como a discussão sobre a conveniência de adoção da linguagem neutra (todos, todas, "todes"), o emprego crescente da educação a distância, a incorporação do verbete "Pelé" ao dicionário oficial e o destino do Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa —muito criticado em algumas nações lusófonas, como é o caso de Angola.

São imprecisos os limites entre a norma culta e a linguagem popular. Ser moderno não é só adotar procedimentos de filmes, revistas, jornais e programas de televisão, como se faz em certas partes do Rio de Janeiro. Há um claro desejo de imitar o inglês, primeira língua de mais de 500 milhões de pessoas.

Felizmente, temos preciosos guardiões do nosso idioma, como os compositores Gilberto Gil, Caetano Veloso, Martinho da Vila, Noca da Portela e o premiado Chico Buarque, que recentemente fez um lindo discurso em Lisboa. Criticou os titubeios do governo federal passado, sobretudo no campo cultural.

É claro que desejamos ampliar os laços que nos ligam à Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa (CPLP), como tem se referido continuamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Sabe-se que só 3% dos 350 mil verbetes registrados no Vocabulário Ortográfico de Língua Portuguesa são escritos da mesma forma, o que merece uma ampla e contundente revisão. Eis aí um maravilhoso pretexto para a ação decisiva da nossa diplomacia, com o necessário trabalho em favor da sonhada unificação. O Itamaraty, numa nação que nem é tão rica assim, está empenhado em emprestar dinheiro aos povos necessitados. Não seria o caso de uma ação cultural mais expressiva?

A modalidade da educação a distância (EAD), em grande expansão no mundo, pode ser um precioso instrumento de harmonização de procedimentos. Está na hora de somar esforços nesse sentido.

Quando vem à tona o nome do inesquecível Pelé, pensamos se não é um verbete que uniria as nações lusófonas. O Dicionário Michaelis saltou na frente. Sugerimos acompanhar a bela iniciativa.

Queremos nos deter um pouco mais sobre essa homenagem ao craque. Ouvi de um acadêmico que não concordava com a ideia, "pois com o tempo o nome de Pelé poderia ser esquecido". Argumento furado, pois a história sempre ligará o nome do atleta do Santos aos títulos conquistados pelo Brasil com a sua ajuda e os gols inesquecíveis do "Rei do Futebol".

De toda maneira, este artigo está sendo feito em defesa da língua portuguesa e do seu futuro. A união lusófona é, politicamente, uma ideia altamente defensável e oportuna. A nossa diplomacia tem aí um belo campo de trabalho.

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