Descrição de chapéu
Bianka Vieira

Lula, a Venezuela e o lugar do pobre na diplomacia

Pouco do esforço do Itamaraty é traduzido com clareza à população leiga

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Bianka Vieira

Repórter em Brasília

Horas após se sagrar vencedor nas eleições de 2022, Lula (PT) fez o seu primeiro discurso como presidente eleito e endereçou ao mundo o recado de que o Brasil estava de volta. O bordão, que viria a ser repetido sucessivas vezes, indicava o seu desejo de protagonizar uma agenda internacional.

Com o fim da turbulenta passagem de Ernesto Araújo pelo Palácio do Itamaraty, a diplomacia brasileira voltou aos eixos, e o Brasil que se conhecia no campo das relações externas também voltou. Mas talvez uma parte significativa dos brasileiros não saiba disso.

O presidente Lula no Palácio do Itamaraty, em Brasília, sede do Ministério das Relações Exteriores - Pedro Ladeira - 15.jul.2024/Folhapress

Enquanto diplomatas equilibram pratos cobrando transparência no processo eleitoral venezuelano ao mesmo tempo em que tentam manter um canal de diálogo com o regime de Nicolás Maduro para evitar uma ruptura desastrosa, pouco desse esforço é traduzido com clareza à população leiga.

O brasileiro pobre pode não saber falar francês e espanhol para concorrer ao Instituto Rio Branco, mas certamente está interessado no que se passa além de nossas fronteiras —prova disso é a sua sensibilidade à ideia de que o Brasil pode se tornar uma Venezuela a qualquer instante.

O país só teria a ganhar se soubesse transmitir, didaticamente, o valor que sua diplomacia tem. Quantas crianças de escolas públicas não poderiam sonhar em um dia se tornar diplomatas se assim o fosse?

Para oportunistas, o vácuo informacional é a oportunidade perfeita. A postura vacilante de Lula ao dizer que "não tem nada de anormal" na Venezuela, certamente mais "compartilhável" do que o seu discurso no Chile nesta segunda-feira (5), não faz jus à realidade nem aos esforços diplomáticos.

O presidente se vê obrigado a sopesar a orientação do Itamaraty, a vontade de seu partido e as reações de um ditador extremamente sensível a qualquer comentário desabonador. Como isso chegará aos ouvidos da população será determinante para o retrato de sua política externa neste mandato.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.