Amigos criam 'festival da vizinhança' com roteiro itinerante; veja histórias do Dia do Amigo

Leitores mandaram relatos para a data, celebrada neste sábado (20)

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São Paulo

​Neste sábado (20) é comemorado o Dia do Amigo. 

​A data tem origem na vizinha argentina e coincide com um evento histórico importante que completa 50 anos neste sábado: a chegada do homem na lua.

O criador foi o argentino Enrique Ernesto Febbraro. Em 20 de julho de 1969, enquanto observava o pouso da Apollo 11 na superfície lunar, teve a ideia de celebrar a amizade. 

Febbraro foi um polivalente psicólogo, doutor em filosofia, professor de história, músico e locutor e estava animado com o feito americano. 

Resolveu escrever uma carta para justificar sua ideia e mandou para mil pessoas de 100 países diferentes. 

"Vivi a alunissagem como gesto de amizade da humanidade no universo e ao mesmo tempo tenho que um povo de amigos seria uma nação imbatível. O 20 de julho é o dia escolhido", escreveu Febbraro.

A Folha quer celebrar a amizade com seus leitores. Pedimos ao longo da semana que enviassem a melhor história com seus melhores amigos. Confira os relatos.

"Moro em Curitiba há 24 anos, mas sou natural de Porto Alegre (RS), onde o fato aconteceu. O nome do meu amigo era Alfredo Canabarro Neto, de Santana do Livramento (RS). Hoje, sou escritor e escrevo sob o pseudônimo de Jardel Lundi. Devo a minha descoberta da literatura a ele, uma dívida que considero impagável. 

Na década de 1950, eu era muito pobre e morava num cortiço com minha mãe e irmã. A nossa era a última casinha (com três cômodos pequenos) do longo terreno que tinha um único banheiro para atender várias famílias. A casa que antecedia a nossa abrigava a família Canabarro (um casal e cinco filhos), recém vinda do interior do estado. 

A minha amizade com Alfredo começou através do jogo de xadrez. Quando eu retornava da escola, na passagem, via-o jogando com o pai, um delegado de polícia aposentado. Colocavam o tabuleiro sobre um baú de madeira, coberto com uma toalha, a um canto da sala, que ficava quase todo tempo com a porta aberta. Eu parava e ficava olhando, curioso. Conforme nossa amizade foi crescendo, Alfredo e o pai me ensinaram a jogar xadrez. Com o tempo formou-se um grupo de moleques da rua reunidos na casa de Alfredo para jogar. 

Um dia, intrigado, perguntei a Alfredo o que continha no pesado baú. Ele ergueu a tampa e fiquei fascinado: livros, dezenas de livros. Era o meu primeiro contato com livros que não fossem os escolares. Perguntei se podia ler alguns. Alfredo respondeu-me que os livros eram do pai e que este era muito zeloso com eles. 

Um dia, como estávamos os três reunidos em volta do baú, Alfredo perguntou ao pai, com muito tato, se eu podia ler alguns. Seu Gumercindo, um homem muito sisudo e de poucas palavras, segurou o queixo e me avaliou. “Poder, até pode, tchê”, respondeu ele, “mas se eu encontrar uma orelha, por pequena que seja, nunca mais tu chega perto, certo?” 

Assumi o compromisso de zelar pelos livros emprestados. O velho ergueu a tampa, escolheu um e me passou: “A Vida e as Aventuras de Nicholas Nickleby”, de Charles Dickens. Depois que ler este, pode pegar outro, disse-me ele, mas “já sabe, né, guri?, Sem orelha!”

Em três meses li todo o baú, sem nenhuma orelha. Como seu Gumercindo fora delegado, tinha muitos autores policiais: Erle Stanley Gardner, Raymond Chandler, Dashiell Hammett, Conan Doyle, Poe, Agatha Christie, etc. Fora outros Dickens. Mais Shakespeare, Molière, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Lima Barreto e muitos outros. Foi assim que, aos doze anos, não parei mais de ler e resolvi ser escritor. 
Minha amizade com Alfredo durou muitos anos, até que ele e a família retornaram para a cidade de origem e perdemos contato, infelizmente. Esse baú --graças a Alfredo, sem dúvida o melhor amigo que tive-- mudou minha vida."

Júlio Tadeu Costa Leite (Curitiba - PR)

"Meu melhor amigo é meu cachorro Ares. Entre nós sempre existiu cumplicidade, amor de amigos e de pai para filho. Ele sabia quando eu estava alegre ou triste, sabia até de minhas intenções quando eu ia sair e mostrava alegria em meus retornos. Todos os dias, tínhamos nossos horários de passeios, sendo o do final da tarde o mais demorado.

Ele me protegia contra tudo e todos. Até quando alguém vinha me cumprimentar, Ares intervinha para me proteger. Às vezes ele sentia dores, mas resistia e não manifestava, apresentando-se sempre disposto e ativo. Teve um pequeno problema no fígado, mas os últimos exames mostraram melhoras e ele foi internado apenas para tomar soro. 

O hospital veterinário, por meio de um médico veterinário irresponsável, deu outro medicamento no lugar do soro e matou o meu Ares, deixando-me inconsolável e quase caindo em depressão. Ajuizei ação contra o hospital, comuniquei o Conselho Regional de Medicina Veterinária, a Vigilância Sanitária e o Ministério Público.

Meu cachorro foi embora em um momento muito corrido, com muitas obrigações em minha vida. O Ares, ao me ver dormindo pouco, acompanhando meu sofrimento, resolveu ir embora desse mundo. Acho que pensava que nossos passeios me tomava tempo e me deixou mais livre. Mas o tempo em que ficava na companhia dele era o melhor de minha vida, era quando me vinham soluções para muitos problemas, era o tempo mais produtivo.

Hoje, sem o meu Ares, parece que me foi tirado um pedaço de mim. Ele foi embora em 6 de fevereiro deste ano, mas sinto a falta dele como se fosse hoje. Não esqueço o meu amigo e filho. Nosso comprometimento, afeto, amor, compromisso são inapagáveis e eternos. Só quem amou ou ama tanto um animal para sentir essa realidade aqui narrada."

Leitores contam histórias com melhor amigo
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Pedro de Alcantara Morais da Silva (Goiânia, GO)

"Este é apenas um pequeno relato de uma odisseia homérica e fraternal possibilitada apenas por amigos sensacionais. 

Em meados de 2013, eu e minha amiga Joana nos demos conta de que existiam vários amigos morando próximos uns dos outros. Resolvemos criar um festival da vizinhança que consistia em um trajeto itinerante de recepções de amigos durante todo um dia.

Obviamente, o percurso iniciou-se pela manhã e foi se estendendo até tarde da noite, por todas as casas, ruas e bares pelo caminho. Difícil foi se lembrar onde cada um morava no final de tudo."

Leitores contam histórias com melhor amigo
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Flávio Raffaelli (São Paulo, SP)

 

"Eu e minha amiga Jéssica somos apaixonados pelo voleibol, e resolvemos sair de Jaboatão dos Guararapes (PE) para São Paulo com o desejo de assistir à final da Superliga de vôlei feminina, que seria em 27/04/2014. Era um domingo.

No mês de fevereiro daquele ano, resolvemos comprar as passagens de ida e volta para São Paulo. Compramos para ir no dia 26/4 às 20h30 e retornar no dia 29/4 pela manhã. Ficamos super felizes e ansiosos até que, faltando uma semana para a final, mudaram o local do jogo, transferindo para o Rio de Janeiro, no Maracanãzinho.

Dei a ideia de chegar em São Paulo e irmos direto para rodoviária para pegar um ônibus para o Rio. Ela topou na hora, mas não avisou a mãe de que o jogo tinha mudado de cidade. Chegou o dia 26/4, dia da viagem, e pegamos o voo. Chegamos em Guarulhos às 23h30 e fomos direto para o terminal rodoviário do Tietê, em São Paulo, onde conseguimos pegar um ônibus à 1h. Chegamos às 6h30 da manhã na rodoviária do Rio de Janeiro, tomamos banho por lá  e partimos para o Maracanãzinho. O jogo começou às 10h e passou ao vivo na TV.

Na mesma hora, a mãe da minha amiga ligou desesperada dizendo que o jogo que estava passando era no Rio de Janeiro e não em São Paulo. Ela quase morreu do coração. Foi uma aventura, mas valeu a pena, e quando acabou a partida pegamos o ônibus e voltamos para São Paulo. Cansados, porque mal dormimos, mas feliz por termos realizado o sonho de assistir à primeira final de Superliga de vôlei juntos."

Leitores contam histórias com melhor amigo
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Murilo da Costa Santos (Jaboatão dos Guararapes, PE)

"Era novembro de 1996 e eu e minha amiga Adriane não morávamos perto da praia, no Rio, e nem tínhamos carro. Naquela quarta-feira, acordamos cedo e planejamos pegar um sol numa praia onde não houvesse muito movimento, pois sempre fomos avessas ao burburinho do Pepê. 

Partimos numa excursão sem fim, a ideia era passarmos algumas horas ali na Reserva e de lá voltar a pé para a Barra (contemplando o pôr do sol). Esticamos nossas cangas e largamos nossos corpos na areia daquele paraíso só nosso. Entre um mergulho e outro, o tempo passava apressado, sem nos darmos conta. 

Quando o sol já se punha, dando sinais de que era hora de voltar, iniciamos a caminhada.... a cada passo nos distanciávamos mais do Recreio e a Barra não parecia nunca chegar. Antes que escurecesse, decidimos voltar. Naquela época o ônibus não chegava até ali, então --mesmo com quase nada de grana-- paramos um táxi . Este era o único meio de transporte cabível e já era noite. 

Apavoradas, sem mencionar o endereço, pedimos que o motorista fosse rumo à estrada do Catonho. O plano era observar o taxímetro e descer quando ele marcasse os míseros cruzados que tínhamos juntas. 
Já havíamos descido o Catonho quando, num rompante, pedi que o taxista parasse. Assustado, ele insistiu em continuar dizendo que nos deixaria em casa (“não é pra casa que vocês vão?”, indagava bravo). Por sorte, conseguimos chegar até o Valqueire (apenas três bairros do nosso destino final, que era Realengo). 

Sem mais nenhum argumento, disse a ele que o taxímetro estava marcando exatamente o valor que tínhamos. Agora ele --num rompante-- parou esbravejando num posto, de onde partimos numa caminhada longa… gargalhando, como fazemos até hoje quando nos encontramos e contamos esta história sem pé nem cabeça. 

Exatamente como estou agora escrevendo estas linhas e, provavelmente, como estaremos no próximo dia 20, quando Adriane chega à São Paulo para juntas, em algum canto gelado, lembrarmos daquele dia quente. Comemorando a amizade." 

Leitores contam histórias com melhor amigo
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Simone Costa (São Paulo, SP)

"Minha melhor amiga-irmã é a Gabriela. 

Somos amigas há uns seis anos. Nós conhecemos quando éramos estagiárias em uma empresa. No entanto, o que nos aproximou foram as semelhanças em nossas vidas... Posso afirmar que vivemos uma vida em um ano --ambas perderam a mãe na mesma época (2017/2018), ambas tinham um casamento estável e vieram a se separar... e com isso, as muitas histórias.

A melhor delas, e mais recente, foi no dia 03/04/19, quando estávamos andando de bicicleta. Saímos do Campo Belo, na zona sul de São Paulo, em direção ao parque Villa-Lobos. Chegando próximo ao destino, eu, Marianna, sofro um tombo.

Até aí, ok! No entanto, teimosa que sou, e não querendo chatear a amiga, disse que não era nada e tentei continuar… mas era impossível, tamanha a dor. Com sorte, conseguimos uma carona com um senhor que passava por ali e estava com uma espécie de caminhonete, super fofo (Ricardo, ex-professor da USP e do Remo), que nos levou até a casa da minha a amiga.

O corte na perna foi feio, muito sangue e coisinhas brancas saindo.. relutei em ir ao médico, afinal, era domingo de Carnaval!  

Gabi, que é veterinária clínica, deu um ponto, passou uma substância chamada adrenalina --que cessa o sangue--, fez um baita curativo e fomos para a região do Ibirapuera curtir o baile. Eu? Eu estava sob anestésicos e mancando, achando que não era nada. Passados 12 dias, fui ao médico e descobri que tive rompimento total do tendão de Aquiles. 

Moral da história: uma amiga como a Gabi, que topa fazer as maluquices de outra amiga, isso não tem preço."

Leitores contam histórias com melhor amigo
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Marianna Macera, (São Paulo, SP)

"Meu irmão Wilson é o meu melhor amigo. Acredito que nunca tenha dito isso para ele, mas o amor que sinto por ele supera tudo o que existe. 

Não somos tão próximos para contar confidências e tão pouco para relatar sonhos, porém sinto em meu peito que eu poderei contar sempre com ele e que ele poderá contar sempre comigo. 

Acredito fielmente que ainda temos muitos assuntos para falar e quero que ele saiba que poderá contar tudo que o atormenta."

Leitores contam histórias com melhor amigo
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Wilton Albuquerque Felipe (São Paulo, SP)

"Meu melhor Amigo se chama Fernando Vaccari Barbom. Eu tenho 38 anos e o Fernando 31. Nos conhecemos há 27 anos, mas me lembro como se fosse hoje. O Fernando tinha 4 anos e essa amizade dura até hoje.

Seus pais se tornaram meus pais, seus tios se tornaram meus tios, seus primos se tornaram meus primos.
Há incontáveis histórias que poderia contar para os leitores da Folha. Por conta dessa amizade, aprendi  a ter o hábito de ler e reler muitos artigos do jornal --os pais do Fernando, hábeis e prestigiados professores, me incutiram o amor pela leitura do jornal.

Mas gostaria de selecionar uma história que me marcou muito…

O ano era 2006. No dia 22 de setembro resolvi ir embora do Brasil para morar na Espanha, em Barcelona, pois a vida no Brasil estava muito difícil naquela época (e um pouco parecida como nossa época atual).
É claro que meu melhor amigo me levou ao aeroporto, que fica a uma distância de uns 600 km, para nos despedirmos e nos distanciarmos depois de 11 anos de uma amizade inigualável. Já não éramos mais amigos, mas sim irmãos.

Tenho seis irmãos biológicos e apenas dois foram se despedir de mim nesse dia tão triste, mas também tão feliz, pois um novo horizonte estava me esperando na Europa. Um desses irmãos era meu amigo Fernando. Com lágrimas nos olhos dissemos adeus.

Realmente, uma parte de mim ficou aquele dia no aeroporto de Cumbica. E uma parte do Fernando foi para Espanha pois nosso amor de irmãos era recíproco.

O Fernando usava um perfume que eu gostava muito e, após cruzar a última linha de separação, ele olhou para mim, sorriu e tirou da mochila um perfume --o mesmo que ele usava-- e me deu. “Toma, irmão, para você lembrar de mim”, ele disse. E assim parti sem meu amigo. 

Sete anos se passaram e nos reencontramos no Brasil. A amizade e o amor jamais se extinguiram… Ainda somos amigos e irmãos e continuaremos sendo para sempre. Como diz Provérbios 18:24: um verdadeiro amigo se apega mais que um irmão."

Leitores contam histórias com melhor amigo
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João Barbarelli (Votuporanga, SP)

"Meu amigo Cássio sempre me surpreende com sua delicadeza e atenção. Foi amor à primeira vista! Nos conhecemos em Salvador e sempre nos vemos quando ele está de férias por aqui. 

Cássio ama minha cidade. Além de um caráter ilibado, é o amigo que todo mundo quer ter. Me salvou em duas ocasiões importantes. Para ele não existe não posso, não dá! 

A primeira foi há muitos anos. Eu estava indo a São Paulo para fazer um teste para um comercial de uma marca de beleza e uma “falsa” amiga me negou hospedagem… Lembre dele, nos conhecíamos muito pouco ainda, vale ressaltar, mas Cássio foi um irmão, um pai, um amparo naqueles dias! 

Agora, mais recentemente, precisei ir à São Paulo e pedi não só para mim, como para minha irmã, que vai prestar concurso para o Ministério Público... e ele mais uma vez mostrou o que é... amigo de verdade, amigo-irmão! O que dizer desse amigo? Foi um anjo que caiu na minha vida. Cássio Junqueira, te amo!"

Rita de Cássia Borges de Morais (Salvador, BA)

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