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Abraços vão unir leitores da Folha a pessoas amadas ao fim da quarentena

No Dia do Abraço, confira relatos sobre gestos represados no meio dessa pandemia

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São Paulo

Nesta sexta-feira (22) é comemorado o Dia do Abraço, mais uma dessas datas que fazem prestar atenção em alguns gestos simples.

Um abraço libera oxitocina, hormônio que ajuda a criar sensação de confiança e reduzir nível de estresse.

Nessa quarentena, no entanto, muita gente está privada de dar aquele abraço nas pessoas amadas.

Pedimos aos leitores da Folha que enviassem relato de quem eles pretendem abraçar por primeiro assim que a pandemia acabar.

Confira.

"Apesar da dor, a vida. Apesar da distância, o amor. Quando tudo parece perdido e não se vislumbra a luz no fim de túnel, o tempo não está ao nosso lado. Passaram-se dez dias. Passaram-se trinta. Agora já não sei mais. Dentro deste apartamento, com minhas duas companhias felinas, alterno entre lembranças e esperanças, um pouquinho de loucura e um algum negacionismo. Não pode ser real o que vivemos. Fazemos filmes sobre isso, para entreter plateias em cinemas. Não para vivenciar a morte diuturnamente. Os meus queridos estão a muitos quilômetros. 220. 900.

Quando se abrirem as portas e as ruas se encherem, quero sentir o colo acolhedor de minha mãe. O riso pueril de minha irmã Duda, na graça dos seus dez anos. Tomar café com meus avós. Pegar um avião e ver meu pai e meu irmão João, na terra dos sertanejos. São muitos planos para pouco quando. Resta-me o agora e o que ele pode me dar. A cada dia, o seu pesar." (Bruna Nery, 26, São Paulo)

"Um abraço duplo para abarcar minha mãe e minha avó materna de uma só vez. Atualmente, moramos em extremos diferentes do Brasil e não nos encontramos desde 1º de março.

A saudade não se resume às duas, já que toda minha família e amigos de infância estão distantes, mas com toda certeza, elas são as pessoas que eu mais quero poder sentir o aconchego de imediato." (Ana Carolina Ribeiro Viégas, 31, de Porto Velho, RO)

"Fiquei pensando na pergunta da Folha e na hora veio a resposta: Eu serei a primeira pessoa a quem abraçarei. Esses tempos difíceis de pandemia tiraram a alegria, encheram o coração de saudades das netas, filhos, amigos, atividades. O amanhecer igual como no filme “Feitiço do Tempo” se repetindo dia a dia. O olhar na janela para rezar pelo mundo e por todos nós. O medo quando vem uma tosse, uma coriza, um espirro. A falta de confiança de entrar até mesmo no elevador e encontrar alguém. Os desejos guardados no fundo do peito. As orações, as meditações, os exercícios, filmes, músicas, livros, poesias, trabalho mudado mas realizado felizmente.

Muita coisa mudou dentro e fora de mim. Eu quero, sim, ser sobrevivente. Eu quero voltar a pensar no futuro. Eu quero resgatar planos e sonhos. Eu quero me reencontrar. E por tudo isso eu quero me abraçar muito quando tudo isso acabar para abrir meu coração para os muitos outros abraços e beijos sufocados nas minhas entranhas." (Ivani Cardoso, 67, de São Paulo, SP)

"A primeira pessoa que vou abraçar após a quarentena é meu namorado. Namoro há 8 anos e somos de Goiânia - GO, mas em fevereiro ele se mudou para São Paulo capital, para fazer residência médica no HC-USP. Nos preparamos para um ano difícil, devido à distância, mas não imaginávamos que ficaríamos tanto tempo distantes, com o medo como principal companhia. Quero abraçá-lo primeiro não somente porque não o vejo desde fevereiro, mas para senti-lo perto de mim e seguro. A pandemia desgasta nossa saúde mental e ao mesmo tempo nos mostra que somos fortes!" (Luciana Ruivo Dantas, 24, de Goiânia, GO)

"A primeira pessoa que vou abraçar será meu pai que mora comigo e que fiquei com medo de abraçar ele com medo de transmitir algo, já que ele é considerado grupo de risco pela idade avançada. Mas vou abraçar para agradecer por estar comigo todos esses dias." (Isaura Fernandes, 28, de São Paulo, SP)

"Quem eu vou abraçar primeiro após a quarentena é a minha mãe. Acredito que vocês devem ter recebido milhares de respostas como a minha, cada uma com sua particularidade.

Em setembro de 2019 descobrimos que minha mãe estava com câncer. Foi um choque. Não temos histórico familiar, minha mãe se alimenta bem, caminha todos os dias, trabalha, é ativa. O câncer nasceu nos ovários mas já havia se espalhado - fígado, baço, diafragma, parte do intestino, útero, além dos ovários. Minha irmã me ligou num sábado para falar do exame. Eu estava em Bento Gonçalves a trabalho. Voltei às pressas para Curitiba. Conversa com a médica, ela diz "aproveitem bastante, curtam ela, façam uma viagem em família...". A médica chorou. O mundo desaba, mermão.

Iracema Segóvia da Silva é teimosa, puxou isso do meu avô. Começamos o tratamento, quimioterapia, marca cirurgia, faz acompanhamento com nutricionista, enjoa, se alimenta, trabalha, cai cabelo, expectativa, faz cirurgia, fica na UTI, dá susto na gente, somos chamados porque ela tá mal, o mundo desaba de novo, melhora, paciência, melhora mais um pouco, sai do hospital, quimioterapia, paciência, enjoa, cai cabelo de novo, enjoa mais, paciência, vai passar.

A última sessão de quimio é em março, primeiros casos já haviam ocorrido no Brasil, incerteza paira no ar. Estamos sozinhos no hospital, apenas minha mãe, minha irmã e eu. Tocamos o sino, vencemos. Vencemos? Precisa esperar três semanas, faz exame, aguarda o resultado, envia pra médica. Nesta altura estamos todos em casa, eu levo as compras uma semana, na outra leva a minha irmã. Mal passamos da porta. Resultado do exame: curada, saudável. Agora acompanha, toma vacina, cuida da imunidade. Curada, sem nada, zero, nova. Eu só queria dar um abraço. Chorar na frente dela, porque quando o tratamento rola você tem que segurar a onda, ser forte. Não foi fácil. Por isso, quem eu vou abraçar primeiro após a quarentena vai ser a minha mãe." (Jonas Martins, 36, de Curitiba, PR).

"Sinto falta de estar junto com meus pais, minhas irmãs, meus sobrinhos. Mesmo morando próximos já fazem pouco mais de 60 dias que não temos contato, cada um cumprindo o isolamento. Toda semana estávamos juntos, mesmo que fosse de passagem.

Saudade do abraço, da fortaleza que eles são pra mim, de tomar uma cerveja e conversar com meu pai, ele está no grupo mais vulnerável, mas se cuida e fica em casa o tempo todo, bom para todos nós.

Atualmente estou trabalhando num hospital de campanha em escala de plantão, sei que pode demorar um pouco mais pra esse abraço acontecer, mas sabendo que estão com saúde e em segurança, me deixa mais tranquilo para seguir com as coisas do dia a dia." (Douglas Ricci Tori Rosa, 34, Santana de Parnaíba)

Douglas Ricci Tori Rosa, 34, com sua família. Leitor enviou para interação do Dia do Abraço
Douglas Ricci Tori Rosa, 34, com sua família. Leitor enviou para interação do Dia do Abraço - Arquivo Pessoal

"Estou sofrendo muito ao acompanhar todos os dias os números de vítimas e infectados pela Covid-19. Vivo apreensiva e com o coração apertado por não poder estar junto de meu pai, Ataide Rodrigues Pontes, 71, que vive em Sorocaba (SP). Desde o início do isolamento ele permanece em casa com a esposa e não tem saído nem na calçada da casa. E sempre que nos falamos, pelo telefone, eu ouço sua voz entrecortada os muitos cuidados e recomendações para que eu não saia de casa e que me proteja se precisar sair. Ainda mais: ele ainda me recomenda a ter paciência nas atividades que realizo em "home office", como professora, e ao final de nossa conversa ele diz: "logo tudo isso passa, e aí vamos nos ver e fazer aquele churrasco".

Então me sinto muito triste pelos que não conseguiram sobreviver ao coronavírus, e conto os dias para que tudo isso passe e que muitas pessoas como eu possam se reencontrar e se abraçar. No meu caso eu abraçaria muitas pessoas queridas, entre elas, especialmente, o meu pai." (Noemi de Lima Rosa, 42, de Apiaí, SP)

"Não vejo a hora de a quarentena acabar para poder estar novamente com o amor da minha vida. Desde o dia 21 de março, nós não nos encontramos pessoalmente. Já se passaram 60 dias. Dois meses desde então. Penso que cada dia que passa é menos um dia para que essa turbulência acabe e para que nós possamos, aos poucos, gradativamente, irmos retomando a nossa rotina. Passar a quarentena distante não está sendo nem um pouco fácil, mas o nosso amor é mais forte que tudo. Por isso, conto os segundos para que essa quarentena acabe o quanto antes e eu possa olhar, abraçar e beijar o meu amor." (Fábio Dias de Mendonça, 28, Rio de Janeiro)

"Se eu usasse uma palavra para representar esse período de quarentena seria saudade. O sentimento que temos é a pura nostalgia do toque mais simples e que antes dessa pandemia não andávamos valorizando: um abraço.

A cada dia em que a solidão e o canto dos pássaros ecoam pela cidade isolada eu valorizo ainda mais o abraço de todas as pessoas possíveis pois a maior lição que tirei é que a vida é tão frágil e acabamos passando de forma isolada, digo, antes da quarentena já estávamos isolados uns dos outros, vivendo com pressa e sem valorizar o carinho do outro e só fomos perceber o grande valor do estar perto quando já estávamos longe, por isso eu quero abraçar todas as pessoas possível, sentir o aperto de um abraço, me sentir acolhida e agradecer pela oportunidade de estar fazendo isso novamente, eu quero ser feliz e a felicidade se constrói num abraço apertado, seja da sua mãe ou de uma pessoa desconhecida que você abraçou no calor da emoção por comemorar o fim da pandemia." (Talita Duarte, 19, de São João de Meriti, RJ)

"Meu primeiro abraço depois que a pandemia passar vai ser na minha sobrinha Alice, que está dentro da barriga da minha irmã. Com a necessidade do isolamento, só tenho podido acompanhar a gravidez dela por telefone, o que é difícil, pois somos muito próximas." (Roberta Andrade e Barros, 35), de Belo Horizonte (MG)

"A primeira pessoa que irei abraçar após essa quarentena será meu avô, seu Zé. Ele mora na cidade vizinha à minha e tem dificuldades para fazer chamadas de vídeos e o único aplicativo no celular dele é o Whatsapp, que toda noite transmite áudios de boa-noite para as filhas e todos os netos. Ele está isolado apenas na companhia dos dois cachorrinhos e nessas semanas teve que lidar com a dengue e as lembranças da minha avó que nos deixou em fevereiro, sem presenciar como o mundo tornou-se esse lugar caótico.

Abraça-lo após todas essas semanas tristes que passaram e as incertas que virão, será uma forma de relembrar a infância, sem pandemias, e minha avó. Sinto muitas saudades, mas com certeza o isolamento social é a melhor forma para todos os vovôs e vovós se manterem saudáveis e em segurança." (Beatriz Carvalho Rockenbach, 20, de Registro, SP)

"Me considero um dos sortudos, posso passar a quarentena perto dos meus pais e minha irmã, voltei para casa no fim de semana do decreto e aqui fiquei. Então, meu primeiro abraço após a quarentena ficou reservado para minha paixão, Maiara. Indo para o quarto ano de namoro e com uma rotina das faculdade que fazemos que nos permite almoçar juntos até alguns dias, nós nos acostumamos a ter um ao outro sempre, conversar sem ter fim, aconselhar e poder sempre ter um abraço reconfortante por perto.

Não foram poucas as horas que precisamos, os dois, desse abraço e não pudemos dar. O curioso é que ela também é de Taubaté mas voltou para a casa dos pais assim como eu para os meus. Nos vimos pelo portão e não foi de longe o suficiente.

Hoje a distância aumenta, ela foi para São Paulo atuar no Hospital das Clínicas em áreas não COVID, como aluna de enfermagem se sentiu na obrigação de contribuir.

Com a distância, a preocupação aumenta e a saudade vai à lua. Parece ínfimo perto do caos do país, talvez seja mesmo, mas aqui dentro é gigante. Já não bastasse a Morte caminhando livremente pelas trincheiras da vida, parece que a Saudade decidiu ajudar na agonia. E como se não fosse terrível, a displicência com que todos estão lidando com esse distanciamento social nos faz sentir idiotas, como se fôssemos os únicos bobões a respeitar a quarentena.

De saudade em saudade, passaremos, e logo eu a abraçarei." (Matheus Loureiro Sebastião, 20 anos, de Taubaté, SP).

"Hoje, 19/05, completa 14 dias que meu sogro, Antonio Gomes da Silva, perdeu a batalha contra a Covid-19. Um senhor íntegro, calado, que nos ensinava com os gestos. Amoroso com os seus, admirado por muitos. Não merecia morrer assim. Ninguém merecia. Velório e enterro com a presença de 10 pessoas! E tudo em menos de uma hora e meia. Triste, doloroso, cortante. Indizível! Como genro, não pude estar, porque na hierarquia familiar em tempos funestos, a qual a covid-19 nos impôs dura e implacavelmente, fiquei de fora.

Vou abraçar a família toda após tudo isso! Abraçar toda a família será uma forma de dizer: estou aqui; e queria estar naquele dia com vocês! E direi a eles que a pandemia me ensinou uma coisa importante: estar junto não é necessariamente estar próximo, mas estar dentro." (Gilberto Bazarello)

"Quando acabar a quarentena em minha cidade tenho certeza que a primeira pessoa que vou abraçar será meus professores. Como já tenho contato direto com meus pais e avós posso abraçá-los, agradecê-los e comemorarmos diariamente, já os heróis da educação é um pouco mais difícil, uma vez que de um dia para o outro eles tiveram que se adaptar, rapidamente, ao novo método de estudos. Vejo, por meio de publicações do colégio, como está sendo trabalhoso para eles gravarem aulas, editar, montar simulados online e dar o melhor que a equipe pode oferecer. Muitas vezes, acordam cedinho e vão dormir tarde apenas para compartilharem um pouco do que sabem para mim e para outros.

Imagino, também, se já me sinto atropelada vendo videoaulas e fazendo os exercícios, como deve estar sendo uma loucura para liberarem essas aulas?!. São eles que me dão uma das bases para poder ser aprovada e conseguir ingressar no tão almejado ensino superior. Além de me oferecerem poder, porque todos sabemos que “Conhecimento é poder”, como dizia um grande filósofo.

Por mais sozinha, fora da rotina, sem me sentir estudando por não estar no colégio, os professores me dão tarefas para cumprir no dia, as quais me ajudam a manter a cabeça ocupada. Não só no ramo de estudar como também no de reflexionar e perceber como eram boas as coisas de que nós reclamávamos. Por isso, minha visão de mundo foi ampliada, podendo, então, descobrir novos horizontes. Diante de todos os fatos citados e por muito mais, são eles, os heróis da educação que vão receber meu abraço de agradecimento, respeito, admiração e sem esquecer a comemoração da quarentena ter acabado, assim, poderemos todos voltar ao nosso novo/antigo normal." (Ana Paula Zara Couto, 17, de Maringá, PR)

"Atualmente sou residente de Bauru (SP), mas sou natural de Osasco (SP), onde deixei minha mãe, Rosemeire, em 2015. A última vez que nos abraçamos foi quando pude visitá-la no feriado prolongado do Carnaval, em fevereiro deste ano.

Minha mãe é técnica de enfermagem no Hospital Universitário da USP, em São Paulo. Todos os dias eu torço para que ela sobreviva ao caos instalado no país, que sobrecarrega e põe em risco os trabalhadores da saúde, como ela, que inclusive só tem uma máscara disponível por plantão (que exige no mínimo 6).

Assim que o isolamento social for cessado, no momento em que eu puder colocar meus pés num ônibus de viagem, eu vou correndo abraçá-la.

Até lá, peço para que quem puder, fique em casa. Vou guardando meu abraço até ele poder encontrar seu lugar, no peito da minha parceira." (Caroline Legendre, de Bauru, SP)

"A quarentena pode elucidar sentimentos que realmente importa. Atualmente trabalho como nutricionista. Abraçar meus pais e sogros seria melhor sensação deste mundo.

Tivemos tantas oportunidades antes, porém parecia ser tolice, pois poderia vê-los a qualquer momento. A preocupação diária deles só aumenta a saudade e a vontade imensa de abraçá-los e ser grata pelas vidas deles!" (Michelle Vieira Cordeiro, 27, de São Paulo, SP)

"O meu maior desejo, após o término da quarentena, é abraçar aquela que primeiro me pôs nos braços. Aquela que me ensinou que um abraço apertado vale tanto para comemorar uma vitória, quanto para consolar uma derrota. Aquela que, mesmo sabendo a importância do abraço, deixou de me abraçar para me proteger. Aquela que hoje eu vejo à distância, mas que sempre eu sinto tão perto de mim. O meu maior desejo, após o término da quarentena, é abraçar a minha melhor amiga, o meu maior exemplo, a minha mãe." (Jéssyca Moreschi, 28, de Porto Alegre, RS)

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