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Pisão no pé, 'não gol' incrível, 11 a 1 e jogo de botão; leitores contam memórias sobre Pelé

Atleta de Três Corações (MG) faz 80 anos e recebe homenagens

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São Paulo

O Rei do Futebol, Edson Arantes do Nascimento –o Pelé– completou 80 anos nesta sexta-feira (23).

"Eu parei de jogar há 40 anos, e as pessoas ainda se lembram de mim. Isso só pode me deixar feliz", disse ele à Folha em 2018. E, em 2020, nada mudou.

Leitores da Folha relatam suas memórias do craque do futebol.

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Eu tinha meus 18 ou 20 anos. Trabalhava no centro da cidade de Santos e andava muito pela região. Nunca fui ligado em futebol. Um dia, uma pessoa com um sorriso largo e muito genuíno, no centro da cidade, me cumprimentou como se me conhecesse há muito. Era o Rei Pelé! Isso foi muito significativo para um garoto. Nunca esqueço aquele sorriso, por me sentir respeitado por uma figura tão importante. (Ivan Farias, 58, São Paulo-SP)

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Apesar dos mais de 1.200 gols, todos maravilhosos, minhas grandes lembranças do Rei foram os "não gols" da Copa de 1970, no México. O drible de corpo no goleiro uruguaio de nome complicado, Mazurkiewicz, sem tocar na bola, que deixou o goleiraço atarantado...

E teve o lance no primeiro jogo, contra a então Tchecoslováquia. Pelé recebe a bola ainda no campo do Brasil, no meio-campo. Só ele percebeu o goleiro, Victor, adiantado. Para surpresa de todos, em vez de fazer um passe, ele chuta ao gol... A bola encobre o goleiro e raspa o travessão. Diz a lenda que, no momento do chute, ele foi xingado por Gerson, que reclamou da falta do passe. Mas, ao ver a trajetória da bola surpreendendo o goleiro, Gerson teria pedido desculpas e elogiado o lance genial. (Jonas Nunes dos Santos, Juiz de Fora-MG)

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No final do ano de 1982, o Santos foi jogar contra o Comercial em Ribeirão Preto. Meu pai fazia parte da diretoria do Comercial, colaborando na gestão de arrecadação e controle de entrada. Ficamos sabendo que o Pelé viria à cidade para assistir ao jogo, na tentativa de dar um incentivo ao grupo.

Sabendo da chegada do Rei Pelé ao Estádio Francisco Palma Travassos, e do sistema de segurança que havia sido montado, eu e meu amigo, Marcelo Partata, ficamos parados ao lado do portão onde o Rei iria entrar. Estávamos ansiosos e não acreditando que iríamos ver de pertinho o consagrado ex-jogador.

Logo à sua chegada, muitas pessoas também tentaram se aproximar, todos os profissionais de rádio, televisão e jornal que cobriram a partida. Assim sendo, Pelé precisou chegar de forma muito rápida, praticamente sem parar para entrevistas.

Logo após sua entrada, eu o meu amigo estávamos ali, praticamente impedindo a passagem do Rei. Ele seguiu em frente e, naquele momento, pisou no pé do meu amigo. Sem querer, é claro. Percebeu, olhou para meu amigo e pediu desculpas.

Naquele mesmo momento, eu, um garoto de apenas 13 anos, anestesiado pelo momento, falei em tom de surpresa: “Pelé!”. Ele completou seu simpático gesto, olhou para mim, colocou sua mão no meu ombro e disse “sou eu”, abrindo um grande sorriso.

Infelizmente, embora tenha sido um bom jogo, o placar final foi um triste 0 a 0. Essa história ficou marcada nas nossas cabeças. Eu nunca mais lavei aquela camisa em que o Rei encostou a mão. (Eduardo Bartolomucci, 51, Ribeirão Preto-SP)

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Lembro de ter roubado o Pelé do jogo de botões de um amigo, quando tinha 6 anos. Depois disso, minha mãe descobriu e acabei devolvendo. Era o jogo de botões do time da Copa de 1970. (Marcelo Barbosa Câmara)

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Eu tinha 12 anos. Vi o Pelé jogando contra o Botafogo/SP. Um lance foi marcante: ele recebeu uma bola com força e difícil, mas com incrível habilidade, conseguiu dominar e na minha frente cruzou para o Alcindo marcar! Inesquecível! (Mauro Andrade)

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Como quase todos os garotos dos anos 1960, eu amava Garrincha e Pelé, e como todos os garotos de minha cidade, amava os craques do Grêmio Maringá. Mal consegui dormir quando soube que o fabuloso Santos viria até minha cidade para um amistoso. A bola rolou e todos os olhares eram para Pelé.

Cada vez que ele pegava na bola, vaias. Os xingamentos eram os mais ofensivos. Cada vez que ele pegava na bola, vaias. Os xingamentos eram os mais ofensivos. Meu amigo me olhou, envergonhado. "Falta de respeito", murmurou. Caminhando calmamente, o Rei olhou diretamente para nós e fez um gesto com a mão aberta, tipo: "Esperem!".

No círculo central Pelé sobe e amacia a bola no peito. Sem ela cair, dá para Coutinho. Na coxa, petequeia e devolve para Pelé, na frente. De primeira, ele devolve pelo alto para Coutinho, enganando a mais dois. O parceiro do Rei devolve cabeceando uma bola esticada, impossível de alcançar. O Rei dá um bote, pedala no ar e acerta o sem-pulo monumental. Um gol de fantasia, de sonho de menino.

Os mesmos que o ofenderam, agora aplaudem de pé. Mostrando toda sua majestade, o Rei acena, sorrindo. 11 a 1. (Paulo Ricardo Vargas Pinto, 73, Garopaba-SC)

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Em 1974, tinha 10 anos e, são-paulino fã de Waldir Peres, fui assistir a São Paulo x Santios, suportando o vento gelado que circulava nos anéis superiores do Morumbi. Ganhávamos de 1 a 0, gol de Mirandinha.

Final de jogo, bola na mão do Waldir Peres, se preparando para repor a bola em jogo. De repente, Pelé acelera em direção a Waldir, e, malicioso, se agarra no zagueiro e cai com ele na área. Estupefato, Waldir Peres assiste a tudo incrédulo. Armando Marques, árbitro da partida, cai no teatro de Pelé. Pênalti e fim de jogo: 1 a 1.

Gritei todos os palavrões que sabia contra o Rei. Fora uma traição contra meu ídolo, Waldir Peres. Depois, com os meninos da vila, virei santista... Afinal, ironia da vida, traí também meu ídolo Waldir Peres. (Luiz Eduardo Coutinho Junior)

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A sombra da lenda do Pelé sempre rondou (e sempre vai rondar) o Santos, e eu sempre lamentei não ser dez anos mais velho para ter tido a oportunidade de ter visto o Pelé jogar. Em 1987, tive a chance. Fizeram um campeonato com os jogadores aposentados chamado Copa Masters, e Pelé (com 46 anos) jogaria pelo Brasil com outros grandes jogadores.

Não fez gol, mas um lance fica fresco na minha memória até hoje. O goleiro da outra seleção tinha pegado a bola nas mãos após Pelé ameaçar ir tomá-la. E, por um segundo, parecia que Pelé tinha desistido, até que ele, com um chute, tira a bola das mãos do goleiro, afasta-a do alcance dele de cabeça e, na hora que dá a bicicleta que faria aquele lance ser antológico, um zagueiro entra no caminho. O corpo não tinha a mesma força, mas a genialidade ficou clara que estava ali, ainda presente, no campo. (Eduardo Cambuí Figueredo Junior, Macaúbas-BA)

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Sou chileno e me considero um afortunado por ter assistido ao jogo considerado por toda a imprensa como "o jogo perfeito”. Aconteceu no Estádio Nacional do Chile em 16 de janeiro de 1965, Santos 6 x 4 Tchecoslováquia, com três gols de Pelé. Para muitos essa foi a melhor apresentação do Santos com Pelé. Quando o jogo acabou, 80 mil pessoas aplaudiram em pé por muitos minutos, e eu estava presente. Obrigado, Pelé, pela exibição fantástica. Ainda me lembro das manchetes dos jornais do dia seguinte: “Pelé es de otro mundo”. (Hugo Orlando Vargas Perez, 77, São Paulo-SP)

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