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'Em 2020, eu aprendi a aceitar o que nunca consegui'; veja este e outros relatos de leitores sobre o ano que passou

Apesar dos pesares, o ano que se encerra também trouxe uma série de aprendizados

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São Paulo

Não havia ondas suficientes que pudéssemos pular a fim de evitar o que nos esperava em 2020. De 31 de dezembro de 2019 —quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) foi alertada sobre (o que pensavam ser) casos de pneumonia em Wuhan, na China— até agora, o mundo foi engolido por um furacão, ou melhor, um ciclone-bomba de acontecimentos que jamais poderíamos ter imaginado na virada do ano.

Em meio ao que acabou se revelando a maior pandemia do século 21, fomos "agraciados" com meteoro, asteroide e nuvem de gafanhotos, vimos as máscaras de proteção contra o coronavírus virarem peças de moda e testemunhamos a ascensão e a queda das lives musicais.

Lidamos com mudanças na forma de trabalhar, estudar, matar as saudades da família, socializar, consumir arte, fazer compras, comer, e até fazer sexo. E ampliamos o vocabulário com termos como "novo normal", "lockdown" e "achatamento da curva".

Tudo isso, na melhor das hipóteses, com a tranquilidade de um mineiro dentro de um carro submerso em meio a um temporal ao som da sanfona do presidente da Embratur.

Mas, apesar de todos os pesares, o ano que se encerra também trouxe uma série de aprendizados. Confira abaixo alguns dos vividos por leitores da Folha. Agradecemos a todos que nos enviaram seus depoimentos —inclusive os que mandaram aqui nos comentários.

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Em 2020, eu aprendi que cada minuto ao lado de quem amamos deve ser importante e aproveitado. Aprendi que, por trás da máscara de cada pessoa que conhecia, havia olhares que desconhecia. Entendi que, ao cuidar da minha saúde, eu estaria preservando a de tantas outras pessoas. Compreendi que a distância é ruim, porém é um ato de amor. Passei a dar valor ao sol, aos risos e sons. Aprendi a amar e ter empatia por quem não conhecia. E, acima de tudo, aprendi a entender e dar valor a quem sou, a me ouvir e escutar cada sentimento que habita meu ser e há tempos havia deixado de lado. Enfim, aprendi que, para recomeçar, é preciso parar, se conhecer e depois continuar. (Carla Aparecida da Silva Vitor, 48, São Paulo/SP)

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Em 2020, eu aprendi que somos todos dependentes uns dos outros. Para resolver os grandes problemas do mundo, que não são poucos, todos devemos fazer parte das soluções. Moro de frente para o mar e cada amanhecer me enche de esperança de que, apesar de tudo, dias melhores virão. A janela é a minha saúde mental hoje. (Tony Nyenhuis, 49, Peruíbe/SP)

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Em 2020, eu aprendi a aceitar o que nunca consegui. E agora eu sei que "nunca" é um termo inexistente. Meu pai tem Alzheimer e está numa casa de repouso onde todos tiveram Covid-19 e seis idosos faleceram. Papai Cesar foi assintomático, menos mal. Mas meu coração se culpava por não tê-lo comigo na solidão dos primeiros meses pandêmicos e medrosos. Diante do nada, das paredes cor de nada, fiquei por dias a pensar nada. Comia-dormia por convenção. E assim aconteceu a aceitação, em que não há o que se fazer senão acolher o objeto perdido do “eu” na paz forjada do “self”. (Katia Mazzi, 56, São Paulo/SP)

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2020 foi um ano muito especial. Eu implementei uma parceria muito grande com meu marido. Resolvemos várias questões juntos e ficamos cada vez mais parceiros, dividindo todas as preocupações e responsabilidades com uma grande leveza no relacionamento. Por outro lado, trabalhei muito, cozinhei muito —do que até gosto bastante. E, por incrível que pareça, li menos que de costume, estudei menos, vi menos palestras e assisti a menos filmes. Ganhei um neto, o que foi um grande aprendizado, já que hoje em dia a participação dos avós é bem diferente. Nossos filhos são mais bem resolvidos e independentes. Acho que eu queria ser mais vovozinha e a pandemia atrapalhou. (Letícia Alvetti, 61, Brasília/DF)

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Em 2020, eu aprendi que não temos o controle da vida, que ela passa muito rápido e que realmente nada dura para sempre. Em poucos meses, perdi minha mãe, meu padrasto e passei por uma cirurgia de emergência. Mas a vida continua e sobrevivemos às tristezas, aos medos e às indefinições. Por mais que o ano não tenha sido feliz, alguns momentos foram, e o que podemos fazer é estar abertos para quando eles voltarem. Aproveitar cada momento ao máximo possível e se permitir sentir as emoções faz de nós humanos e aprendizes da vida. (Eline Keiko Tsutiya Tanaca, 35 anos, São Carlos/SP)

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Em 2020, aprendi a manter a quietude do coração e da mente, respirando fundo para compreender o que está ao meu alcance e tolerar o que não posso mudar. Aprendi o real sentido de "menos é mais", com menos reuniões, menos consumo, menos luxo, menos vai-e-vem e menos estresse. Aprendi que depende de mim em fazer deste ano o melhor ano da minha vida. (Angélica Margarida Ana Bodendorfer, 60, Curitiba/PR)

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Em 2020, eu aprendi a conviver com duas pandemias: a do coronavírus e a da imbecilidade. Esta, uma vez que potencializa aquela, é a mais grave! (Rosana Souza, 49, Alagoinhas/BA)

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Em 2020 eu aprendi a viver um dia de cada vez. A pandemia me fez ver com mais clareza o valor do tempo e do convívio familiar. Aprendi a digerir as dores da incerteza e ver o real impacto da colaboração diante das maiores dificuldades. Aprendi a respirar profundo e a simplesmente agradecer pelas infinitas possibilidades dessa existência. Foi um ano de muitas perdas, mas também de vários renascimentos (dentro e fora de mim). (Beatriz Bevilaqua, 32, São Paulo/SP)

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Em 2020, eu aprendi o que verdadeiramente é uma pandemia e as inúmeras portas que ela abre. Nessa onda de coronavírus, aprendi que, mesmo na dificuldade, as pessoas podem e mostram suas melhores e piores facetas. Aprendi que continua valendo a pena dar ouvidos à ciência, seguir com muita paciência, praticar a empatia e que é necessário certo distanciamento de pessoas negativas e que põem em risco nossa integridade física e mental. Aprendi o quanto dizemos que temos medo de morrer, mas somos irresponsáveis e imprudentes, e que o líder da nação não significa sabedoria, humildade e empatia. Aprendi que a vida humana é extremamente frágil e a união é uma força inigualável. Aprendi que preciso ter mais autocompaixão e atenção com quem me cerca e que esperança nunca é demais. (Elvira Antonia Santos Monteiro, 33, Catu/BA)

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Em 2020, eu aprendi o que é um burpee, corri ao redor da mesa da sala e descobri os locais e horários para tomar sol no nosso apartamento. Aprendi a fazer feijão e arroz para três dias e a descongelar a carne de amanhã. Aprendi o que são um mop e uma vassoura elétrica. Acima de tudo, aprendi que os governos sempre podem piorar o que já estava muito ruim. (Haymone Leal Ferreira Neto, 38 anos, Recife, PE)

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Em 2020, eu aprendi a cortar meu cabelo com máquina zero. (Frederico Alan da Cunha Ruas, 49 anos, Gama/DF)

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Em 2020, eu aprendi que o mais importante é viver, promover nossa realização pessoal e dos que nos cercam. Poder dormir ao final do dia e dizer: “Valeu a pena viver este dia!”. Esta sensação de realização não significa grandes ganhos financeiros, grandes prêmios, vitórias incontestes, mas muitas vezes pensar na vida como um dom divino que nos é dado e tirado diariamente. É fazer as escolhas nem sempre corretas, mas saber sempre retomar os caminhos perdidos e, acima de tudo, percorrer e viver o caminhar.

Viver é fazer escolhas e o melhor aprendizado é saber que, ao fazermos escolhas, abrimos mão de muitas coisas. Sem sofrimento ou dor, deixamos coisas pelo caminho que vão certamente nos fazer falta, trazer saudades, mas o maior aprendizado é fazer destas escolhas motivos e reforços para nosso amadurecimento e fortalecimento no caminhar.

O que mais aprendi? Que ainda tenho muito por aprender e 2020 me ajudou a ter claro que são sempre necessárias escolhas para a construção de novas aprendizagens, novas vitórias, novos caminhos! Salve 2020! Que venham muitos anos mais! (Ricardo Carvalho Rodrigues, 54, Caldas da Rainha, Leiria, Portugal)

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Em 2020, eu aprendi que a distância,
Que antes causava tristeza e solidão,
Hoje nos dá mais conforto e esperança
De que dias melhores virão.

Aprendi que o ser humano é frágil.
Vivemos tão ocupados e alheios
Que nem vimos o ano passar
Em meio a tanto devaneio.

“De repente, não mais que de repente”
Nos vimos prisioneiros de um inimigo invisível
Com medo e sem motivo para se ver contente.

Mas disso tudo veio o imprevisível
Nos tornamos mais fortes e tementes
E, em 2021, o futuro já nos é tangível.
(Bruna Aparecida de Araújo Sousa, 28, Guarulhos/SP)

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