Leia relatos de pessoas que já tiveram Covid

Folha perguntou aos leitores se têm ideia de quando, onde e como foram infectados

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São Paulo

Neste domingo (28), o Brasil chegou à média móvel de 2.598 mortes por Covid, maior número desde o início da pandemia. Foram 1.605 óbitos e 43.402 novas infecções registradas só nas 24 horas anteriores à divulgação dos dados pelo consórcio de imprensa. Com isso, chegamos ao total de 312.299 vítimas e 12.532.634 casos da doença.

Na última semana, pedimos aos leitores que já pegaram Covid que nos contassem como, onde e quando imaginam que tenham sido infectados pelo Sars-CoV-2.

Os relatos foram enviados por uma variedade de pessoas. Desde profissionais considerados essenciais –como os que trabalham em supermercados e UTIs–, que têm uma ideia mais consistente de onde contraíram o vírus, até aqueles que não fazem ideia de onde podem tê-lo encontrado, desconfiando de áreas comuns como transporte público e elevadores de condomínios.

Confira abaixo alguns dos depoimentos:

Meu primeiro sintoma foi em novembro de 2020, quando perdi o olfato. Fui ao médico, fiz o exame, sete dias depois saiu o resultado, cumpri a quarentena, refiz o exame e me curei. Como trabalho diretamente com o público, provavelmente contraí o vírus no ambiente de trabalho, já que minha única rotina é sair de casa para ir trabalhar. E no dia 18 de março novamente fiz o teste e me isolei, pois o amigo que mora comigo testou positivo e eu acordei gripado e com febre. Recebi o resultado positivo no dia 23. Mas desta vez não estou com nenhum sintoma, estou bem.
Gustavo Henrique Dos Santos, 19, caixa de supermercado, São Paulo (SP)

Como trabalho diretamente com o público, provavelmente contraí o vírus no ambiente de trabalho, já que minha única rotina é sair de casa para ir trabalhar

Gustavo Henrique Dos Santos

caixa de supermercado, 19, São Paulo (SP)

Estou de home office desde março de 2020 e, por isso, não tenho saído de casa com frequência. Na véspera do Natal comecei a espirrar, ficar com o nariz entupido e sinusite. Achei que fosse uma gripe comum. Três dias depois, perdi o olfato e o paladar. Aí percebi que poderia ser Covid. Fiz o exame PCR no mesmo dia, e no dia seguinte, veio a confirmação: era coronavírus. Como eu peguei eu não sei, mas sei exatamente onde: no supermercado. Na semana do Natal eu não saí de casa. Lembro que choveu a semana toda e eu saí apenas na segunda-feira, dia 21, para ir ao mercado fazer as últimas compras para a ceia. Fui a pé e voltei a pé, já que o mercado fica no mesmo quarteirão. Depois, não saí mais. Três dias depois, senti os primeiros sintomas. Então, pela linha do tempo e pelo período de incubação, me contaminei no supermercado, apesar de não saber como ou em que momento. Depois da perda do olfato e paladar, que durou cerca de 15 dias, não tive mais sintomas. Apenas cansaço e sinusite. Não tive tosse nem febre. Fiz os 15 dias de quarentena em casa e ninguém que mora comigo pegou. Quando fiz o teste de sorologia, apesar de ter tido um caso leve, já tinha desenvolvido anticorpos.
Patricia Lima, 42, fotógrafa e produtora cultural, Rio de Janeiro (RJ)

Três dias depois de ir ao mercado fazer as compras para a ceia de Natal, senti os primeiros sintomas

Patricia Lima

fotógrafa e produtora cultural, 42, Rio de Janeiro (RJ)

Depois de um ano trabalhando na linha de frente no combate ao coronavírus eu testei positivo para Covid. Trabalho como nutricionista clínica hospitalar intensivista desde o início da pandemia, em um hospital no interior de Minas Gerais. Sempre sendo extremamente cuidadosa, pois meu maior medo era levar esse vírus para a minha família. Mas a rotina está extenuante, não estamos mais dando conta, é paciente e mais paciente chegando, óbitos e mais óbitos e, agora, não são mais rostos desconhecidos como no princípio, são pais de amigos, de colegas de trabalho, são parentes, vizinhos… Não sei onde foi que eu me descuidei, mas a tendência agora, devido à exaustão, tanto física quanto psicológica, é essa. No momento, estou terminando de cumprir o isolamento. Tive sintomas leves da doença, graças a Deus, tomei as duas doses da vacina. Volto ao trabalho com medo redobrado e receio de que as coisas vão piorar e muito, com o perigo de reinfecção rondando.
Camila Caetano, 35, nutricionista de UTI, Itabira (MG)

Não sei onde foi que eu me descuidei, mas a tendência agora, devido à exaustão física e psicológica, é essa

Camila Caetano

nutricionista de UTI, 35, Itabira (MG)

Estava trabalhando de forma presencial antes do recesso de fim de ano, enfrentando o transporte público diariamente. Logo após o retorno, nos primeiros dias de janeiro, a situação piorou na cidade e a empresa retornou ao home office. Comecei a apresentar os sintomas da Covid-19 perto do dia 14 de janeiro. Os sintomas eram dor de cabeça forte e constante, febre baixa (entre 37 e 38 graus), dor no corpo, perda de olfato e paladar, enjoo, indisposição e falta de ar leve. Realizei uma teleconsulta pelo plano de saúde e consegui um atestado de 5 dias e um teste para Covid-19. O resultado veio bem depois: positivo.
Luiz Augusto Ribeiro Andrade, 30, escritor e revisor, Manaus (AM)

Minha infecção por Covid-19 aconteceu no final de junho de 2020. Como nessa época meu pai (hoje falecido por outra doença) estava hospitalizado, eu passava as tardes como seu acompanhante. Eram os momentos em que mais me expunha ao vírus: subindo escadas ou elevador, bebendo água, ajudando meu pai com idas ao banheiro, e até mesmo no contato com a equipe do hospital. Apesar de não ter certeza do momento exato da contaminação, naquela época eu vivia uma rotina da casa para o hospital. Os indícios de contaminação surgiram com coriza, indisposição e tontura. Na manhã seguinte aos sintomas, já sofria com um quadro de febre alta. Assim, fui até o posto de saúde, e o resultado do meu teste veio dias depois: contaminado! Uma semana após a consulta médica, retornei ao posto de saúde, pois haviam surgido sintomas de tosse, alergia na pele, enjoos, fraqueza e dores no corpo todo. De lá mesmo, a médica pediu minha internação hospitalar, pois a saturação de oxigênio no sangue estava baixa, apenas 88%. No hospital, detectaram uma pneumonia que já acometia 50% dos meus pulmões e, em menos de 48h no hospital, solicitaram internação em UTI e intubação. Meu caso era grave! Ao todo, foram vinte dias lutando pela vida, doze deles intubado. Atualmente, oito meses após a alta, estou forte e recuperado, mas ainda sinto um aflitivo desconforto no coração, possivelmente associado à ansiedade desenvolvida no processo da internação, além de irritação na laringe. Essa doença é muito séria e nem sempre contamos com o apoio necessário para o restabelecimento de nossa vida. Muitas pessoas não têm ideia do que é passar por um caso grave e, por isso, não se cuidam devidamente e nem consideram todos os infectados que estão ou estiveram lutando por suas vidas de forma digna. Mas a pandemia irá passar e acredito que todos teremos muitas lições a tirar para nossas vidas. Espero! Esta é minha maior esperança!
Daniel Seleme Trouche, 39, jornalista, Curitiba (PR)

Meu caso era grave, foram vinte dias lutando pela vida, doze deles intubado

Daniel Seleme Trouche

jornalista, 39, Curitiba (PR)

Sou paulistano, mas vivo no Rio de Janeiro há 20 anos e, no dia 20 de novembro de 2020, depois de mais de um ano sem ver minha família, resolvi ir de carro para São Paulo. Retornei no 22 e já no dia 24 senti os primeiros sintomas, que foram diarreia, febre e um pigarro que permaneceu por três dias. Nesse período, tomei apenas novalgina. Os sintomas cessaram e não senti mais nada. Por precaução, resolvi fazer um teste de farmácia que acusou negativo. Segui vida normal de isolamento e, quando foi no dia 30, percebi que não tinha mais olfato e paladar. Marquei então consulta com um médico, que solicitou o exame sorológico devido ao tempo do início dos sintomas, e o resultado deu reagente. Não apresentei nenhum problema mais e me sinto agraciado por isso. O temor permanece.
Marcos Antonio Lavrini, 64, aposentado, Rio de Janeiro (RJ)

Depois de mais de um ano sem ver minha família, resolvi ir de carro visitá-los; dois dias após o retorno, já senti os primeiros sintomas

Marcos Antonio Lavrini

aposentado, 64, Rio de Janeiro (RJ)

Peguei Covid-19 em outubro de 2020. Eu moro em Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, e acho que peguei na capital, quando fui visitar a minha mãe, pois o bairro em que ela mora, Sarandi, era o mais infectado pela pandemia na cidade. Meu pai ficou alguns dias muito gripado de cama, mas não fez o teste, ele tem mais de 65 anos e, logo em seguida, eu e minha mãe ficamos com os mesmos sintomas. Ela ficou com uma gripe muito forte, dores no corpo e sem sentir gosto nem cheiro, e também com muito desânimo. Eu apenas fiquei com dor de garganta, tosse e sem olfato, mas não me senti muito mal, apenas achei que era resfriado. Mas, ao ver minha mãe naquele estado, nós dois fizemos o teste PCR e deu positivo. Ela recobrou o olfato e o paladar aproximadamente um mês ou mais depois de curada. Eu recuperei o olfato uma semana depois dos primeiros sintomas. Eu apenas tentava lembrar o cheiro das coisas e cheirava tudo que tinha em casa, lembrando o cheiro que tinha. Um dia acordei de manhã e não sentia o cheiro de nada, mas de tarde fui tentar cheirar um detergente em casa e senti que havia recuperado o olfato e isso foi um alívio.
Pablo Laffaet Stefanes Soares, 32, psicólogo, Porto Alegre (RS)

Acho que peguei quando fui visitar minha mãe, pois o bairro em que ela mora era o mais infectado pela pandemia em Porto Alegre

Pablo Laffaet Soares

psicólogo, 32, Gravataí (RS)

Fui diagnosticado com Covid-19 em 30 de dezembro de 2020. Os sintomas começaram no dia 28 de dezembro, nessa ordem: irritação na garganta; tosse seca, dor nas costas, dor nas articulações, fraqueza, dor de cabeça, aumento em 50% nos batimentos cardíacos e febre. No hospital, um médico do SUS e sua equipe me atenderam muito bem e fizeram ressonância do pulmão, que apontou que o órgão ainda não tinha sido afetado. Não sei como fui infectado. Nos últimos 15 dias não fui a nenhum mercado ou qualquer outro local público. Os únicos locais que frequentei, com cuidados como distanciamento, foram a Apremavi (Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida), onde tive contato com cinco ou seis pessoas. Também estive na casa da minha mãe, do meu irmão e do meu sobrinho. Ao todo, um círculo de umas 20 pessoas (nunca todas juntas), das quais ninguém apresentou nenhum sintoma até agora. Ao longo dos dias, foram sumindo alguns sintomas e aparecendo outros, como perda total de olfato, dor na coluna, falta de ar, disenteria e tosse seca. Retornei ao hospital no 13º dia e, após ser mandado para casa pela enfermeira após a triagem, insisti para ver o médico, que me pediu uma nova ressonância dos pulmões, que detectou pequenas manchas, e diversos exames de sangue, que indicaram uma pneumonia bacteriana. No 18º dia, pude retornar às minhas atividades normais e, no 19º, saiu o resultado do exame de anticorpos, mostrando que o vírus já não estava mais ativo. Atualmente, mais de 80 dias após os primeiros sintomas, o olfato ainda não voltou. Tem dias que tudo tem cheiro de esgoto ou de querosene. Ao todo, perdi oito quilos e metade dos cabelos, e ainda não consegui retomar minha corrida diária. No mais, aos poucos parece que a condição física vai voltando ao normal. Enquanto aguardo a minha vez de tomar vacina, continuo usando máscara, mantendo distanciamento social e saindo o mínimo possível, apenas para ir à farmácia ou ao supermercado. Ah, também procuro manter distância dos apoiadores do inominável genocida e de qualquer orientação que venha dele.
Wigold Schaffer, 61, aposentado, Atalanta (SC)

Mais de 80 dias após os primeiros sintomas, perdi oito quilos e metade dos cabelos e meu olfato ainda não voltou

Wigold Schaffer

aposentado, 61, Atalanta (SC)

No final de fevereiro de 2020, saí de férias. Fui a saunas e bares onde tive contato físico de maneira muito ativa. Depois de 15 dias, quando já havia sido declarada a pandemia no Brasil e sugerido o isolamento social, comecei a ter febre de 38,5 ºC durante 12 dias, leve diarreia e dores musculares, sem coriza. Me isolei totalmente. Do décimo terceiro ao décimo quinto dia, a febre foi diminuindo e sumiu. Fiquei por seis meses sem contato sexual ou físico com outras pessoas. Voltei aos poucos. Agora estou me isolando novamente.
Eron Silva, 55, analista de negócios, São Paulo (SP)

No final de fevereiro de 2020, saí de férias e fui a saunas e bares onde tive contato físico de maneira muito ativa

Eron Silva

analista de negócios, 55, São Paulo (SP)

Mesmo tomando todas as precauções propostas pelos órgãos de saúde, em julho de 2020, meu filho de sete anos teve febre, minha filha de 14 anos estava dormindo bastante, sentindo-se sem energia, e eu tinha dores no corpo. Mas pensávamos que era somente um resfriado. Quando meu filho teve febre de 39,5 graus, liguei para meu médico, que passou um antitérmico e pediu que fôssemos ao consultório dele no dia seguinte. No consultório, ele nos examinou e, diante dos sintomas e características, desconfiou de Covid. A febre do meu menino durou só um dia, mas os outros sintomas continuaram. Fiz o exame de sangue, que deu positivo, com contágio havia mais de 14 dias. O do meu marido, surpreendentemente, deu negativo. Daí por diante, antibióticos e leitura de oxigenação. Não tivemos tosse e falta de ar nem perdemos paladar e olfato. Tive dores de cabeça fortes. Houve uma madrugada em que acordei às 3h com uma dor de cabeça tão forte que parecia uma tortura, a vontade era de bater a cabeça na parede com tudo para acabar com aquele sofrimento de uma vez. Veja, não tenho depressão e nem pensamentos suicidas. Mas, naquele momento, essa era minha vontade. Tomei três comprimidos de analgésico e fechei os olhos. Acabei adormecendo e, no dia seguinte, a dor de cabeça estava mais fraca. Os sintomas (leves perto de tanto sofrimento que estamos vendo por aí) duraram mais de mês, mas ficamos bem. Não visitamos ninguém, nem meus pais e sogros. Não temos ideia de onde pegamos. Talvez no supermercado, era o único lugar a que eu ia uma vez por semana.
Karina Santos Ferreira Souza, 40, professora, Mogi das Cruzes (SP)

Houve uma madrugada em que acordei às 3h com uma dor de cabeça tão forte que parecia uma tortura, a vontade era de bater a cabeça na parede com tudo para acabar com aquele sofrimento de uma vez

Karina Santos Ferreira Souza

professora, 40, Mogi das Cruzes (SP)

Contraí Covid em dezembro do ano passado. O resultado positivo foi confirmado no primeiro dia de janeiro. Nunca existe certeza da origem do contágio, mas os indícios apontam para o irresponsável e condenável evento festivo de fim de ano promovido por uma igreja evangélica da minha cidade. Em uma ação sem sentido e impensada, os responsáveis pela igreja mantiveram e promoveram a cantata de fim de ano. Imagine um grupo de jovens e idosos cantando, sem máscara, em plena pandemia. Resultado deste grandioso e "abençoado" evento: mais de sete integrantes deste coral tiveram resultado positivo para Covid. Uma das integrantes, idosa, não resistiu e morreu. Uma semana depois do evento, ela estava com dois familiares hospitalizados, sendo um deles membro ativo do coral. Tive os primeiros sintomas três dias depois de correr com ele atrás de uma das UPAs aqui de Curitiba. Eu e minha esposa, cardíaca congênita e com capacidade pulmonar reduzida, tivemos a confirmação do abominável resultado positivo. Passamos juntos pelo isolamento de 15 dias. Os sintomas foram leves: coriza, dor de cabeça, febre, cansaço. Foram as piores noites da minha vida. Não dormia, desmaiava. O medo era de não acordar. O sétimo, oitavo e nono dias foram indescritivelmente piores. Não tenho palavras para o pavor, horror e ódio de estar em uma situação tão desesperadora, em que não existe nada a fazer além de esperar. Tenho profundo ressentimento e desprezo ao fanatismo, à barbaridade, à estupidez e ao oportunismo dos “seres” que assombram tal igreja. Um humano, um igual, um irmão não coloca a vida do próximo em risco.
André Pioto, 39, engenheiro, Curitiba (PR)

Um humano, um igual, um irmão não coloca a vida do próximo em risco

André Pioto

engenheiro, 39, Curitiba (PR)

Eu sempre tomei todos os cuidados dentro desse ‘novo normal’ que estamos vivendo: máscara no nariz, álcool em gel nas mãos e distanciamento social de 1,5 metros sempre que possível. Já cheguei a pedir para se afastarem na fila do mercado, aguardarem a marcação na escada rolante e até colocarem a máscara de volta quando a tiraram do meu lado no ônibus. Mas, mesmo assim, fui infectada pela Covid19. Quando vi escrito “detectado” no resultado do meu PCR, fiquei ainda mais intrigada, tentando rastrear onde foi que me contaminei: nos cinco dias anteriores aos meus sintomas, eu havia ido andar de bicicleta na praia, bebido água de coco num quiosque, almoçado um dia na rua e andado de ônibus. É impossível ter certeza de onde foi, mas tudo indicava que tinha sido no transporte público: mais de uma hora num ambiente fechado cheio de gente com ar-condicionado. Comecei com dor de garganta e dor de cabeça, fiquei suando frio dois dias e tive febre um dia. A dor de garganta cedeu lugar para uma irritação na laringe e tosse. Aí vieram três dias de diarreia. No pior dia até agora, senti uma pressão enorme no peito, que parecia ansiedade, mas que era bem diferente das crises que eu já havia tido até então. Não existe sintoma leve quando falamos em Covid. Podem até existir sintomas menos ruins, mas leves, não. Eu estou bem agora, mas meu exame de sangue apontou alteração na coagulação e a tomografia que farei amanhã pode apontar comprometimento dos meus pulmões. Uma amiga minha desenvolveu problemas cardíacos pós-Covid; outra está fazendo fisioterapia respiratória. Estar com Covid é estar diante de uma doença que é uma caixinha de surpresas, você não sabe o que esperar. Se você tem fé, você reza para não precisar ir ao hospital ou ser internado – afinal, não há leitos e nem mais respiradores. Quando meus sintomas começaram, eu achava que não era Covid, mas fiquei em isolamento. Dor de garganta não é uma novidade para mim. Mas, quando as suspeitas se confirmaram, eu me deparei com duas grandes questões: será que eu tinha contaminado alguém? Como devo tratar a doença? Nos dias anteriores aos meus sintomas, eu havia encontrado meu pai, minha avó, meu irmão e cunhada e duas amigas minhas –foi um alívio descobrir que nenhum deles havia sido infectado. Eu não saberia lidar com a culpa de ter contaminado qualquer pessoa, em especial as que eu amo.
Raisa Ribeiro, 31, professora universitária, Rio de Janeiro (RJ)

Eu não saberia lidar com a culpa de ter contaminado qualquer pessoa, em especial as que eu amo

Raisa Ribeiro

professora universitária, 31, Rio de Janeiro (RJ)

Sou psicoterapeuta e passei a atender online, trabalhando em casa. Peguei Covid em setembro de 2020, do meu marido. Ele precisou voltar a trabalhar presencialmente, deve ter sido contaminado no trabalho. Eu só tive sintomas leves. Se não tivesse perdido o olfato, talvez nem tivesse percebido. Mas meu marido ficou em estado bem mais grave. Teve 25% do pulmão atingido e não foi internado por um triz. O médico avisou que o oxímetro não podia baixar de 90. Chegou a 89, mas seguramos e ele foi melhorando em casa. Mal conseguia falar, dormia o dia todo, exausto. Foi um susto. Continuamos com todos os cuidados, mesmo estando com anticorpos.
Adriana Moretta, 56, psicoterapeuta, Rio de Janeiro (RJ)

Mesmo atendendo online, peguei Covid em setembro de 2020, do meu marido, que deve ter sido contaminado no trabalho presencial

Adriana Moretta

psicoterapeuta, 56, Rio de Janeiro (RJ)

Em 31 de dezembro de 2019, após retornar de um cruzeiro internacional de 8 dias, eu senti os primeiros sintomas do que achava ser uma virose, dores no corpo que persistiram por alguns dias e dor de cabeça. Não tive febre. Fiz uso de um antigripal comum. Durante duas semanas, mantive um quadro muito parecido com uma gripe, com o incômodo de ter muita dor de cabeça. Após estes sintomas, uma tosse prolongada, por vários dias, que não passava com qualquer xarope. Sou asmática, não tive falta de ar durante todo esse processo, por isso não desconfiava que pudesse ser Covid. Todas as notícias falavam em falta de ar. Tomei os xaropes a que estava acostumada e a tosse desapareceu, dando lugar a um cansaço incomum. Dois degraus de escada me deixavam tão cansada como se tivesse corrido vários quilômetros. Após isso, até fim de abril e meados de maio, não tinha paladar. Tudo era sem gosto. As confusões mentais também eram recorrentes, eu esquecia palavras do meu dia a dia do trabalho. Tinha dificuldade de me concentrar e de decorar textos. Passei a desconfiar que poderia ser Covid. Mas, como já estava em isolamento, tinha medo de sair e contrair indo a médicos e laboratórios, caso não fosse. Meus filhos adolescentes e marido tiveram no máximo dois dias de sintomas bem leves. Por isso, a dúvida se era Covid ou não persistia. Mantive o isolamento, trabalhando em home office, restringindo ao máximo as minhas saídas. No final de janeiro deste ano, a pessoa que trabalhava em minha casa começou a se queixar que estava com crise de labirintite. Jamais desconfiei que pudesse ser Covid, porque ela estava bem (e continuou com sintomas bem leves, tendo sido medicada posteriormente como crise de sinusite e nunca foi testada, porque não apresentava os sintomas clássicos). No dia 5 de fevereiro, comecei a ter dor de cabeça e fiz chamada de telemedicina. Fui orientada a fazer o exame em três dias, para evitar falso negativo do resultado. Feito o exame, o resultado deu positivo. Meu marido e filhos também fizeram o exame e deu negativo. Não obstante, apresentaram sintomas depois. Meus filhos ficaram por 2 a 3 dias com sintomas. Meu marido chegou a ser internado também, por 10 dias, pelas complicações da Covid. Passei os primeiros 5 dias com sintomas muito leves, uma pequena dor de cabeça. Por causa da asma, monitorava a oxigenação diariamente. Após o 5º dia, tive dores no corpo, indisposição, perda do apetite e febre fraca. No 11º dia, acordei me sentindo muito bem, já achava que era o fim do ciclo viral. Lavei roupas, ajeitei a casa, comi bem e fui me deitar. Acordei péssima no 12º dia, com a oxigenação já batendo 86. Fui levada para o hospital de ambulância. Fiquei internada 8 dias com suporte de oxigênio e 50% dos pulmões comprometidos. Além disso, meu exame de dímeros acusava um alto risco de AVC ou trombose. Tomei anticoagulantes durante todo o tempo internada e ainda mais 15 dias após sair. Nossa família se recuperou. Estamos todos bem. Mas os alimentos continuam todos sem gosto e aquele “esquecimento” continua. Não consigo me lembrar palavras simples do dia a dia, esqueço o que estava fazendo. Minha memória é ótima e a concentração idem, mas não estão assim.
Adriana Magre Anghinoni, 49, advogada, Louveira (SP)

No 11º dia, acordei me sentindo muito bem, lavei roupas, ajeitei a casa, comi bem e fui me deitar; acordei péssima no 12º dia, com a oxigenação já batendo 86

Adriana Magre Anghinoni

advogada, 49, Louveira (SP)

Tive meus primeiros sintomas em 28 de fevereiro, um domingo em que estava na fazenda com marido e filha. Na volta para a cidade, usei máscara durante todo o trajeto. Na segunda de manhã, o principal sintoma foi dor de garganta e moleza, passei o dia deitada. Na terça iniciei com estado febril e, na quarta, confirmei com exame de antígenos. Atualmente, continuo sentindo cansaço, apesar de não ter baixado em nenhum momento a saturação de oxigênio nem ter sentido falta de ar. Não tenho certeza, mas desconfio que peguei Covid com uma colega de trabalho, que, como eu, não tirava a máscara em nenhum momento, pois morria de medo de pegar Covid. Mas compartilhávamos o mesmo banheiro e ela entrava com frequência na minha sala. No ambiente de trabalho, apenas eu e ela tivemos, e os sintomas foram leves.
Ana Paula Melibeu, 57, coordenadora administrativa escolar, Jaboatão dos Guararapes (PE)

Fui convidada por um amigo para participar de uma reportagem para a Folha de S.Paulo. Ele mora na capital paulista, mas estava em BH, onde moro. Nos encontramos para conversar sobre num sábado. Tudo normal. Domingo, aniversário da minha mãe. Grupo de risco, inclusive. Abracei, beijei! Tudo normal. Na quarta, acordei cansada e com dor de cabeça. Fiz uma consulta on-line e o médico disse que deveria ser apenas uma noite mal dormida e que eu devia dormir e comer bem. Ainda desconfiada, me isolei no quarto. Quinta-feira, mesma coisa. Sexta, terceiro dia de sintomas, fiz o teste. Tomando o café da manhã, percebi que a vitamina que eu tomava havia perdido seu sabor. No sábado à noite, foi detectado o RNA do Sars-Cov-2. A sorte esteve ao meu lado. Não transmiti a ninguém e me recuperei com tranquilidade.
Marina Trajano, 20, estudante universitária, Belo Horizonte (MG)

Eu peguei Covid próximo do dia 20 de outubro de 2020, quando a situação já estava supostamente "mais controlada". Minha suspeita é que peguei no mercado ou na padaria. Estava levando uma rotina bem restrita, mas, num sábado, saí de casa (de carro e máscara) para passar num mercadinho do bairro e, na sequência, em uma padaria. Na padaria, cometi o erro de tomar um café enquanto esperava sair o pão. Pedi um café expresso e sentei no balcão, onde tirei a máscara para tomar o café. A padaria era pequena e, mesmo com o esquema de uma mesa sim, uma não, não tinha espaço para distanciamento. Minha suspeita é de que foi nesse momento, ou pelo ar ou pela xícara, não sei dizer. Na terça-feira seguinte, comecei a ter alguns sintomas respiratórios, parecidos com rinite. Como eu tenho rinite, não desconfiei. Na época, lembro de ouvir falar que o alerta era ter febre. Fiquei medindo minha temperatura e estava tudo ok. No dia seguinte, comecei a sentir algo parecido com sinusite, dor no nariz, na região dos olhos e dor de cabeça. Comecei a tomar antialérgicos e antigripais, não melhorava. Estava crente de que era uma sinusite forte, quando perdi o olfato e o paladar e desconfiei da Covid. No dia seguinte, fui fazer o exame. Dois dias depois, chegou o resultado positivo. Passei no hospital e não havia nenhum comprometimento pulmonar, eu estava com uma versão "leve" da doença (que não era leve). Fui para casa com a relação de medicamentos e a recomendação para observar. Se surgisse qualquer piora a partir do décimo dia, devia voltar ao hospital. Eu sentia um cansaço extremo, não conseguia passar mais de 2 horas acordada, não conseguia me concentrar, nem articular uma conversa, sentia muita dor de cabeça, que não passava com analgésicos, e dor no corpo. Não tive praticamente nenhuma melhora até o 14º dia, mas não piorei também. Depois dos 14 dias da doença, senti uma melhora nas dores, no nariz e na capacidade de ficar acordada e conversar. Foi a minha alta, mas os sintomas não pararam aí. Acredito que tive o que ouvi chamarem de Covid persistente, prolongada ou síndrome pós-Covid. Passei a ter diversos sintomas gastrointestinais, passei cerca de 90 dias com dor e intestino desregulado. Meu condicionamento físico demorou muito a voltar, tinha muito cansaço de andar um quarteirão ou fazer alongamentos simples, por exemplo. A sensação depois é que eu estava com uma gripe forte, de tanta dor no corpo. Isso afetou muito a minha vida, porque quando você está de alta, todos te cobram retomar um desempenho, seja no trabalho, seja nos estudos. E eu não estava no meu estado normal, demorei muito para recuperar a concentração, acho que ainda não restabeleci 100%. Fora o abalo emocional de sentir que você não melhora e não há o que fazer. Meu olfato não voltou totalmente, sinto cheiros diferentes do que sentia antes e outros não sinto. O paladar demorou muito a voltar e também sinto gostos diferentes do que sentia antes. É uma doença muito complexa e praticamente não ouço aprofundamentos sobre essas questões posteriores. Mesmo médicos não sabem dizer, meu tratamento posterior foi tipo "vamos tentar isso para ver se funciona", porque ninguém sabe ao certo.
Bruna Allegretti, 29, jornalista, São Paulo (SP)

Na padaria, cometi o erro de tirar a máscara para tomar um café enquanto esperava sair o pão

Bruna Allegretti

jornalista, 29, São Paulo (SP)

Meus primeiros sintomas de Covid-19 surgiram em 10 de setembro de 2020. Trabalho na Barra Funda e utilizo transporte público da Zona Leste até a Zona Oeste. No transporte, com pessoas aglomeradas, vi um cidadão com máscara no queixo e espirrando bastante. Cinco dias depois, já me sentia indisposto. Fiquei com muito medo, pois sou asmático, porém, tive sintomas leves: Dor de cabeça, coriza e nariz congestionado. Uma semana depois, já me sentia bem, não possuo sequelas.
Victor Carneiro Batista, 23, assistente de marketing, São Paulo (SP)

No transporte, com pessoas aglomeradas, vi um cidadão com máscara no queixo e espirrando bastante; cinco dias depois, já me sentia indisposto

Victor Carneiro Batista

assistente de marketing, 23, São Paulo (SP)

Contraí a Covid-19 em novembro de 2020. Fui a uma festa com os amigos para comemorar um "pré-Natal". Todos nós tivemos contato bem próximo uns com os outros. Dias após a festa, várias pessoas que estavam presentes começaram a sentir sintomas. Nisso, vieram os resultados positivos para o coronavírus. No total, 13 pessoas foram contaminadas, incluindo eu. De início, senti muita dor nos olhos, ao virá-los para qualquer direção. Dias depois, foram pequenas dores no corpo. Após 10 dias de isolamento, estava liberado e comecei a seguir a vida normalmente. Com isso, pude enxergar que uma simples festinha com os amigos pode, sim, trazer riscos para nós.
Vinicius Mello, 16, estudante, Belo Horizonte (MG)

Pude enxergar que uma simples festinha com os amigos pode, sim, trazer riscos para nós

Vinicius Mello

estudante, 16, Belo Horizonte (MG)

Eu fui um dos raros casos de infecção assintomática pela Covid-19. Trabalhei como médica intensivista em UTI e semi-UTI Covid de abril a outubro de 2020 e, agora, desde janeiro de 2021. De abril de 2020 até o momento, sem pausa, realizei inúmeras traqueostomias em pacientes com Covid-19 intubados há muito tempo, mesmo quando a pandemia parecia ter arrefecido. Por volta da primeira semana de agosto do ano passado, comecei a sentir cansaço e mal estar geral, dor de cabeça e dor na face. Não eram sintomas cabais de Covid-19, mas hoje sabemos que esta infecção causa inúmeras síndromes. Isso foi num sábado de folga. Na segunda, assim que cheguei à UPA onde trabalhava e estaria de plantão, procurei meu chefe e o informei da situação. Coincidentemente, naquela manhã, estavam realizando na UPA, de forma voluntária, testes rápidos de sorologia para os funcionários. Fiz o teste e o resultado foi positivo para IgG e IgM, ou seja, infecção ativa. Fui prontamente dispensada e orientada a colher o swab e permanecer em isolamento completo em casa. No dia seguinte, o resultado deste primeiro swab veio negativo. Com receio de ter colhido precocemente (com 3 dias de sintomas), procurei um pronto-socorro de um hospital, cujo laboratório do swab era diferente do qual eu havia colhido anteriormente e acabei fazendo também outros exames de sangue e tomografias de tórax e seios da face. Os exames, com exceção do swab, saíram em cerca de 2 horas e estavam normais. As tomografias idem, salvo uma sinusite leve à direita. Mantive o isolamento social e logo na quinta o swab da quarta estava pronto: negativo. Voltei a trabalhar e tratei a sinusite com um dos muitos antibióticos indicados para tal. Intrigada com aquele primeiro teste rápido positivo, colhi um exame de sorologia para Covid dois dias depois. O resultado: IgG elevado (156) e IgM zerado (0,4). Traduzindo: tive Covid em algum momento (impossível saber quando, mas no mínimo 4 semanas antes do teste), mas não estava com a infecção aguda, tampouco transmitindo. Eu era totalmente cética à Covid-19 assintomática. Vendo somente casos graves e gravíssimos e desfechos desfavoráveis 72 horas por semana por 6 meses, não acreditava em infecções sem sintomas. Casos leves, ok, mas jamais acreditei que um quadro de Covid-19 agudo pudesse passar despercebido. Cética, acabei convertida.
Samira Jorge Ferrari, 35, médica, São Paulo (SP)

Vendo somente casos graves e gravíssimos e desfechos desfavoráveis 72 horas por semana por 6 meses, jamais acreditei que um quadro agudo pudesse passar despercebido; cética, acabei convertida

Samira Jorge Ferrari

médica, 35, São Paulo (SP)

Desenvolvi Covid-19 no dia 11 de março de 2021. Começou com dor de cabeça e fadiga muscular, tomei dipirona e me isolei por precaução. Mesmo com muita dor de cabeça e no corpo, decidi não tomar nenhum outro remédio ao longo do dia, pois queria identificar se eu desenvolvia febre. Ao final do dia, atingi o limite mínimo de febre, 37,5°C, tomei mais uma dipirona e fui dormir. No dia 12, já acordei com febre e uma dor muito forte no corpo inteiro. Considerando que eu não havia participado de nenhuma aglomeração e havia parado de frequentar o laboratório em que trabalho havia mais de uma semana, entrei em negação e acreditei que meu mal deveria ser dengue, principalmente pois eu não apresentei nenhum sintoma respiratório. De qualquer forma tentei marcar um exame de RT-PCR, mas só consegui agendar para o dia 15. Para acelerar o diagnóstico e entender se precisaria avisar aos poucos que tive contato no dia 10, agendei um exame de antígeno em uma farmácia no dia 13. O segundo dia de infecção foi terrível, tinha dores até em pisar no chão. Fiquei com febre o dia inteiro, mesmo tomando uma dipirona pela manhã. Decidi mais uma vez não forçar o antitérmico por dados que mostram que a febre abaixo de 40°C é na verdade benéfica para curso de infecções, nossas células do sistema imune realmente trabalham melhor acima de 37°C. Só tomei mais um paracetamol antes de dormir para conseguir relaxar da dor de cabeça e no corpo. No terceiro dia, acordei melhor, ainda cansada, me sentindo desidratada mesmo tomando bastante água, mas não tinha febre. Para minha surpresa, meu teste de antígeno deu positivo. Realmente a taxa de transmissão no nível atual é incontrolável, não podemos nos proteger sozinhos, dependemos um do outro. Definitivamente é uma doença coletiva. Não sei onde peguei, talvez no elevador, mesmo de máscara. Talvez no ônibus fretado que pegava, usando duas máscaras (uma de pano sobre uma cirúrgica) de Campinas (onde moro) até São Paulo (onde trabalho), 8 dias antes dos sintomas se iniciarem. Felizmente não tive outros sintomas, realmente não desenvolvi nem tosse. Minha saturação de oxigênio ficou em 94, nada preocupante, mas provavelmente abaixo do normal para uma pessoa de 30 anos e saudável como eu. Meu marido não desenvolveu sintomas, ainda não sabemos se ele também foi infectado. O pior dessa doença foi o medo. Medo de faltar ar, medo de ter contaminado alguém. Foi difícil perceber essa falha dentro de meus protocolos de proteção, recebi várias mensagens de “não acredito que VOCÊ pegou”. Espero que meus conhecidos tenham se conscientizado ainda mais com minha experiência. Em uma pandemia, precisamos caminhar juntos, precisamos de um governo forte e sério. Estamos sendo governados por um irresponsável que está nos conduzindo para o fundo do poço.
Marina Rocha da Fonseca, 30, bióloga, Campinas (SP)

Não sei onde peguei, talvez no elevador ou no ônibus fretado que pegava para o trabalho, mesmo usando duas máscaras

Marina Rocha da Fonseca

bióloga, 30, Campinas (SP)

Tive diagnóstico de Covid em 26 de outubro de 2020. Estava sentindo um pouco de dores de cabeça naquela semana. Mas, como tenho enxaqueca, só comecei a desconfiar quando tive febre. Em seguida, perdi olfato e paladar, fui ao pronto-socorro e fizeram o teste. Quando saiu o resultado, perdi o chão, uma mistura de dor com medo, pânico de achar que iria piorar, que poderia ter transmitido a outras pessoas. Tenho uma filha de 6 anos de quem precisei ficar distante por uns 20 dias. Iniciei o tratamento com medicação e foram 15 dias de isolamento total e dores intensas, na cabeça, no fundo dos olhos, na lombar, nenhum remédio aliviava. E um cansaço infinito, mal aguentava ficar em pé. Graças ao apoio do meu esposo, da minha mãe, de outras pessoas que, mesmo à distância, mandavam mensagens e ligavam, e da minha fé, consegui superar esse momento tão difícil. Não sei como peguei, pois trabalho numa indústria. Apesar de ser administrativo, continuamos trabalhando normalmente, tenho muitos contatos com pessoas externas, fui ao supermercado várias vezes. Mesmo tomando todos os cuidados com máscaras, álcool etc., infelizmente peguei. Agradeço a Deus todos os dias por não ter ficado tão grave e ter sobrevivido a essa triste doença. Se cuidem e, se puderem, fiquem em casa, isso é muito sério.
Priscila Justiniano Rodrigues, 38, supervisora de RH, São Paulo (SP)

Fui infectado em julho de 2020. Acredito que foi por estar em transporte público, visto que moro sozinho e tomo todos cuidados. Hoje estou vacinado.
Jose Luiz Camara, 68, professor de educação física, São Paulo (SP)

Meu companheiro esteve num restaurante com colegas de trabalho e, três dias depois, teve muito cansaço e dor de cabeça. Outros três dias depois, fui eu que iniciei com sintomas mais graves, febre alta, dor forte no corpo, principalmente nas pernas e no joelho, um peso na cabeça, dor de garganta. Isolei-me e passei a acompanhar os sintomas, medicada. A febre baixou no segundo dia, mas surgiu a tosse seca e a perda de paladar e de olfato. Um desânimo mental. O teste confirmou Covid no quinto dia. Tive dificuldade para respirar durante duas noites, mas nada mais grave, além de muito cansaço e dores no corpo. Hoje faz 15 dias do primeiro sintoma. Fadiga e tosse seca ainda acompanham, o restante não. Tive sorte e estou fora de perigo.
Vanessa Chacur Politano, 33, advogada, São Paulo (SP)

Meu companheiro esteve num restaurante com colegas de trabalho e, três dias depois, teve muito cansaço e dor de cabeça; outros três dias depois, fui eu que iniciei com sintomas mais graves

Vanessa Chacur Politano

advogada, 33, São Paulo (SP)

Desde o início da pandemia no Brasil, faço isolamento social, deixei de usar metrô, táxi, usando apenas meu próprio carro para viajar eventualmente à serra. Na terceira semana de janeiro deste ano, senti leve dor de garganta, febre e, desde já, comecei a tomar dipirona líquida por minha conta. No decorrer dos dias, sem perder em nenhum momento a capacidade respiratória, tive uma crescente perda de olfato e paladar, de tal modo que, no 5º dia, meu olfato acabou. Nem mesmo o cheiro de Vick Vaporub no nariz eu conseguia distinguir. A médica me enviou os exames para fazer, PCR, IGG e IGM, mas antes mesmo do resultado, já tinha certeza pessoal de que havia contraído o vírus pelo sintoma inusitado. O PCR reagente apenas confirmou. Posso dizer que minha sintomatologia foi muito benéfica, já que, rigorosamente, a única medicação que tomei foi mesmo a dipirona líquida. Com o tempo, o organismo começou a reagir e detectei crescente retomada do olfato e do paladar. A febrícula desapareceu e minha médica me deu alta, determinando, todavia, que fizesse o IGG e o IGM. O resultado do IGG foi excelente, já que produzi uma taxa de 91% de anticorpos. A partir da alta, passei a usar duas máscaras ao invés de uma e, quando vou fazer compras no supermercado, uso luvas descartáveis. Como não aglomerei durante esse último ano e parei de usar o álcool em gel por causa de uma forte reação alérgica ao uso prolongado, minha hipótese é a de que contraí o vírus provavelmente em carrinho ou cesta de compras ou mesmo digitando em máquinas de cartão de crédito, sem lavar as mãos com o devido cuidado. Usei muito pouco o sistema de delivery, de modo que, de duas a três vezes por semana, fazia compras de mantimentos e/ou medicação em farmácia.
Jose Paulo Porto Bernardes, 69, advogado, Rio de Janeiro (RJ)

Meus sintomas começaram no dia 21 de fevereiro. Apenas tosse seca. Após dois dias, a tosse continuava e comecei a sentir muita dor de cabeça, além de extremo cansaço. Fiquei assim por uns 10 dias, mas a tosse cessou apenas uns 20 dias depois. Não apresentei nenhum dos outros sintomas. Acredito que tenha pegado no supermercado, um dia antes do primeiro sintoma. Eu estava com muita sede e comprei uma garrafinha de água no café do local. O atendente pegou a garrafa de dentro da geladeira e eu, sem pensar, bebi direto da garrafa. Minha mãe, que estava comigo, também quis água, mas para ela, felizmente, servi em um copo. Ela não foi contaminada.
Jaqueline De Grandi, 51, coordenadora pedagógica em editora, São Paulo (SP)

Tive Covid em dezembro de 2020. Senti o primeiro sintoma, garganta arranhando, no dia 21, usei pastilha e passou em dois dias. Logo após, tive uma congestão nasal que durou um mês e meio. No dia 26, perdi de repente o olfato e o paladar. Senti-me disposta todo o tempo, sem mais outros sintomas. De medicamentos, usei pastilha para a garganta e descongestionante nasal. Fui contaminada pelo meu marido, de 65 anos, que teve sintomas idênticos, exceto a perda de olfato e paladar. Meu filho, de 35, idem. O olfato e o paladar começaram a retornar após 33 dias. Meu marido foi contaminado no trabalho pelo chefe, que suspeita ter s econtaminado em restaurantes.
Mônica Vasconcelos, 63, economista, Salvador (BA)

Meu marido foi contaminado no trabalho pelo chefe, que suspeita ter se contaminado em restaurantes

Mônica Vasconcelos

economista, 63, Salvador (BA)

Sou professora de educação profissional e os meus sintomas apareceram no dia 26 de fevereiro. Na ocasião, eu tinha voltado às aulas presenciais desde o dia 18, atendendo 8 alunos, porém todos paramentados com equipamentos de proteção. Antes e no retorno ao trabalho não frequentei nenhum outro lugar, nem precisei me locomover de transporte público e/ou carros de aplicativo, por isso a minha suspeita é que eu tenha adquirido o vírus na escola mesmo, junto aos alunos. Após a confirmação do exame do cotonete (demorou 5 dias), realizei acompanhamento remoto com os alunos e nenhum deles desenvolveu os sintomas. Os piores dias da doença para mim foram os dois primeiros e os dois últimos. No início, eu sentia sintomas de uma gripe forte com dores no corpo, na cabeça, náusea, fotossensibilidade, entre outros, mas foi no final do período que fiquei bastante incomodada, quando surgiram sintomas a nível neurológico. Observei que eu tinha uma sensação estranha dentro da cabeça, não conseguia ler, não conseguia assistir televisão ou vídeos, fiquei com baixa memória e baixa concentração. Procurei o médico do aplicativo que faz atendimento remoto e ele disse que, apesar de ter muitas queixas parecidas com a minha, a medicina não tinha um tratamento para a síndrome. O profissional orientou a estimular o cérebro na tentativa de efetuar as tarefas que exigem atenção, concentração e raciocínio. Segui as orientações e, no 12º dia, percebi a diminuição dos sintomas.
Susana de Moraes, 48, professora, Registro (SP)

Contraí Covid em maio de 2020. Meus sintomas foram leves, pouca falta de ar, muita tosse e perda do olfato por 3 meses. Faço marmitas de feijoada para moradores de rua a cada 15 dias e, numa dessas saídas, lembro-me de um morador de rua chegar muito próximo do meu rosto dizendo ser um sobrevivente da pandemia. Nesse momento eu não usava a máscara, por achar que o vírus era uma invenção chinesa, mas os perdigotos dele avançaram sobre meu rosto. Lembro-me de ter dito a minha esposa que se tivesse que pegar Covid seria naquele momento. Passados três ou quatro dias, comecei a sentir os sintomas leves e resolvi ir a um posto de gasolina que eu sabia que estava fazendo os exames de sangue pela picada no dedo. Quando soube do teste positivo, corri ao hospital e confirmei. Hoje sinto-me bem e sigo minha vida nas entregas das marmitas aos moradores de rua, mas com máscara.
Eduardo Vicente Espadrezani, 54, empresário, São Paulo (SP)

Eu não usava a máscara, por achar que o vírus era uma invenção chinesa

Eduardo Vicente Espadrezani

empresário, 54, São Paulo (SP)

Eu e meu esposo fomos a uma loja numa quinta-feira ver um projeto de marcenaria. Ali, num ambiente fechado de escritório, o rapaz que apresentava o projeto abaixou a máscara e espirrou. Não tiramos a máscara, mas ficamos incomodados com aquela atitude. Se não estava bem, não deveria ter atendido clientes. No domingo sentimos a garganta pegando, mas meu marido foi ao trabalho normalmente, apesar dos sintomas. Recebi na segunda-feira pela manhã a ligação do rapaz da loja dizendo que ele tinha feito o teste e tinha dado positivo. Imediatamente meu marido comunicou o chefe e veio embora. Já estávamos contaminados e contaminamos nosso filho, que veio passar o final de semana conosco. O medo foi muito grande, maior que os sintomas em si, que felizmente foram leves. Estamos indo para o 10º dia e nada além de dor de cabeça, dor nos olhos e tosse. Seguimos a orientação da médica que nos atendeu e de nossa filha, que também é médica. Não tomamos nada e ficamos monitorando a nossa oxigenação, que permanece aceitável. Tudo indica que vamos sair dessa sem problemas.
Maria Elisa Durigan Gaglianone, 55, aposentada, Ribeirão Preto (SP)

Num ambiente fechado de escritório, o rapaz que nos apresentava o projeto de marcenaria abaixou a máscara e espirrou

Maria Elisa Durigan Gaglianone

aposentada, 55, Ribeirão Preto (SP)

Meu pai ficou internado na UTI por quase uma semana em agosto de 2020, porque sofreu um acidente doméstico e precisou ser operado. Ele pegou Covid lá e nós, que convivemos neste período com ele e minha mãe, que ia lá vê-lo, pegamos também. Estava grávida de 35 semanas quando os sintomas começaram. Tive inicialmente uma diarreia e depois comecei a tossir muito. Isso aconteceu no dia em que meu pai testou positivo e teve que voltar à UTI, desta vez de Covid. Tossi o dia todo, a ponto de vomitar. Fui ao hospital e lá realizaram o exame que, três dias depois, confirmou a suspeita. Durante pelo menos 10 dias tive tosse, dor de cabeça, falta de ar, palpitação, perda de olfato e paladar, cansaço extremo, baixa saturação, e uma sensação de que minha cabeça não funcionava. Tive que fazer um parto de emergência por ILA baixo. O médico do plantão me disse que isso vinha acontecendo com gestantes com Covid. Estava com 37 semanas, no último dia dos 14 de isolamento. Continuei por mais alguns meses, com a sensação de que meu processo cognitivo já não era mais o mesmo. Meu cérebro ficou mais lento. Não tinha mais a mesma disposição. Meu olfato e meu paladar já não são mais tão apurados quanto antes. Tenho que chegar perto das coisas. Além disso, nunca mais senti que meu cérebro funcionou da mesma forma, mesmo tendo 7 meses que peguei a doença.
Tatiane Corrêa, 31, coordenadora de comunicação, São Paulo (SP)

Estava grávida de 35 semanas quando os sintomas começaram; duas semanas depois, tive que fazer um parto de emergência

Tatiane Corrêa

coordenadora de comunicação, 31, São Paulo (SP)

Peguei Covid em março de 2020, provavelmente no voo de São Paulo para Belém, no retorno da aula de pós-graduação. No último final de semana de normalidade no país, começaram os avisos para restringir a circulação das pessoas, nem mesmo o uso de máscaras era recomendado, assisti à aula normalmente. Não senti nada, mas a minha esposa começou a desenvolver sintomas mais ou menos 10 dias após meu retorno de São Paulo, muita tosse seca e falta de ar. Nos isolamos dentro de casa. Depois que ela melhorou, nós dois fizemos os testes e estávamos com anticorpos, mas sem o vírus. Ela demorou muito tempo para melhorar de tudo.
Henrique Tamm Cruzeiro, 35, engenheiro civil, Campinas (SP)

Em meados de fevereiro deste ano, descobri que estava com Covid. Acredito que tenha sido no box de musculação em um dos períodos de reabertura, apesar de todos os cuidados meus e da personal. Os sintomas começaram com uma febre repentina e forte durante a madrugada, que logo passou. Ao longo daquele dia, me senti bem, mas, à noite, já parecia que havia algo no pulmão me impedindo de inspirar completamente. Já saquei que devia ser Covid e pedi ao meu médico a guia do RT-PCR. No dia seguinte, já acordei muito mal: 39 graus de febre, dores por todo o corpo, garganta inflamada, cansaço, saturação chegou a 91. Fui fazer o exame me arrastando. Ao longo do dia, com a piora dos sintomas, decidi procurar auxílio médico. Fui rapidamente acolhido e submetido à tomografia computadorizada para identificar o padrão “vidro-fosco”; o que não havia. Como todos os sintomas coincidiam, fui medicado para aliviá-los: comprimidos para prevenir a sinusite, dipirona para febre e azitromicina para a garganta. No terceiro dia, o laudo confirmou a infecção. Os primeiros cinco dias foram os mais difíceis. Depois, tudo foi uma montanha russa: sensação de que está bem e, instantes depois, muito mal. Ficava muito deitado em decúbito ventral para melhorar a ventilação pulmonar. Por volta do 10º dia, eu já não tinha mais sintomas pesados, exceto a dificuldade para falar, porque perdia o fôlego em poucas palavras. Me curei em duas semanas, mas ainda estou fazendo reabilitação pulmonar com fisioterapia, em um total de 8 semanas.
Leonardo Reis, 31, gerente comercial, Curitiba (PR)

Acredito que tenha sido no box de musculação em um dos períodos de reabertura, apesar de todos os cuidados

Leonardo Reis

gerente comercial, 31, Curitiba (PR)

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