'No estágio, aprendi lições de gestão que importam até hoje, como diretora'; leia relatos de leitores

Folha pediu a leitores histórias marcantes da época em que estagiaram; Dia do Estagiário é comemorado nesta quarta (18)

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Lauro de Freitas (BA)

Para celebrar o Dia do Estagiário, comemorado nesta quarta-feira (18), a Folha pediu aos seus leitores que compartilhassem momentos marcantes da época em que estagiaram, além de aprendizados colhidos durante a experiência.

A data marca a publicação do decreto nº 87.497, de 18 de agosto de 1982, que regulamentou este tipo de contratação pela primeira vez no país, como modelo de formação e inserção de estudantes no mercado de trabalho. Em 2009, o decreto foi revogado, mas a data ainda costuma ser celebrada.

Telma Serur, 66, conta que um dos maiores desafios do começo da sua vida profissional foi superar a timidez. Formada em jornalismo, ela iniciou a carreira com o desejo de ser fotógrafa, mas logo em seu primeiro estágio num jornal acabou sendo alocada como repórter.

Em pouco tempo, já tinha a obrigação de escrever páginas inteiras da publicação, especialmente sobre a área de cultura. “Tive que me superar diversas vezes para contornar crises de ansiedade antes de uma entrevista. Era muita adrenalina pegar pela frente um Vinícius de Moraes, um Gonzaguinha, uma Glória Menezes, um Milton Nascimento”, conta.

Telma Sarur fazendo entrevista enquanto era estagiária de jornalismo
Telma Sarur durante uma entrevista com a cantora Mercedes Sosa, quando era estagiária de jornalismo - Arquivo pessoal

Após tropeços e algumas gafes, aprendeu o que é essencial na profissão: “Muita leitura, muita pesquisa, e um português impecável”, diz. Foram esses valores que ela tentou levar para os repórteres mais jovens, anos depois, quando trabalhava numa rádio.

Em 1991, Betânia Gonçalves cursava o 6º período do curso de psicologia da PUC Minas e teve a oportunidade de participar de um estágio curricular fora do campus. Após a experiência, os alunos foram convidados a avaliar o trabalho. “Coloquei defeito em tudo que pude, detalhe por detalhe, numa braveza que me é própria", conta.

A mistura de arrogância e ousadia acabou conquistando os professores e lhe rendeu uma vaga remunerada na universidade, abrindo os caminhos da carreira. Trinta anos depois, ela continua a trabalhar na mesma instituição, agora como diretora. Pra ela, ainda importam as lições de gestão que teve desde o início: não se dar satisfeita com o que se coloca como limite, saber lidar com as diferenças e perceber os limites e potenciais dos outros.

Já a história de Flávia Pimenta, 52, está mais para o tragicômico. Quando era estudante de medicina, em João Pessoa, ela precisou atender um paciente politraumatizado (quer dizer que o paciente sofreu traumatismos múltiplos) no seu estágio. Após uma cirurgia extensa, que terminou só na madrugada, a jovem foi parada pela polícia enquanto voltava para casa. “Eles queriam saber porque eu estava com os sapatos e as roupas sujas de sangue. Inesquecível!”, conta.

Confira outros depoimentos enviados pelos leitores:

José Carlos da Silva Barros, 69, administrador (Sorocaba, SP)

Fui estagiário quando fazia o 3º ano de administração em 1976; tinha 24 anos na época. Aprendi com o meu supervisor sobre a importância de ler e entender os assuntos relativos à área do estágio, Recursos Humanos, para melhor desempenhar a função.

A experiência mais marcante foi quando fui comunicado que seria efetivado como funcionário ao término do contrato. Fui o único entre outros seis estagiários.

O tempo passou, tenho 69 anos, aposentado desde 2009, mas continuo trabalhando há 28 anos numa indústria metalúrgica na mesma área.

E com o mesmo interesse em aprender e entender coisas novas, inclusive sobre outros setores, para não ficar desinformado

José Carlos da Silva Barros

69, administrador

Elisabete Mitiko Watanabe, 47, historiadora (São Paulo, SP)

Minha experiência como estagiária foi no setor público, em 1991, quando estava cursando administração, no então 2º grau. Me inscrevi no programa de estágios da extinta Fundap e fui selecionada para trabalhar na Secretaria de Estado da Cultura.

E... estou no mesmo lugar desde então; passei por diversas formas de contratação, até que fiz um concurso público em 2006 e me efetivei como funcionária pública.

Uma experiência bacana foi o meu primeiro trabalho no órgão: datilografei (literalmente) os documentos relacionados à abertura do processo de estudo de tombamento da Igreja de Batatais (SP) e, anos depois, tive a oportunidade de finalizar o mesmo processo como diretora. A professora se encantou e fui escolhida para a vaga de estagiária remunerada.

Renato Dias Baptista, 54, professor (Bauru, SP)

No final dos anos 1980, realizei o meu estágio numa fábrica da Volvo, um modelo na prática de Gestão de Pessoas. Foram momentos para desafiar as teorias, absorver conhecimentos tácitos e aprender/apreender aquilo que a universidade não consegue adentrar. O valor obtido é intangível e inesquecível.

Hoje, sou docente da disciplina Gestão de Pessoas e encorajo os alunos a buscarem estágios em locais que sejam inovadores, estimulantes e que provoquem a criatividade; sairão desejados pelas empresas ou sedentos por empreender

Renato Dias Baptista

54, professor

Telma Serur, 66, jornalista (Curitiba, PR)

Comecei minha carreira profissional como estagiária de jornalismo. Eu era muito tímida, queria ser fotógrafa, mas o editor resolveu me colocar na redação. Em pouco tempo já me pediam páginas inteiras, assinadas, sobre assuntos variados, especialmente na área de cultura. Tive que me superar diversas vezes para contornar crises de ansiedade antes de uma entrevista, era muita adrenalina pegar pela frente um Vinícius de Moraes, um Gonzaguinha, uma Glória Menezes, um Milton Nascimento, um Ney Matogrosso... Eu ia para as entrevistas com o coração aos pulos, e nem sempre preparada para o que deveria perguntar.

Nem sempre me dei bem. Cometi algumas gafes, das quais até hoje me envergonho um pouco, embora ainda fosse uma "foca" (termo para designar os estagiários em jornalismo). Então, aprendi que é preciso ter conteúdo, muita leitura, muita pesquisa, e um português impecável, para produzir um bom material.

Anos depois, quando fui pauteira de uma rádio, já conhecendo essas limitações, procurei dar aos repórteres o máximo de subsídios para produzirem suas reportagens, fornecendo o máximo de informações possíveis sobre as reportagens que iam fazer (e naquele tempo não existia ainda o Google!). Grande aprendizado.

Flávia Pimenta, 52 (João Pessoa, PB)

Quando ainda era estudante de medicina atendi um paciente politraumatizado no meu estágio e sujei a minha roupa de sangue. Pac no bloco, cirurgia extensa e, ao terminar a operação, já na madrugada, fui parada pela polícia enquanto ia para casa. Eles queriam saber porque estava com os sapatos e as roupas sujas de sangue. Inesquecível!

Paulo Ferreira, 41, engenheiro mecânico (São Paulo, SP)

Estagiei na Mercedes Benz entre 2004 e 2007. Trabalhei nas áreas de produção, manutenção, qualidade e projetos. Fiz todos os cursos que eram possíveis, até de bombeiro — coisa que ninguém queria fazer.

Minha maior experiência foi na área de manutenção, lá, o engenheiro responsável era Sr. Roberto Olmos, que me ensinou o que aplico até hoje: organização, postura, leitura, escrita, bons relatórios e boa articulação interpessoal.

Betânia Diniz Gonçalves, 57, professora universitária e psicóloga (Belo Horizonte, MG)

Era o ano de 1991, cursava o 6º período do curso de psicologia da PUC Minas e tive a oportunidade de fazer o primeiro estágio curricular oferecido fora do campus. Ao final do estágio fomos convidados a fazer a avaliação do mesmo. Coloquei defeito em tudo que pude, detalhe por detalhe, numa braveza que me é própria. A professora se encantou e fui escolhida para a vaga de estagiária remunerada.

Após cursar a pós-graduação strito sensu, voltei a essa universidade como professora e, hoje, passados 30 anos dessa experiência, sou a diretora da Faculdade de Psicologia da PUC Minas.

O aprendizado como estagiária/monitora me apontou e oportunizou desenvolver habilidades e competências relacionadas à gestão. Saber lidar com as diferenças, ouvir e perceber os limites e potenciais das pessoas e contar com todos, projetar e planejar o desenvolvimento do grupo, ver além do tempo, não me dar por satisfeita com o que se coloca como limite. Essas continuam sendo ações que faço no atual cargo, mas começaram ali quando ainda era uma garota entusiasmada com a psicologia.

Cheguei como aluna, tornei-me estagiária/monitora, professora e hoje sou a diretora

Betânia Gonçalves

58, professora universitária e psicológa

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