Leitores da Folha dizem sentir mais vergonha do que orgulho de serem brasileiros

Jornal recebeu mais de 170 respostas para interação sobre o 7 de Setembro

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Americana (SP)

Vergonha foi a palavra mais usada pelos leitores e seguidores da Folha em interação sobre orgulho nacional realizada por ocasião do 7 de Setembro.

Os motivos para a vergonha foram atribuídos pela maioria dessas pessoas ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com muitas menções ao seu manejo da pandemia de Covid-19 —que já fez mais de 580 mil mortos no país.

O presidente Jair Bolsonaro assiste a desfile da tropa em Goiânia (GO) - Alan Santos - 27.ago/Presidência da República

O estudante Cauê Dantas Farias, de Olinda (PE), é uma dessas pessoas. Um dos mais jovens participantes, com 17 anos, ele disse que os principais motivos de não ter orgulho são o momento político atual e a atuação do governo federal contra a pandemia.

"Ações negacionistas, promovidas em especial pelo presidente, resultaram em cerca de 600 mil mortes até hoje e minaram a imagem do Brasil na comunidade internacional. No exterior, o país virou sinônimo de negacionismo e despreparo, especialmente pelas falas absurdas do presidente", afirmou.

"Eu diria que o sentimento de otimismo que havia antes ruiu", concluiu o jovem, para quem o Brasil já foi, apesar de todos os problemas, um "sinônimo de alegria e de esperança".​

Outra grande quantidade de leitores citou a política brasileira de modo geral, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os governos do PT.

"[Reduziu orgulho de ser brasileiro] Desde os escândalos de corrupção ocorridos nos governos do PT, até agora, com a ocupação do cargo de Presidente da Republica por uma pessoa muitíssima despreparada", relatou Argelio Lima Paniago, engenheiro mecânico de 60 anos de Piracicaba (SP).

Também houve críticas ao jornalismo feito pela Folha, como a do servidor público federal Cristovam Freitas, 56, do Rio de Janeiro.

"Hoje sinto uma imensa vergonha, por causa dessa gentalha desclassificada que elegeu esse monstro. A sua publicação está incluída na vergonha que sinto das instituições, da grande mídia, dos interesses econômicos", escreveu.

A Folha recebeu mais de 170 respostas, de pessoas com idades entre 17 e 76 anos, mas desconsiderou aquelas sem identificação e que violaram as regras de moderação do jornal.

Uma quantidade considerável respondeu que sente, sim, orgulho do país, mas fizeram ressalva ao momento político atual.

"Tenho muito orgulho, por ser a minha nação e já termos superado tantos desafios, como o analfabetismo e a hiperinflação e feito avanços democráticos", afirmou o administrador Esequiel Dantas, 50, de São Paulo (SP). Mas, acrescentou, "o momento estranho que vivemos, com uma liderança política sem o mínimo de preparo e a ausência de uma terceira via, me preocupa bastante."

Já outros questionaram o conceito e o uso político das ideias de patriotismo e orgulho nacional, normalmente vinculadas ao Dia da Independência do Brasil.

"Acho patriotismo uma forma de dominação, assim como fazem as igrejas", afirmou o eletrotécnico Márcio Chaves de Azevedo, 49, do Rio de Janeiro.

"Ter orgulho ou não de ser um cidadão nacional transformou-se, hoje, em uma estratégia para o fortalecimento do fascismo e do populismo no Brasil", opinou Américo Venâncio Lopes Machado Filho, de Salvador (BA).

Neste ano, a data está cercada de polêmicas, especialmente depois que Bolsonaro começou a convocar os seguidores para atos e indicou que compareceria. Apesar de usar mensagens de teor golpista, o presidente diz que os atos terão como pauta a "liberdade de expressão" e a defesa do voto impresso.

Em São Paulo, as forças de segurança montaram esquema de segurança nas regiões da Paulista e do Vale do Anhangabaú que prevê a utilização de 3.600 policiais militares e a ação de equipes de elite da Polícia Civil. Toda a cidade e outras regiões do estado terão policiamento reforçado, algo inédito em feriados de 7 de Setembro.

A seguir, uma seleção das mensagens enviadas. A Folha agradece aos leitores pela participação.

Lucas Moreira Gonçalves Braga Ramos, 21, estagiário (São João de Meriti - RJ)

Não sinto mais orgulho de ser brasileiro. A onda de preconceitos disfarçados de opinião que se espalham desde 2018 já foi suficiente para me fazer ter repulsa dos símbolos nacionais, como a nossa bela bandeira, erguida por essas pessoas.

Leandro de Queiroz, 38, gerente de projetos (São Caetano do Sul - SP)

Orgulho não significa perfeição, mas sim aquele sentimento de solidariedade e empatia que movimenta toda uma sociedade a se tornar um único organismo vivo, despido de preconceitos, e que juntos visam um futuro para todos. O orgulho soma as pessoas, algo que infelizmente não está acontecendo; ao contrário, nos afastamos cada dia mais e mais.

Acho que já senti mais esperança que orgulho. A esperança é o ato inicial de algo que possa lhe dar orgulho, mas sempre que acontece um passo à frente, damos dois para trás. Achei que a pandemia seria nosso momento de redenção, mas infelizmente pecamos mais uma vez por nosso individualismo e nossa falta de empatia.

Sinto vergonha. O Brasil se tornou um antiexemplo global: um país desgovernado nas mãos de um rascunho de ditador, sob o transe religioso que acoberta o fascismo na era do ódio digital

Marcos Roberto Souza Brogna

47, professor universitário, São Paulo (SP)

Jane Zogbi, 64, administradora de empresas (Joinville - SC)

Já senti muito orgulho de ser brasileira. Hoje sinto tristeza por nosso país ter sido dominado por pessoas ressentidas e com ódio. Nada que tenha ocorrido pode justificar isso. Mudou o sentimento no impeachment da Dilma, quando foram abertas as portas do inferno para os reacionários que defendem retrocesso e escuridão. Não tenho nem mais orgulho de morar em um estado como Santa Catarina, que hoje é reduto do pensamento atrasado e do ressentimento.

Só arte, música e literatura são refúgios para esses tempos sombrios. Até mesmo a natureza está sendo depredada.

Maria Augusta Xavier da Silveira, 76, advogada e historiadora

Já tive muito orgulho de ser brasileira, mas desde o advento desse governo meu orgulho se transformou em vergonha absoluta. Esse governo enxovalhou nosso país, quer que comprem fuzil enquanto milhões de brasileiros passam fome na extrema miséria. Age com escárnio em relação ao povo, cada vez mais pobre. O Brasil virou um lixo.

Tenho orgulho de ser brasileiro. Temos um presidente que resgatou o patriotismo e a esperança em um país melhor

Carlos Vasconcelos

32, bancário, Guarulhos (SP)

Marta Rodrigues da Silva, 61, desempregada (São Paulo - SP)

Tenho, sim, muito orgulho de ser brasileira. Nosso país é lindo, temos tudo para vivermos bem, nosso povo é guerreiro, de esperança e de luta, apesar de tudo. E a decepção com o nosso governo é muito grande, estamos todos desiludidos, desesperançados, entre tantos sentimentos. Para mim, o pior foi o descaso com a Covid.

Clodoaldo Cardoso da Cruz, 50, servidor público (São Paulo - SP)

O brasileiro não tem noção de nação. Nada é feito em prol da nação. A sociedade inteira age no "cada um por si". Empresários não se importam com a nação. A população, indiferente, se regozija com a miséria do vizinho. De cinco anos para cá abriu-se a caixa de horrores.

É um carma nascer no Brasil. Lugar onde você não pode entrar no celular, abrir um computador, sem sofrer risco de golpe.

Fellipe Weno, 37, administrador de sistemas (São Paulo - SP)

Sinto orgulho de ser brasileiro porque acompanho o dia-a-dia de profissionais de diversas áreas e vejo seu empenho. O Brasil produz riqueza intelectual e material.

Você amaria alguém que te maltrata? Não, né? Então como amar um país que, para manter uma casta privilegiada, maltrata a maioria de seus cidadãos?

Márcio Chaves de Azevedo

49, eletrotécnico, Rio de Janeiro (RJ)

Ruben Gustavo, 54, servidor público (Distrito Federal)

Como sentir orgulho de um país com 600 mil mortos, com um genocida no poder, com milicos querendo dar golpe, com 15 milhões de desempregados, com fome, miséria, corrupção, educação abandonada, sucateada?

Argelio Lima Paniago, 60, engenheiro mecânico (Piracicaba – SP)

Não tenho esse sentimento, mas não também não tenho repulsa por ser brasileiro. Considero essa coisa de nacionalidade apenas como uma barreira imaginada pelos homens. E isso tem sido motivo para um sem número de conflitos.

Minha percepção é de que os brasileiros não têm sentido orgulho daquilo que se encaminha nesse território. Quando era mais novo, principalmente nos anos 1980 e 1990, sentia que havia uma esperança de uma evolução e uma atmosfera positiva no país.

Não dá para ser um arauto do patriotismo quando só há vergonha e desolação. Quem tem orgulho do Brasil é alguém esperançosamente otimista, portanto, um idiota

Gabriel Costa Pereira

26, professor de história da arte, Anápolis (GO)

Antonio Raimundo de Moura Neto, 55, engenheiro civil, professor e centista da religião (Goiânia - GO)

Tínhamos tudo para sermos o melhor país do mundo. Ontem tínhamos as melhores praias, as melhores florestas, os melhores rios, as melhores terras, o melhor futebol, as melhores festas, as melhores intenções e sonhos. Hoje, nossas praias estão poluídas, nossas florestas estão queimadas, nossos rios estão assoreados, nossa terra está devastada; possuímos os piores dirigentes esportivos, nosso povo está de luto, nossa esquerda é oportunista e cleptomaníaca, nossa direita é paranoica e esquizofrênica, e se gritar "pega centrão, não fica um, meu irmão!".

O egoísmo permeia nossa política e, em meio às construções de um Brasil imaginado, acordamos fustigados por um pesadelo que parece não ter fim.

Orgulho de ser brasileiro? Sério, é possível isso?

Paulo Keyson de Araújo Basilio

30, professor, Lago da Pedra (MA)

Nathalia Duccini de Oliveira, 31, psicóloga (Mogi das Cruzes - SP)

Não sinto orgulho de ser brasileira, acredito que nada que é extremo é positivo para sociedade, e nos últimos anos o aumento da extrema direita me deixa insatisfeita. Essa história de tudo ter que ser focado na tradição ou religião é um salto para o passado.

Sebastião Correia de Amorim, 73 anos, aposentado (São Paulo - SP)

Sinto-me orgulhoso de ser brasileiro e sempre me sentirei, porque sou filho desta terra; a amo profundamente e jamais deixarei de amá-la. As coisas ruins que vêm ocorrendo são frutos dos desatinos de pessoas profundamente imprudentes e incapazes, que deveriam trabalhar pelo bem do país, mas só têm feito presepada. Porém, penso que logo isso vai mudar para melhor, porque não há mal que dure para sempre. É o que dizem!

Quando comento o fato de ter orgulho de ter nascido no Brasil, me vejo na obrigação de dizer que não sou bolsonarista. Isso é triste

Ana Gabriela Farah

23, jornalista e assessora de comunicação, São Paulo (SP)

Wellington Luiz da Silva, 38, advogado (Artur Nogueira - SP)

Não sinto orgulho porque meus irmão negros sempre foram preteridos pelo Estado. Se tivesse chance, mudaria daqui e até renunciaria à cidadania. Esse sentimento se tornou mais forte com a eleição de Jair Bolsonaro, que para nós, negros, para a classe trabalhadora e os mais necessitados, tornou tudo pior.

Juliana de Souza Ângelo, Lorena (SP)

Eu tinha orgulho do Brasil, não tenho mais. O Brasil era o país da diversidade, agora é o país do preconceito; era o país de um povo alegre e amistoso, agora é o país da tristeza e do ódio. O Brasil mirou no ódio ao PT e acertou no fascismo; mirou na liberdade econômica e acertou no desmonte das instituições democráticas.

Finalmente, o sonho de JK vai se concretizar, mas ao contrário. Em menos de 5 anos, voltamos às décadas de 1970 e 1980: ao Brasil da hiperinflação, do desemprego em massa e da desindustrialização. Alguns velhos sonham com um passado de ordem autoritária; a maioria dos jovens tentam montar os cacos do chão de um futuro que não existe mais.

Ver a população inteira engajada na vacinação contra a Covid-19 nos últimos dias me encheu de orgulho de ser brasileiro

Rodrigo Lima da Costa

21, engenheiro de software, Limoeiro do Norte (CE)

Edson Oliveira, 49, funcionário público (Itajaí - SC)

Sim, tenho orgulho de ser brasileiro. Tenho orgulho de viver num país livre, democrático, onde se pode sair e entrar a qualquer momento, sem nenhum impedimento. Um país que permite que seus cidadãos trabalhem, estudem e empreendam na área e da maneira que acharem melhor. No Brasil, pelo menos até o momento, é possível ter pensamentos diferentes sem ter que concordar com o outro lado. Tal liberdade não é permitida em países comunistas e/ou socialistas.

Maria Pimentel, 47, astróloga (São Paulo - SP)

Não sinto mais orgulho de ser brasileira. Sinto vergonha. Não tem um dia que não me estresse com esse governo e esses políticos nojentos, que trabalham apenas para benefício próprio. Tinha um baita orgulho. Infelizmente esse orgulho desapareceu com o resultado das últimas eleições.

Se houve algum episódio recente para explicar minha resposta? Todo santo dia. Não se tem mais paz, os jovens não têm mais futuro, não temos mais nada de bom no horizonte. Estamos sendo governados pela pior corja que já existiu nesse país. Estou faz 0 dias sem passar estresse e vergonha. Vontade de processar o presidente por danos morais!

Maria Aurora de Meireles Rabelo, 76, professora aposentada da UFMG (Belo Horizonte - MG)

Este é, sem dúvida, um assunto polêmico. Nunca tive simpatia pela questão porque sempre, desde nova, percebia a diferença gritante entre os brasileiros. Nos últimos anos, a coisa piorou tanto que meses atrás resolvi, aos 76 anos, renunciar simbolicamente à cidadania brasileira e adotar a nacionalidade tupi-guarani de que muito me orgulho, pela capacidade de resistir a todos os longos e perversos ataques sofridos desde a invasão de sua terras no século 16 e posteriores.

No próximo 7 de Setembro, me junto aos nossos chamados indígenas para recusar com veemência todos os abusos e celebrar nossa ascendência ultra heróica.

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