Criado com o objetivo de melhorar a interação com público feminino e trazer mais visibilidade de suas demandas para o dia a dia da Folha, o Projeto Leitoras já acolheu mais de 130 mulheres em grupos de discussão no WhatsApp e outras iniciativas da Redação.
O projeto estreou em fevereiro como parte das comemorações do centenário do jornal. A cada 15 dias, um grupo é criado para reunir leitoras em torno da discussão de um tema, com respaldo de materiais diversos e a participação de uma ou mais especialistas na questão. As conversas ocorrem ao longo de uma semana, com assuntos novos a cada edição. A coordenação é da jornalista Carolina Vila-Nova.
Desde então, já foram realizados duas dezenas de encontros, sobre literatura, política, envelhecimento, dentre outros, além de bate-papos (leia a lista completa abaixo). A próxima edição tratará da equidade de gênero.
"Discutir temas importantes com mulheres tão diversas mas, ao mesmo tempo, com tantos pontos de identificação comigo, em um tempo tão obscuro, tem sido um respiro, uma sensação de acolhimento", afirmou a professora Mariana Bianco, 33.
Espero que o resultado seja um jornal mais plural, com abordagens que abarquem mais temas sensíveis a nós
"Ouvir de mulheres tão diversas o que pensam sobre assuntos que fazem parte das lutas diárias de cada uma de nós, dá um alento, uma esperança, uma sensação de pertencimento e a ideia de existência de um coletivo maior", afirmou a servidora pública Lília Sendin, do Rio.
Em um grupo de maio, 10 mulheres com idades entre 26 e 75 anos discutiram as intersecções entre religião, política e feminismo. A jornalista Cristina Fibe foi convidada a falar sobre o processo de construção de seu livro "João de Deus - O Abuso da Fé" –sobre o médium condenado por múltiplos crimes sexuais. Já a ativista Gabriela Melo contou sobre seu ativismo nas questões de gênero e raça dentro da Igreja Batista de Petrópolis (RJ).
Convidada para interagir com o grupo que discutiu participação política e as eleições de 2022, em abril, a advogada com especialização em direito constitucional e direitos humanos Jéssica Estigaribia, 30, falou sobre violência política de gênero.
"Acompanhei por uma semana as inquietações de mulheres diversas que, ao mesmo tempo que se mostraram desesperançosas, se colocaram muito disponíveis para discutir pautas relevantes para o país. Quantas de nós tem o privilégio de tirar um tempo do dia para discutir sobre Brasil?", afirmou a advogada, que atua em coletivo jurídico em prol da defesa dos direitos das mulheres.
"Discutir política jamais será uma tarefa simples. Mas acredito que é partir de gestos coletivos que construímos novas realidades. Assim, o Projeto Leitoras é mais uma sementinha para que encontremos novas saídas."
É partir de gestos coletivos que construímos novas realidades. Assim, o Projeto Leitoras é uma sementinha para que encontremos novas saídas
"O Projeto Leitoras é um passo importante em direção à consolidação de uma imprensa a cada dia mais alinhada com as demandas e o perfil das mulheres de hoje. Foi um prazer fazer parte de uma iniciativa tão valiosa como palestrante convidada", afirmou Gisele Miranda, mentora em carreira e liderança e autora do livro "A Coragem de se Apaixonar por Você".
Ela participou, em abril, de grupo sobre mercado de trabalho. Na mesma semana, a jornalista da Folha Cristina Gercina, autora da coluna Colo de Mãe, conversou com as leitoras sobre os desafios de conciliação da maternidade com a carreira.
O projeto é aberto a mulheres cis ou trans de quaisquer etnias e estratos sociais. Caso queira participar, mande um e-mail para interacao@grupofolha.com.br com idade, ocupação, cidade e os temas sobre os quais gostaria de conversar. Não é necessário ser assinante da Folha.
A seguir, leia depoimentos de algumas leitoras que já participaram do projeto.
"Quando recebi a proposta do Projeto Leitoras, não sabia detalhes nem como seria seu funcionamento, mas aceitei acreditando na chance de uma boa experiência. E não poderia estar mais certa! Discutir temas importantes com mulheres tão diversas mas, ao mesmo tempo, com tantos pontos de identificação comigo, em um tempo tão obscuro, tem sido um respiro, uma sensação de acolhimento. Além das tantas trocas de referências, materiais e experiências, sempre bem-vindas.
As conversas com as convidadas são sempre muito dinâmicas, pena que duram tão pouco e não dá tempo de nos aprofundarmos.
Conheci mulheres incríveis, desde leitoras até jornalistas da Folha. Espero que o projeto siga e que o resultado seja um jornal mais plural, com abordagens que abarquem mais temas sensíveis a nós."
Mariana Bianco, 33, professora de história, Jundiaí (SP)
"Ouvir de mulheres tão diversas o que pensam sobre assuntos que fazem parte das lutas diárias de cada uma de nós, dá um alento, uma esperança, uma sensação de pertencimento e a ideia de existência de um coletivo maior.
O contato direto com jornalistas mulheres humaniza, dá uma face amiga às matérias e reportagens que vamos ler depois. É uma maneira de mulheres como eu, que não estão no meio jornalístico, terem contato com elas, que escrevem, que elaboram os pensamentos que refletem as ideias e concepções femininas de ver o mundo."
Lília Sendin, 50, servidora pública, Rio de Janeiro (RJ)
"Faço parte do Projeto Leitoras, e na semana de 23 a 27 de maio discutimos sobre religião, política e feminismo. A semana foi de rica experiência pela diversidade das participantes e pluralidade das pautas. Intolerância religiosa, fundamentalismo, abuso de poder, a proeminência de figura masculina na religião e o prestígio que a sociedade confere a esses personagens, bem como o machismo e direitos das mulheres, foram as questões que mais discutimos.
Além da identificação que muitas de nós sentimos quando o assunto era assédio, poder e religião, também nos identificamos com a mulher jornalista, com sua solidão, a depender da pauta, da investigação, da voz que ela está a trabalhar. Não importa a região do país ou a classe social, algumas coisas acontecem exatamente igual para as mulheres.
Que tenhamos mais encontros para discutir sobre o conservadorismo na sociedade brasileira (se estamos inseridos em uma sociedade patriarcal, tudo ou quase tudo que dela advém tem essa característica)."
Heliana Querino, 46, jornalista, Fortaleza (CE)
"Tive uma experiência muito boa participando do projeto. As trocas de experiências são muito enriquecedoras, e as leituras também nos instrumentalizam para as discussões. São pessoas de diversos estados e convidadas muito atuais! Acho que deveriam colocar pessoas que pensam mais diferente para enriquecer as discussões."
Shirley Ruriko Takahashi, 57, enfermeira aposentada, Campinas (SP)
"Quando recebi o convite para participar do Projeto Leitoras com o tema "religião e feminismo" minha expectativa era de uma discussão com uma convidada que fosse pesquisadora acadêmica sobre o tema. Mas conversar com a Cristina Fibe e sobre o trabalho e as dificuldades de apuração para escrever o livro foi, ao mesmo tempo, impactante e entristecedor. A mulher vítima de violência sexual sempre é apontada como mentirosa ou culpada. Se ela acusa alguém que tem "Deus" no nome, a vergonha e o constrangimento cresce em proporções geométricas.
A troca entre as participantes também foi muito rica. As dificuldades que uma mulher tem em se manifestar dentro de um meio religioso são enormes. Foi uma grata surpresa ver a luta incansável da Gabriela Leite para se posicionar. Algumas das participantes se viram nas palavras dela.
Muito se romantiza a luta da mulher negra para ser ouvida. Eu posso garantir que ser mulher em ambientes predominantemente masculinos é muito difícil. Mas se eu fosse negra, eu teria chegado aonde cheguei? Temo que a resposta seja não."
Ana Trigo, 51, jornalista, São Paulo (SP)
"Participar do projeto leitoras da Folha é enriquecedor para meu conhecimento e para compreender pontos de vista e vivências diferentes daquelas que tenho.
O contato com mulheres de outros estados e cidades, com rotinas, pensamentos e ideologias distintos, me dá a oportunidade de experimentar novas possibilidades.
Cada tema tem uma abordagem, cada convidada traz algo inovador que muitas vezes não está no meu dia a dia. Sempre tem algo que uma ou outra não conhece, e isso agrega mais à conversa.
Para mim, a maior dificuldade é me manter atualizada nas conversa; em muitos momentos tenho que ficar ausente por causa do meu trabalho e quando posso retornar já perdi muita coisa e não tenho como interagir.
Mas estou amando muito, e é uma experiência que vou guardar no meu coração, fora o carinho e o cuidado da mediadora."
Carla Vitor, 50, corretora de imóveis, São Paulo (SP)
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