Para leitor, Brasil tem medo de Romney
Nesses últimos dois meses de campanha eleitoral norte americana, não encontrei mais de um brasileiro que votaria em Mitt Romney.
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Em um país em que a grande maioria ainda aplaude um ex-presidente que afirma categoricamente que o mensalão é uma "invenção dos inimigos", tal fato parece merecer uma reflexão ou duas.
Barack Obama é símbolo de uma conquista importante. Pode ser considerado como o efeito de longo prazo de uma duríssima e corajosa batalha travada acerca dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 60.
O primeiro presidente negro da história dos EUA parecia ser mais pacífico, mais simpático e mais atencioso aos pobres e às mudanças sociais necessárias. Obama queria implantar um sistema de saúde mais acessível. Queria retirar as tropas. Foi imensamente aplaudido mundo afora. A era Bush havia acabado. O imperialismo ignorante iria cessar.
E o raciocínio é que, com todos esses atributos positivos, se ele não conseguiu, entre outras coisas, melhorar a economia e a situação da população, retirar as tropas completamente e nem consolidar de fato o novo plano de saúde, a culpa não pode ser dele.
No entanto, a polarização (colocando democratas como mocinhos e republicanos como bandidos) nos cega. Não devemos esquecer que a crise imobiliária não pode de maneira nenhuma ser considerada somente como herança republicana já que, de fato, a lista de nomes acusados de "gerenciar" a bolha a seu próprio benefício revela muitos famosos democratas.
E mesmo se fosse, a equipe de Obama, quando assumiu, teve plenas condições de dar um basta nos métodos inescrupulosos vigentes. Coisa que não fez.
Jason Reed - 02.mai.11/Reuters | ||
O presidente Barack Obama durante anuncio da morte de Osama Bin Laden, em maio de 2011 |
É interessante verificar que muitos consideram a possível volta dos republicanos à tudo que há de ruim nos Estados Unidos. À cultura de morte e ao militarismo excessivo, por exemplo.
Parecem esquecer que o Obama pacífico se regozija frequentemente por ter matado Osama Bin Laden. Coisa que, como a contundente militante Naomi Wolf apontou, foi ilegal.
A equipe do Obama pacífico passou por cima do governo paquistanês e orgulhosamente aniquilou o seu inimigo, ao invés de capturá-lo, como mandaria a conduta de guerra nesse caso. Coisa que, aliás, o republicano governo de Bush fez em 2004 com Sadam Hussein.
Talvez essa natureza vingativa nem seja própria de Obama. Mas ao ceder a isso, mostra que seu posicionamento é, infelizmente, duvidável.
O fato de o presidente afirmar, nas eleições, que a Venezuela não apresenta qualquer conflito de interesses com os Estados Unidos é estarrecedor. Ou é fraqueza, ou é atitude que cede ao eleitorado latino crescente no país.
Pois um país que têm um controle da mídia da maneira que o governo chavista o tem, que instala uma democracia dúbia, ataca abertamente os Estados Unidos e se recusa a ter um mínimo de bom senso em relação à economia e à diplomacia, só não teria conflito de interesses com os EUA na época em que o mesmo não existia.
Portanto, é preciso não mitificar a figura do presidente e analisar profundamente cada governo.
Muitos fatos como esses podem e devem ser trazidos à tona para reflexão e análise além da superficialidade cotidiana.
É claro que o leitor atento sabe que as respostas não estão necessariamente do outro lado, com os republicanos, mas deve sim procurar livrar-se do medo ideológico.
O partido Republicano é vasto e já contribuiu com presidentes exemplares. O partido Democrata também é composto de pessoas com interesses diversos e não necessariamente generosos e altruístas.
Devemos olhar além, lembrar que a oposição é sempre forte nos Estados Unidos e avaliar que tipo de líder o país referência do mundo está elegendo.
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