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08/03/2009 - 02h30

Excomunhão, MST, Judiciário

da Folha Online

Excomunhão

"Respeitamos, mas não concordamos com a posição da Igreja Católica sobre o procedimento para interromper a gravidez de uma criança de 9 anos. A Lei de Deus é pela vida, diz o arcebispo. Gostaríamos de saber se os sacrifícios humanos cometidos pela 'Santa Inquisição' sob a aquiescência do Sumo Pontífice durante mais de três séculos se enquadravam nessa citada Lei de Deus pela vida?"

ULISES CLEMENTE VAZQUEZ (São Bernardo do Campo, SP)

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"Houve um tempo em que a Igreja de Olinda, na figura de dom Hélder Câmara, era um bastião da resistência aos desmandos da ditadura militar e um lumiar humanístico, progressista, fraterno, de verdadeira escolha preferencial pelos mais pobres e desvalidos. O Brasil olhava para Olinda, orava com seu arcebispo pedindo tempos melhores e mais justos. Estarrecido leio os jornais e neles vem estampada a nova escolha preferencial da Arquidiocese de Olinda, ou mais precisamente do arcebispo dom José Cardoso. Em nome da Igreja Católica ele fez a escolha preferencial pelos pedófilos, pelos que aviltam a dignidade de uma criança e de uma mãe. Sei que não deveríamos ter tanto espanto: não foi a primeira vez e nem será a última que a igreja ou alguns dos seus expoentes fizeram tal escolha. Quantos casos dentro do próprio seio da Santa Madre Igreja não foram obscuramente acobertados? Não é de se estranhar a hipocrisia do arcebispo José Cardoso, que em nome da vida toma para si a prerrogativa de falar em nome das leis de Deus, e vem na Quaresma praticar a infâmia. Ficasse quieto, recolhido no silêncio, na reflexão e penitência e num gesto caridoso até pedisse pelo perdão ao estuprador e pedófilo. Por mais que me espantasse vê-lo bradar, vociferar contra o que ele chamou de atentado a vida, numa atitude fundamentalista (tal qual um talibã), metendo-se nas questões de saúde e laicas, o que mais me espantou foi ele, 'tão justo e porta-voz do divino', não ter excomungado o estuprador, o pedófilo. Por quê? Por que ele escolheu as vítimas da violência e os dignos agentes de saúde para seu gesto de intolerância e obscurantismo? Pobre dom Hélder: ver seu lugar ocupado por tão retrógrada e triste figura."

JOÃO BOSCO ALVES DE SOUSA (São Paulo, SP)

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"Não entendo a revolta de alguns católicos contra o arcebispo de Olinda e Recife. Acaso não sabem que foi a lei da igreja, e não o arcebispo, que excomungou a mãe da menina estuprada e os médicos que praticaram o abortamento? Do papa até os párocos das regiões mais remotas do Brasil, todos os padres têm a obrigação de pregar de acordo com os cânones da igreja. Onde estão os colegas do arcebispo que não saem em sua defesa? Ao invés de se esconderem, teriam a obrigação de explicar estas excomunhões, não por serem absurdas à luz da moralidade laica, mas porque estão incomodando seus próprios fieis. Falta-lhes coragem para defender um dogma eticamente questionável (o da santidade de embriões, mesmo frente a uma violência contra a saúde física e mental de uma criança). E aos católicos indignados, cabe lembrar que todo brasileiro é livre para escolher a religião mais adequada às suas convicções morais e metafísicas: o que não falta são opções, inclusive cristãs."

ALUISIO SERODIO (São Paulo, SP)

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"As reações favoráveis aos médicos na interrupção da gravidez da menina nordestina mostram que os brasileiros já não se submetem cegamente aos dogmas religiosos. A descriminalização do aborto não pode mais esperar que os políticos deixem de ser joguetes nas mãos da Igreja Católica e encarem a tragédia de um milhão de mulheres que interrompem a gravidez anualmente, a maioria clandestinamente, com todos os riscos que isso representa. Lula não aprova o que quer no Congresso, mesmo que tenha que usar o 'mensalão'? Pois que assuma essa questão como mais um caso de nossa trágica saúde pública."

DORIS DIAS FREITAS (Belo Horizonte, MG)

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"Aproveitando que Sua Eminência está com a mão na massa, solicito ao arcebispo José Cardoso Sobrinho, ou a qualquer outro que se habilitar, que também me excomungue. Não quero mais ser membro dessa igreja retrógrada, tão indulgente com seus pedófilos e tão implacável quando os 'de fora' contrariam os preceitos medievais que ela chama de 'lei de Deus'. Prefiro a nobre companhia do dr. Rivaldo Mendes de Albuquerque no rol dos excomungados à de Francisco Franco, Garrastazu Médici ou Augusto Pinochet, que a Santa Madre jamais cogitou excomungar."

LUIZ A. DE ARAÚJO (São Paulo, SP)

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"Pena que tantos católicos não tenham consistência em sua fé, não conheçam a doutrina de sua igreja e, com ignorância, atacam a própria igreja, à qual deveriam estudar, acreditar e defender, afinal, eles fazem parte dela. Sou um cristão convicto e sei o bem enorme que a igreja faz à sociedade através das pastorais (da criança, do menor abandonado, da saúde, da educação, carcerária), enquanto a mídia faz questão de atacar com voracidade a igreja, que mais busca a paz e o bem comum. Os erros cometidos no passado (Idade Média) foram erros da sociedade da época (com suas crendices e ignorância). A igreja é contra as situações que degradam o ser humano, contra o estupro, contra a pedofilia. Também fico indignado com padres que cometem essas barbáries. Mas há gente de todo tipo. Há padres e padres, como há médicos e médicos. O papa Bento 16, assim como João Paulo 2º, tem se esforçado ao exigir castidade, celibato e santidade de vida por parte deles. Por ser contra a degradação, ela defende a vida como dom máximo de Deus, e a mesma deve ser respeitada e preservada desde o útero materno (concepção) até o declínio natural. Por este motivo é contra a eutanásia e o aborto, afinal a criança não tem culpa da mãe ter sido estuprada: é uma alma inocente.
Já é comprovado cientificamente que mulheres estupradas vencem este trauma criando o filho, que é seu. O estupro não diminui a maternidade da mulher. Ela também tem a opção de apenas gerar e pôr para adoção; quantas pessoas querem ter filhos e não podem e têm que esperar nas filas de adoção. Neste país quem quer fazer o bem não tem vez. Jesus veio para trazer a vida e em plenitude, abundância. É esta 'norma' ultrapassada, arcaica (como muitos dizem) que a igreja (quadrada) defende e luta: o amor e a vida digna. Quando a mídia parar com esta afronta sem sentido à igreja, poderemos lutar juntos, lado a lado, a favor da paz e contra os males, os crimes e as injustiças sociais."

AMADEU DE CARVALHO JÚNIOR (Pilar do Sul, SP)

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MST

"Torna-se cada vez mais urgente uma discussão séria sobre os rumos do MST e, sobretudo, sobre a postura do atual governo em relação a um movimento político que sempre apoiou e continua apoiando. É preciso medidas categóricas para distinguirmos a grande confusão entre os problemas sociais do Brasil e uma organização cujos propósitos consistem em destruir a economia de mercado e a própria democracia representativa. Há, sim, um grave problema social que atinge o campo e as cidades brasileiras. Esse problema, porém, só poderá ser equacionado com a geração de empregos e o crescimento do país, o que passa por uma política de incentivo às empresas, desoneração fiscal, redução do tamanho do Estado, respeito aos contratos e outras medidas que são, precisamente, o alvo das ações do MST. O recente recrudescimento das ações dos sem-terra obedece a calendário e motivo bem definidos. Eles desejam preservar suas fontes de financiamento e também garantir a impunidade da qual vêm sendo beneficiários até agora. Mas por que o MST deveria obedecer à lei se aqueles encarregados de respeitá-la o acolhem com todas as honras?"

MURILO AUGUSTO DE MEDEIROS (Brasília, Distrito Federal)

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"O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ao criticar o governo Lula, 'que estaria sendo indulgente com o MST e as ocupações de terras', está sendo ele próprio indulgente com o seu período de governo (1995-2002). O ex-presidente pode não lembrar, mas os trabalhadores rurais e suas organizações lembram, ano após ano, dos milhares de mortos --homens, mulheres e crianças-- em massacres praticados pelo braço armado do latifúndio, como o massacre de Eldorado do Carajás, em 17 de abril de 1996, quando 19 trabalhadores rurais sem terra foram barbaramente assassinados, no Estado do Pará. Como também lembram, nesta comemoração do Dia Internacional da Mulher, dos 25 anos do assassinato, no Estado da Paraíba, de Margarida Alves, símbolo da luta da mulher camponesa no Brasil, covardemente morta com um tiro no rosto na frente do seu filho de 10 anos de idade. O Poder Judiciário deveria cuidar de julgar, com igual celeridade e rigor, os assassinatos de trabalhadores rurais, sindicalistas, advogados e religiosos, como o da irmã Dorothy, cuja imensa maioria de executores e mandantes permanece impune."

OSVALDO RUSSO DE AZEVEDO (Brasília, DF)

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Judiciário

"A redação da Constituição sobre a possibilidade de alguém ser preso antes de uma condenação definitiva é tão 'cristalina' que só agora, mais de 20 anos desde a sua promulgação, o Supremo decidiu adotá-la. A verdade é que entendimentos outrora consolidados por décadas, inclusive no STF, foram alterados recentemente por esta Corte, composta atualmente, em sua maioria, por ministros desconectados da realidade do país, pois privilegiam em demasia o direito individual dos réus em detrimento do direito da coletividade à segurança.
Antes, acusados de crimes hediondos cumpriam pena somente em regime fechado, investigações preliminares podiam ser conduzidas antes que o advogado do investigado tivesse amplo acesso aos autos --até porque o contraditório existe apenas quando as provas redundam num processo--, a lei de improbidade valia para todas as autoridades, inclusive ministros, habeas corpus só eram aceitos no STF após todas as outras instâncias tirem sido percorridas, policiais podiam algemar bandidos, juízes não eram retaliados por decretar prisões de pessoas poderosas seguindo sua convicção. Tudo isto mudou. Logo, é fácil perceber porque advogados criminalistas, sobretudo os que defendem figurões de colarinho branco e banqueiros, estão satisfeitíssimos com o Supremo e seu atual presidente Gilmar Mendes. Para a farra ser completa, o próximo passo é cassar o poder investigatório do Ministério Público."

ALESSANDRO AUGUSTUS ALBERTI, promotor de Justiça (Guaratinguetá, SP)

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"Rafael Mafei Rabelo Queiroz ('Tendências/Debates', 7/4) fez um belo exercício de aritmética exatamente para comprovar o que André Luís Woloszyn afirma logo abaixo: 'Bandido rico não vai para a cadeia'. Ou de quem mais se tratariam aqueles 3% de casos bem defendidos, com boas 'condições técnicas de admissibilidade', que efetivamente chegam à instância superior? Mas a principal questão aqui é: o que virá depois desta decisão? O que ela estimula? A mim parece que pessoas que se saibam culpadas e que nem acreditem em suas defesas estarão inclinadas a prosseguir em recursos protelatórios até quando seus recursos financeiros permitirem. Outra questão é: para que servem as decisões de primeira e segunda instância, se seus condenados poderão permanecer tão livres depois quanto estavam antes delas? Bem, pelo menos aqueles condenados que puderem pagar por uma boa defesa..."

ANDRÉ PEDROSO (São Paulo, SP)

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