Podcast analisa papel do eleitorado feminino e desempenho de candidatas em 2022

Episódio final do Sufrágio debate disputa por voto feminino e aumento frustrante no Congresso

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Este projeto tem apoio do Pulitzer Center for Crisis Reporting

Brasília

O primeiro turno das eleições presidenciais de 2022 foi marcado pela polarização entre dois candidatos homens, o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), e pela busca do voto feminino pelas duas campanhas.

Em 2022, o direito das mulheres de ir às urnas completou 90 anos e as eleitoras nunca foram tão cobiçadas ---o que deve se repetir no segundo turno. O episódio final do podcast Sufrágio explica os motivos para essa parcela do eleitorado ser uma das protagonistas da corrida presidencial.

Ouça o Sufrágio:

O episódio também debate os resultados da eleição para o Legislativo e os governos estaduais sob a ótica da igualdade de gênero. Desde o aumento menor que o de 2018 nas cadeiras no Congresso até conquistas inéditas como a eleição de mulheres trans, a série conversa com eleitas e especialistas para entender o que as eleições do domingo (2) nos dizem sobre a presença feminina no poder.

O podcast conversa com as deputadas federais eleitas Erika Hilton (PSOL-SP) e Sônia Guajajara (PSOL-SP); a repórter da Folha especializada em religião Anna Virginia Balloussier; a vereadora de Toritama (PE) Carol Gonçalves (MDB-PE); a diretora do Instituto Vamos Juntas, Larissa Alfino; e as cientistas políticas Débora Thomé e Hannah Maruci.

A transcrição acessível do podcast pode ser encontrada no final deste texto.

O Sufrágio conta a história das brasileiras na política e discute os desafios que elas têm pela frente. Os sete episódios estão disponíveis nas principais plataformas de podcast.

A apresentação, roteiro, pesquisa e reportagem são de Angela Boldrini. A produção é de Jéssica Maes e a edição de som é de Laila Mouallem. A coordenação do projeto é de Magê Flores e a identidade visual de Catarina Pignato. Neste episódio, Priscila Camazano e Cristiano Martins fizeram reportagem adicional.

Capa Sufrágio Ep.7 - V.Exa, a eleitora
Podcast Sufrágio - Episódio 7: V.Exa, a eleitora - Catarina Pignato

Leia a transcrição do episódio:

Oi, gente. Tudo bem? Você vai perceber que a minha voz está diferente neste episódio. É que a maratona da cobertura eleitoral me deixou rouca. Mas não dava para deixar de fazer esse último episódio, sobre como as mulheres se saíram na eleição de 2022.

Em 2022 o direito das mulheres ao voto fez 90 anos, e os candidatos à presidência se desdobraram para falar com os 82 milhões de eleitoras.

[Soraya Thronicke] Quando homens são "tchutchuca" com outros homens, mas vêm para cima da gente sendo tigrão, eu fico extremamente incomodada

[Ciro Gomes]Hoje, 78 de cada cem mulheres brasileiras tão no limite recorde do endividamento, elas não vão sair dessa dívida sem uma política pública

[Simone Tebet] Ser feminista é defender o direito das mulheres. E não tem lado, não é esquerda ou a direita que vai dizer, que vai capitanear essa pauta

[Lula] 92% de todo empregado doméstico no Brasil é feito por mulher. 65% das trabalhadoras domésticas são mulheres negras. E o rendimento das domésticas é menos da metade do rendimento médio do trabalhador brasileiro

As pesquisas de intenção de voto mostravam o presidente Jair Bolsonaro, do PL, com a maior rejeição entre as mulheres. Foi para tentar contornar esse cenário, especialmente entre as evangélicas, que Bolsonaro escalou a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

[Michelle Bolsonaro] A água chegou no sertão. A mulher sertaneja que carregava lata d'água na cabeça agora pode usar a sua força para voltar à escola ou para tirar o alimento que está brotando na terra. Tem mais tempo para ficar com a família, com os filhos e viver uma nova vida

Estamos construindo um Brasil para elas, com elas e por elas

Numa disputa polarizada entre dois candidatos homens, ele não é o único a usar uma mulher para falar com esse eleitorado.

O ex-presidente Lula, também levou para a campanha a mulher dele, a socióloga Janja, para explorar a vantagem sobre o eleitorado feminino.

[Janja] Sabemos das dificuldades que nós mulheres enfrentamos atualmente. São milhões de mulheres endividadas para poder levar alimentos para suas famílias. São mães que perderam suas casas e hoje dormem com seus filhos nas ruas. Mudar essa realidade é uma luta de todas nós

Essa disputa pela preferência das mulheres deve continuar agora no segundo turno. Apesar disso, na eleição em que as eleitoras foram estrelas, as candidatas tiveram dificuldade para avançar.

Eu sou Angela Boldrini e este é o último episódio do Sufrágio, um podcast da Folha que tem apoio do Pulitzer Center for Crisis Reporting. Capítulo sete: Vossa Excelência, a eleitora.

A história de como as mulheres viraram um dos pedaços mais importantes do eleitorado neste ano não começa em 2022.

Até 2018, homens e mulheres votavam parecido nas eleições para presidente. Foi na primeira vez que o Jair Bolsonaro concorreu a esse cargo que isso começou a mudar.

O Estudo Eleitoral Brasileiro de 2018, feito pela Unicamp, mostrou que o Bolsonaro teve muito mais eleitores do que de eleitoras. No segundo turno, ele teve a maioria nos dois grupos —mas com uma diferença de 11% de um para o outro.

[Débora] O voto das mulheres em geral se preocupa com saúde e preço dos alimentos, economia

Essa é a cientista política Débora Thomé, que você já conhece de outros episódios. Eu conversei com ela na segunda-feira, ainda na ressaca do primeiro turno, para entender melhor o papel das eleitoras na disputa deste ano.

[Débora] As mulheres são sobre representadas entre as pessoas pobres, no sentido de que têm mais mulheres pobres do que homens pobres

De acordo com as pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Lula ganha entre os mais pobres. Só que…

[Débora] as mulheres são sobrerrepresentadas entre os evangélicos. Ou seja, tem mais mulheres evangélicas que homens evangélicos

E os evangélicos são uma das principais bases do presidente Bolsonaro.

Como o voto é secreto, a gente ainda não sabe como foram as votações por gênero no domingo passado. Esse tipo de levantamento é feito depois, perguntando aos eleitores em quem eles votaram.

Mas as pesquisas de intenção de voto continuaram apontando para uma rejeição feminina ao presidente. Na semana antes do primeiro turno, a pesquisa Datafolha apontava Lula com 49% dos votos femininos e Bolsonaro com 29%.

[Anna Virginia Balloussier] O eleitorado feminino é um flanco do Bolsonaro e isso se repete entre as mulheres evangélicas.

Essa é a Anna Virginia Balloussier, repórter da Folha especializada na cobertura de religião.

[Anna] O desempenho do presidente ele é melhor como um todo nas igrejas, mas as fiéis são bem mais reticentes a Bolsonaro do que os homens. Primeiro, a gente precisa lembrar que o eleitor ele não é só uma coisa. Ele é um caleidoscópio de identidades. Você pode ser evangélico ok, você também pode ser negro, mulher e pobre. Três grupos que tendem mais a Lula. Qual dessas identidades vai vencer na hora do voto? Qual é que vai pesar mais?

Na última disputa, ele tinha recebido o apoio quase unânime dos evangélicos. Este ano, as pesquisas mostravam as mulheres da religião bem divididas na escolha.

[Anna] As mulheres evangélicas são mais reticentes do que os homens a essa retórica agressiva do Bolsonaro, aos palavrões, às falas machistas. Eu diria que até mesmo causas como o armamentismo. Mas não é só isso. Elas, nós, enfim, as mulheres somos mais afetadas pela crise econômica e pelo desemprego e as mulheres costumam valorizar políticas associadas

Desde 2018 todo mundo tenta entender os motivos dessa diferença de gênero. O cientista político Jairo Nicolau fala desse assunto no livro "O Brasil Dobrou à Direita: Uma radiografia da eleição de Bolsonaro em 2018". Ele diz que na Europa já foram feitos estudos sobre por que os homens votam mais em candidatos da direita radical do que as mulheres.

As mulheres seriam menos atraídas por essa figura de hipermasculinidade que esses líderes geralmente projetam…

[Bolsonaro]Imbrochável! Imbrochável! Imbrochável! Imbrochável!

Segundo esse estudo, mesmo as conservadoras se incomodam com o discurso desses partidos mais à direita, e acabam votando em partidos ao centro. E que proporcionalmente, as mulheres no geral teriam uma inclinação maior para votar em partidos de centro esquerda.

É difícil saber o quanto isso pode ser transposto para o eleitor brasileiro. Ou melhor, para a eleitora brasileira. No domingo, Bolsonaro terminou com 43% dos votos —mais do que o medido durante a campanha. A Débora diz que isso pode ter a ver com o perfil complexo das eleitoras.

[Débora] Então eu acho que isso a gente pode considerar que teve um voto envergonhado nas pesquisas, que não apareceu nas pesquisas. Um deles pode ser o das mulheres evangélicas. A religião pode ter se sobreposto… Os valores morais podem ter se sobreposto aos valores econômicos

Se o gênero dos eleitores estava em questão esse ano, o dos candidatos não entrou na conta. A candidata mais bem colocada na disputa, a senadora Simone Tebet, do MDB, teve só 4% dos votos válidos.

E isso não significa necessariamente machismo dos eleitores. Em 2010 e 2014, as candidatas Dilma Rousseff e Marina Silva tiveram fatias parecidas de votos de eleitores e eleitoras.

[Débora] O sexo tem peso um, ideologia e indicação tem peso três. Então o que significa? A gente pode pensar o quanto é importante a indicação e a ideologia. E a indicação pode ser uma indicação de um pastor. Então, assim, essas coisas pesam de formas diferentes…

Apesar da importância do eleitorado feminino, na hora de falar em políticas públicas voltadas para as mulheres, os candidatos se embanararam.

O Bolsonaro diz que foi o presidente que mais sancionou leis para mulheres. Só que só uma das 70 propostas que ele cita foi o governo que propôs. A gestão do presidente também foi responsável pelo veto à distribuição de absorventes para as mulheres pobres. E cortou 99% da verba para ações voltadas para as mulheres no Orçamento de 2023.

No debate presidencial de agosto, a jornalista da Folha Ana Estela de Sousa Pinto fez uma pergunta para o Lula. Ela queria saber se ia ter paridade de gênero entre os ministros de um novo governo dele.

[Lula]Eu fui no México agora, na Câmara dos Deputados, e as mulheres têm maioria no Senado. Deus queira que tenha condições de colocar mais da metade para ser da Suprema Corte. Eu acho que é plenamente possível fazer isso, mas eu não vou assumir compromisso, sabe, de que eu tenho que ter determinada pessoa porque se não for possível eu passarei por mentiroso

O Lula não quis se comprometer com essa agenda. Só que a gente já discutiu isso aqui, né? A igualdade de gênero não cai do céu. No México ela não foi espontânea. As mulheres mexicanas pressionaram por mudanças na lei —e uma bancada feminina forte no Congresso atuou em prol disso.

O que nos leva a outra questão. Por que, nessa eleição em que as mulheres foram tão importantes, a bancada feminina cresceu tão pouco?

No dia primeiro de fevereiro de 2023, 91 mulheres vão tomar posse como deputadas no Congresso Nacional. Esse é o maior número de deputadas federais da história do Brasil. Só que ele é… decepcionante.

Pelo menos foi essa avaliação que eu ouvi das mulheres que trabalham pela igualdade de gênero na política.

É que se a gente for olhar para o todo da Câmara, as mulheres passaram de 15% para 18% dos deputados. As eleitas não chegam a ser nem um quinto do novo Parlamento. O crescimento da bancada também desacelerou em relação a 2018 —quando as mulheres foram de 51 cadeiras para 77.

E isso numa eleição que, em tese, teve muito incentivo para elas se elegeram. A gente falou aqui na série sobre uma nova lei que dava peso dois para candidatas mulheres.

Ou seja, para cada voto em uma mulher, o partido ganha o dobro de dinheiro dos fundos partidário e eleitoral. O mesmo vale para pessoas negras. Mas a cientista política Hannah Maruci achava que isso não ia funcionar, como você já ouviu no episódio cinco. Aqui a análise dela mais uma vez:

[Hannah Maruci] Qual é os resultados disso, que eu imagino e o que eu já estou vendo algumas evidências? É que o partido vai focar em mulheres que trazem sozinhas muitos votos ou em pessoas negras que trazem sozinhas muitos votos. Ou seja, vai investir em pessoas que já têm visibilidade. E aí vai justamente não fazer o que a lei coloca, que é incentivar o partido a elegerem mais mulheres negras, mais pessoas negras, mais mulheres

E foi exatamente isso que aconteceu. Como a conta era baseada no número de votos e não no número de mandatos conquistados, os partidos apostaram nas chamadas puxadoras de voto.

A mulher mais votada do Brasil foi a deputada Carla Zambelli, do PL de São Paulo, que teve sozinha 946 mil votos. Ela e outras parlamentares são parte da onda bolsonarista de eleitos para o Congresso neste ano.

A deputada Bia Kicis, do PL do Distrito Federal, se reelegeu com mais do que o dobro de votos que ela teve em 2018. A Chris Tonietto, do PL do Rio de Janeiro, também vai estar na Câmara em 2023. Lembra dela? A que propôs uma homenagem para a juíza que tentou impedir uma menina de 11 anos de fazer um aborto legal?

Mas o campo progressista também elegeu mais mulheres neste ano. A Sâmia Bomfim e a Talíria Petrone, duas deputadas do PSOL, se reelegeram com mais de 200 mil votos. E foram formadas duas novas bancadas: a trans e a indígena.

[Erika Hilton] Eu acho que esse é o fenômeno de resgate e reparação histórica que não poderá ser freado

Essa é a vereadora e agora deputada federal eleita por São Paulo, Erika Hilton, do PSOL. Ela e a Duda Salabert, do PDT de Minas Gerais, são as primeiras pessoas trans eleitas na história do Congresso brasileiro. E elas vão entrar num Congresso ultra polarizado. No domingo, o PL elegeu 17 deputadas e o PT, 18. São as duas maiores bancadas de mulheres.

Quem conversou com a Erika foi a repórter de política da Folha Priscila Camazano.

[Erika Hilton] É uma expectativa muito dura, muito difícil. Nós vimos o aumento aí do centrão. Nós vimos o aumento da extrema direita, que inclusive jogou de escanteio a direita mais moderada, a direita mais pró-democrática. Nós vimos uma ascensão muito forte de figuras ligadas ao Bolsonaro, de ex-ministros que inclusive representaram o pior, um dos piores ministérios para o nosso país: Meio Ambiente, Direitos Humanos, Saúde se elegendo com uma expressão altíssima de votos. Então, a expectativa para o Congresso será uma expectativa de muita resistência, de muita luta, de muita tentativa de barrar o retrocesso

Não é que na bancada atual todo mundo concordasse e se adorasse. Na verdade, aquele aumento enorme das eleitas em 2018 já tinha sido puxado justamente por PT, PSOL e PSL, que era o antigo partido do Bolsonaro. E isso já estava dando problema dentro da bancada.

Aqui, a Débora Thomé.

[Débora] O que a gente está vendo agora é o aumento da concentração na bancada com esses resultados entre PT e PL. Quando você tem esse aumento da concentração, que era o antigo PT e PSL, a concentração era um pouco menor na outra legislatura. Quando você tem esse aumento de concentração, você a gente vai ter uma preocupação aí, que é o seguinte: você vai ter dois polos com algum confronto. E o PSL foi um elemento muito difícil para a bancada feminina, o PSL mesmo assim falo né, na outra legislatura, porque ele desagregou a bancada. A bancada conseguia fazer acordos entre direita e esquerda em temas pontuais, e o PSL não agiu na primeira legislatura dessas mulheres ali como alguém para fazer concessões dentro da bancada feminina

Na recém formada bancada de mulheres indígenas, a gente pode esperar conflito também. Foram duas as eleitas com respaldo do movimento indígena: a Sônia Guajajara, e a Célia Xakriabá, do PSOL.

O PT elegeu a Juliana Cardoso em São Paulo. E a quarta mulher indígena é uma… bolsonarista.

A Silvia Waiãpi, do PL de Roraima, e a Sônia não são exatamente conhecidas por se darem bem. A Sônia até liderou um protesto contra a Silvia quando a bolsonarista chefiava a Secretaria de Saúde Indígena. Agora, elas vão ter que dividir a tribuna.

[Sônia Guajajara] Fomos eleitas por uma democracia. Eu e Célia vamos estar do mesmo lado, ao lado dos povos indígenas

Essa é a Sônia.

[Sônia] Quem representa Bolsonaro não representa a luta coletiva dos povos indígenas, portanto que certamente estaremos em lados opostos, né?

Apesar das dificuldades que a bancada feminina pode vir a ter, alguns dados são bem positivos. Sergipe, que era o único estado do Brasil que nunca tinha elegido uma deputada agora tem duas.

E alguns partidos conseguiram aumentar bastante o número de representantes. O MDB elegeu o triplo de mulheres em 2022, indo de 3 para 9. O PC do B vai ter uma bancada com paridade de gênero e o PSOL vai ter a primeira bancada com mais mulheres do que homens na Câmara. Vão ser sete deputadas contra cinco deputados.

A eleição de domingo também foi marcada por uma primeira vez no Senado. Teresa Leitão se tornou a primeira mulher eleita por Pernambuco para a Casa. Ela é uma das quatro novas representantes dos estados —de 27 vagas em disputa.

Pernambuco, aliás, vai ter a primeira governadora também. O segundo turno no estado vai ser uma rara disputa entre duas mulheres: a Marília Arraes, do Solidariedade, e a Raquel Lyra, do PSDB.

Então pelos próximos quatro anos, dois estados vão ser comandados por mulheres. A vencedora dessa disputa em Pernambuco vai se juntar à Fátima Bezerra, do PT, que se reelegeu em primeiro turno no Rio Grande do Norte.

Se na Câmara houve um crescimento, ainda que frustrante, no Senado a gente pode acabar com menos senadoras. É que além da baixa eleição de mulheres neste ano, muitas da bancada atual são suplentes. Ou seja, tem a chance de elas deixarem o cargo se os titulares voltarem a assumir.

Falando em derrotadas nas urnas… Uma coisa que chamou a atenção na nova bancada feminina é a baixa reeleição. Menos da metade das 77 deputadas que entraram em 2018 vão estar na Câmara de novo em 2023. E isso pode ser bom e ruim ao mesmo tempo. Aqui, a Débora.

[Débora] Renovação é algo muito bom e é algo importante de haver quando a gente está pensando nesse aumento de representatividade. Não tem como ter mais mulher no Congresso se não tiver menos homem. Então, é importante a gente ter mudanças nos cargos públicos. Mas é bom também que a gente tenha alguma manutenção. Porque demora, gente, aprender como funciona o Congresso, como são as coisas lá? Com quem você vai negociar? Como vai ser sua atuação? Isso exige um conhecimento que demora pelo menos um, dois anos.

Dois casos de mulheres que ficaram de fora chamam a atenção. A deputada Joice Hasselmann, do PSDB de São Paulo, tinha sido a mulher mais votada do país. Só que ela derreteu depois de romper com o Bolsonaro e teve só 13 mil votos.

A outra é a Margarete Coelho, do PP do Piauí, que é considerada uma das parlamentares mais influentes do Congresso —e muito próxima do presidente da Câmara, o Arthur Lira, do PP de Alagoas. Ela terminou a disputa como suplente, com 76 mil votos.

Essas candidatas cumprem todo o check list do que faz uma mulher ser eleita. A derrota delas deu um nó na cabeça dos cientistas políticos.

[Débora] Uma candidata, volto a falar dela, né? Como a Margarete Coelho era uma candidata, ela explica tudo. Ela é uma candidata e tem apoio de um candidato que foi eleito. Ela é uma candidata que teve verba para sua campanha muito provavelmente, ela é uma candidata que já tinha cadeira, já era conhecida. Então tem outros mecanismos aí que a gente vai precisar entender melhor o que estão fazendo nessa conta

Um fenômeno recente são os movimentos que se propõem justamente a ensinar mulheres a serem candidatas de sucesso.

[Carol Gonçalves] Me chamo Carol Gonçalves, sou que é do interior de Pernambuco, na cidade de Toritama. Estou com 25 anos e também como vereadora eleita com 770 votos. A vereadora mais jovem também aqui do nosso município.

Eu conheci a Carol, que é uma política do MDB, em maio. Talvez você já tenha ouvido falar de Toritama, que tem 45 mil habitantes, por causa de uma peça de roupa. É que o apelido de lá é Capital do Jeans.

A produção de calças que são revendidas para o Brasil todo é a principal atividade econômica de Toritama. A cidade é lotada de "fabricos", que são oficinas onde homens e mulheres costuram, pregam botões e etiquetam milhares de calças todos os dias.

Quando eu cheguei lá, a primeira coisa que me impressionou foi a quantidade de pessoas andando de moto com pilhas de jeans entre o corpo e o guidão. E em todas as casas que eu visitei tinha mulheres, homens, adolescentes e crianças, todas sempre costurando.

A Carol cresceu numa família que não fugia à regra da cidade. E ela me recebeu na casa dela, no bairro do Antão, na periferia de Toritama.

[Carol] Minha mãe só veio costurar depois de um tempo, mas meu pai já trabalhou em lavanderia, que é lavando as peças jeans, passando o ferro em calça jeans e depois…

Eu queria falar com a Carol para encerrar essa série por dois motivos. Lá no terceiro episódio a gente falou sobre os três caminhos mais prováveis para as mulheres chegarem à política: as famílias, os movimentos sociais e ser famosa por algum outro motivo antes da eleição.

A Carol virou a vereadora mais jovem de Toritama por um quarto caminho. Ela foi uma das apoiadas pelos chamados movimentos de renovação.

Essas organizações começaram a aparecer com mais força na política brasileira nas eleições de 2018.

[Larissa] Então, primeiro surgiram os movimento de renovação e depois começaram a surgir os movimentos identitários, né?

Essa é a Larissa Alfino. Ela é presidente do Instituto Vamos Juntas, que é um desses movimentos… identitários. É que enquanto essas organizações tipo Renova Brasil e Acredito não tinham uma diretriz de gênero ou etnia, começaram a pipocar grupos que olhavam para em determinados perfis de candidaturas.

[Larissa] Eu acho que isso vem de um lugar, de a gente querer atender às necessidades específicas dos públicos. Então, eu conheço, né, movimentos que vão focar em mulheres negras, mulheres LGBT, mulheres quilombolas, mulheres do campo, mulheres gerais assim como o Vamos Juntas. Então acho que vem duma, duma intenção aí de potencializar cada grupo, potencializar os seus devidos representantes. Porque eu entendo que o movimento negro precisa de mulheres lá que representem as mulheres negras ou mulheres de periferia, assim como mulheres quilombolas e por aí vai

O Vamos Juntas nasceu em 2019 e nas eleições de 2020, apoiou 51 candidatas. Onze delas se elegeram —incluindo a Carol. O Instituto ajuda a encontrar voluntários para a campanha, faz rodas de candidatas mulheres e oferece apoio psicológico.

Quando era pequena a Carol dizia que queria ser política. Mas à medida que ia crescendo, ela começou a achar que isso não era para ela.

[Carol] Eu não me enxergo nesse local. Então eu queria ir para outro. Eu queria fazer outros cursos, ser professora, ser médica, veterinária, essas coisas assim

Na Câmara de Vereadores de Toritama, foram eleitas em 2020 outras duas mulheres além da Carol. No total, a cidade tem 13 parlamentares. As fotos de todos os presidentes do legislativo municipal ficam penduradas na parede de entrada da Câmara. Não tem nenhuma mulher nos retratos. A Carol não se sentia parte daquele universo.

Mas depois de entrar na faculdade de relações internacionais com uma bolsa do ProUni, ela começou a pesquisar mais sobre política —e acabou entrando para o recém-criado movimento Acredito. O Acredito nasceu em 2017 para apoiar candidaturas de estreantes na política. Uma das principais expoentes do movimento é a deputada Tábata Amaral, do PSB, que nas eleições de 2022 foi a deputada progressista mais votada do país.

Em 2018 a Carol não se candidatou, mas ela trabalhou pela primeira vez numa campanha política.

[Carol] Foi a primeira vez que eu fui à feira entregar panfleto. Então, aí, a partir disso, eu comecei a ir atrás de todos os movimentos políticos. Então, quando chegou a oportunidade, em 2019, 2020, eu disse: eu quero me candidatar, eu vou ser essa pessoa

E ela procurou o RenovaBR e o Vamos Juntas. O Renova é uma "escola de políticos", que tem cursos para quem pensa em disputar pela primeira vez.

[Carol] Então, depois veio o RenovaBR, que foi assim onde aprendi em estratégias de campanha. Eu coloco, o Renova como que é muito e é uma escola realmente para políticos. Então ela me ajudou muito. Como é que eu ia ser competitiva em relação a forma que se faz política aqui em Toritama, que é com compra de favor ou compra de voto, assistencialismo e eu não ia fazer nenhuma dessas? Não tinha dinheiro e nem ia usar o dinheiro dessa forma. Eu não sou filha de político e nem tem parente na política e também nem era tão conhecida. Então esse movimento, o Renova veio muito nisso

Na casa da Carol, o primeiro andar é tipo uma garagem. Ela me explicou que antigamente ali funcionava a oficina de costura da família. E aí subindo uma rampa de concreto improvisada, a gente chegava na sala.

[Carol] Aqui era o local onde eu estudava, onde eu pensei a campanha, as estratégias da campanha e tudo mais. Era sempre aqui, e eu passava a noite, na verdade, porque assim durante o dia era muita zoada e muito, tais sentindo, né? Muito quente aqui

O lugar que a Carol estava me mostrando era uma escrivaninha pequena que ficava entre a cozinha e os quartos. Lá dentro, num dia de outono, a gente estava suando muito por causa do calor. Em cima da mesa, tinham várias fotos da Carol e uma bonequinha de biscuit dela com uma beca de formanda. Atrás, a parede de cimento cru estava pixada com a hashtag: EuAcredito.

[Carol] Isso foi da campanha. A gente tem até o verdezinho ali

[Angela] Cadê?

[Carol] Que foi assim, ia ter a passeata aqui na cidade

A Carol diz que os outros candidatos tinham muito mais carros para a carreata. E aí ela decidiu decorar o carro com um pano e a hashtag. Só que antes ela queria testar em algum lugar.

[Carol] Eu peguei um spray e um pano e disse: vou testar aqui. Eu peguei e fiz a hashtag eu acredito. E tem uma foto no Instagram bem emblemática, assim que foi uma das postagens mais comentadas que é eu ali na escada e está lá escrito #EuAcredito

Na época da campanha, a casa de três cômodos tinha sete moradores –e era difícil achar um momento para se concentrar.

[Carol] Aqui então a noite era um momento que sempre fazia silêncio, tanto no período quando eu estava na universidade estudando, quando também eu estava pensando nas estratégias da campanha e quando eu estava fazendo a formação do Renova, minhas mentorias com a Margarete, também do Vamos Juntas, tudo acontecia nesse espaço aqui

A Margarete que a Carol se refere é justamente a deputada Margarete Coelho. Aquela que é super influente, mas que terminou como suplente nas eleições deste ano.

Uma das coisas que me chamaram a atenção quando eu estava pesquisando sobre esses movimentos de formação de candidatas foi a história das mentorias.

A gente já falou aqui na série sobre capital político. É ele que faz com que uma pessoa pareça mais capacitada do que outra para receber o seu voto. E no caso de estreantes como a Carol, que é uma jovem da periferia do interior de Pernambuco, o movimento serve como ponte para esse capital.

De que outra maneira ela teria acesso a uma deputada federal, de outro estado e de outro partido? Aqui, de novo, a Larissa.

[Larissa] E aí a gente faz um mapeamento inicial das necessidades dessas mulheres e vai buscando mentores que podem apoiá-las. Então, as maturidades das campanhas são muito diferentes. E a gente vai buscando nomes que são relevantes, porque tem uma questão de capital político, então são relevantes nesse sentido, mas também são relevantes em termos de conhecimento. Então, no caso das parlamentares, a gente tenta casar pessoas que podem abrir portas politicamente falando, que podem contribuir com equipes muito qualificadas para as equipes das candidatas

A gente precisa lembrar uma coisa. Os movimentos de renovação política não são uma panaceia. Eles não vão resolver sozinhos a desigualdade de gênero na política. E tem quem critique esse tipo de organização —os próprios partidos têm um pé atrás com eles.

No Brasil, ninguém pode concorrer a uma eleição sem ter um partido. E isso acabou gerando uma disputa entre os movimentos e as siglas.

[Larissa] Eu acho que os partidos, eles foram criando uma casca para movimentos, que foi muito numa linha de concorrência. Então eles enxergam um pouco movimentos como os nossos como partidos clandestinos, então que a gente quer de alguma forma usar esse capital político que eles constroem nas candidaturas. Então, acho que foi criando um pouco de desgaste, e aí o diálogo ficou um pouco estremecido nisso

A Larissa diz que hoje os movimentos não têm muita entrada nos partidos, e que candidatas de movimentos às vezes são até mal vistas dentro da sigla. Eles atuam mais naquela outra ponta, a de ajudar candidatas a brigarem por espaço.

Lembra daquele guia para as candidatas cobrarem o financiamento de campanha dos partidos? Ele foi produzido pela Tenda das Candidatas, um movimento que surgiu nessa onda.

A Hannah Maruci, uma das diretoras da Tenda, diz que elas decidiram lançar este ano um curso pós-eleitoral para as mulheres que não foram eleitas. Ela explica que as mulheres saem candidatas pela primeira vez e terminam a disputa abaladas e desestimuladas.

Uma eleição é dura por natureza —mas para candidatas mulheres, além da disputa, elas podem ter que enfrentar subfinanciamento, boicote no partido e até violência de gênero. Tudo que a gente já discutiu aqui na série. E aí elas não querem mais se candidatar.

Só que estudos mostram que uma disputa eleitoral, mesmo que termine em derrota gera capital político. Ou seja, essas mulheres que acabam desistindo podiam ser candidatas mais competitivas numa próxima eleição.

E o que a Hannah e a Larissa me disseram é que dentro dos partidos as mulheres não têm encontrado acolhimento. Aliás, várias mulheres com quem eu conversei disseram que os movimentos de renovação só cresceram tanto por causa de uma falha dos partidos.

A Carol diz que o apoio emocional foi o mais importante que ela tirou do Vamos Juntas.

[Carol] E o Vamos Juntas foi aquela questão mais sentimental mesmo, mais emocional, de de ver outras mulheres, de compartilhar as dores, de tipo mulheres "gente, eu estou sendo sabotada no meu partido" e a gente estava passando pela mesma situação, tipo, e a gente unir essas forças…

Os partidos são obrigados a gastar atualmente 5% do dinheiro do fundo partidário em fomento a candidaturas femininas. E a Larissa vê nessa medida uma inspiração no que fazem os movimentos.

[Larissa] Desde que os movimentos de renovação surgiram, a gente percebe uma intenção dos partidos de tentar replicar um pouco o que os movimentos fazem para dentro dos partidos. Então acho que como vem sendo um movimento constante e crescente dos movimentos surgirem e estarem apoiando cada vez mais candidatas e lançando nomes interessantes, eu acho que, apesar de ser uma relação ainda distante, tem uma parte ali de aprendizado com os movimentos, de tentar qualificar os serviços que eles prestam né, porque eu acho que eles colocaram no lugar de "somos a plataforma que lança candidaturas e aí depois disso a gente não tem nenhuma obrigação". Mas têm

E não é só no âmbito dos partidos que a gente precisa avançar para conseguir reverter essa desigualdade de gênero.

Aqui na série, a gente discutiu vários problemas para as mulheres chegarem até o poder —e também falou sobre possíveis soluções. A gente ganhou nos últimos anos movimentos que incentivam candidaturas, as leis de financiamento obrigatório, a lei contra violência política de gênero… Mas parece que saímos bem pouco do lugar. E aí?

[Hannah] Eu acredito que a gente tem que aprimorar a nossa legislação eleitoral

A Hannah Maruci diz que não tem saída fácil.

[Hannah] Então, primeiro destacaria em relação aos 30% do Fundo Partidário, destinado a campanhas para mulheres. Mas a gente precisa olhar para esses 30% e olhar o que não está funcionando nele. Quer dizer, temos 30% direcionado para mulheres, mas o que a gente está vendo é que ele está sendo direcionado primeiro e tardiamente muitas vezes, e para poucas mulheres. Então é preciso determinar o tempo da entrada desses recursos, dessa porcentagem

Para ela, outro fator determinante para o aumento frustrante de deputadas foi o fenômeno das puxadoras de voto. A Hannah defende que a gente tenha mais regras para definir como e para quem vai o dinheiro da cota dos 30%.

[Hannah] Não permitir que ela possa ser dividida entre apenas uma ou duas mulheres, porque isso não vai fazer com que a regra com que a lei funcione

E ela acha que esses recursos tem que ir só para as disputas no Congresso —pros partidos não poderem jogar um monte de dinheiro numa candidatura feminina só e deixar as outras à míngua.

[Hannah] A gente precisa que ela seja distribuída entre mais mulheres e é preciso que esses 30% sejam direcionados para as candidaturas proporcionais, porque quando a gente permite que elas sejam direcionadas para as majoritárias, a gente vê o que está acontecendo agora, que é o fenômeno das vices. Então, colocar a mulher apenas para constar ali como vice. O dinheiro entra. Ele conta como um dinheiro é direcionado para mulheres

Dentro da desigualdade de gênero, a gente precisa combater outra desigualdade.

[Hannah] Então, outra coisa importante em relação ao fundo também precisa ter o marcador de raça incluído. Então, não é só mulheres. A gente tem que ter também metade desse percentual que a gente quer que seja maior destinado a mulheres negras, porque a gente sabe que hoje os recursos de campanha quem está recebendo menos são as mulheres negras. Então, acho que isso é extremamente importante. E gente precisa acabar com as anistias.

E pensar em novos meios de tornar a política um lugar menos hostil para as mulheres. Um deles é a permissão para as candidatas usarem o fundo de campanha para funções de cuidado.

Ou seja, a candidata conseguir usar o dinheiro para pagar uma creche para os filhos dela, por exemplo.

[Hannah] A gente tem uma, uma sociedade que é construída de uma forma em que o casamento beneficia o homem na política e prejudica a mulher. Então a gente até vê as mulheres na política, é melhor para uma mulher na política ser solteira, não ter filho. Para o homem, não, é melhor ele ser casado e ter toda aquela estrutura que garante a existência pública dele

Faz mais de um século que as brasileiras lutam para ter espaço na política. A gente começou essa série falando de quando as mulheres não podiam nem votar. Depois, veio a luta para se eleger —que dura até hoje.

Enquanto eu estava apurando, várias vezes eu me pegava pensando como as histórias são cíclicas. O lobby que as meninas do Girl Up fizeram pela distribuição de absorventes em 2021 é muito parecido com o que o Lobby do Batom fez na Constituinte. Que por sua vez, é muito parecido com o que a Bertha fazia nos anos 1920, para conquistar o direito de votar.

As questões são muitas vezes as mesmas: a história de que as mulheres "abrilhantam a política" foi usada para defender o direito ao voto —e é usada hoje para defender candidaturas femininas. Mas será que esse discurso é bom para a gente mesmo?

O próprio voto feminino está ligado à eleição de mulheres, você sabia? Um estudo da FGV e do Insper no ano passado mostrou que cidades que elegeram prefeitas tiveram mais votos de meninas adolescentes na eleição seguinte. Ver mulheres no poder ajuda outras mulheres e menina a sentirem que sim, elas pertencem ao processo eleitoral e democrático.

E mais do que nunca, o debate de como enxergar uma bancada feminina diversa no Congresso, e até conservadora, está posto. Quais vão ser as pautas das novas parlamentares? Quais consensos vão ser possíveis? Isso a gente vai ter que descobrir a partir do ano que vem.

Este foi o Sufrágio, um podcast da Folha realizado com o apoio do Pulitzer Center for Crisis Reporting.

Obrigada por ter ouvido a gente até aqui.

Eu sou Angela Boldrini, e a idealização, pesquisa, reportagem e roteiro são meus. A Priscila Camazano contribuiu com reportagem para este episódio. A produção é da Jéssica Maes, e a edição de som é da Laila Mouallem. A coordenação é da Magê Flores. Neste episódio, o Cristiano Martins fez o levantamento dos dados eleitorais. A identidade visual é da Catarina Pignato, e a divulgação é feita pelo Naná DeLuca e pelo Mateus Camillo. A gravação foi feita no estúdio Madruga, em Brasília.

Este episódio usou áudios de UOL, Band, TV Cultura e Poder 360.

Este foi o último episódio do Sufrágio. Eu queria agradecer a todo mundo que colaborou para esse projeto acontecer. Neste episódio, especialmente a Débora Thomé, Larissa Alfino, Luciano Amâncio, Rafael Maranhão, Bárbara Libório, Fernando Vaz e Veronica Rosa.

Obrigada por ter me acompanhado até aqui. Até a próxima!

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