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09/09/2012 - 06h00

Primeira candidatura de Serra, em 1988, nasceu por acaso

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MAURICIO PULS
DE SÃO PAULO

Campanha para prefeito de São Paulo, 1988: após um comício noturno que reuniu poucas pessoas, na zona oeste, José Serra deixa o palanque improvisado e passa indiferente por três repórteres de jornais que tentavam entrevistá-lo: "Cadê a TV? Cadê a TV?" Ao perceber que não havia nenhuma emissora de televisão no local, ele volta e decide atender os jornalistas.

Na época a campanha já não ia bem. Foi uma disputa "realmente difícil, pela falta de estrutura do partido", recorda a candidata a vice na chapa, a então deputada Guiomar Namo de Mello.

O PSDB havia sido fundado cinco meses antes da eleição: não estava organizado na cidade e tinha pouco tempo no horário eleitoral. Diante disso, nenhum de seus líderes queria se arriscar.

"Na verdade ninguém queria ser candidato. Era um partido recém-criado", diz Getúlio Hanashiro, ex-secretário de Transportes da cidade.

Serra nunca figurou entre os três primeiros colocados nas pesquisas. Terminou em quarto lugar, com 6,9% dos votos válidos, atrás de Luiza Erundina (PT), com 36,8%; Paulo Maluf (PDS), 30,1%, e João Leiva (PMDB), 17,5%.

O peemebista tinha o apoio do presidente José Sarney, do governador Orestes Quércia e do então prefeito, Jânio Quadros --todos desgastados. Como não havia segundo turno, Erundina venceu.

Mas Serra não foi vítima só da falta de estrutura partidária: diferentemente de hoje, ele era relativamente pouco conhecido, a despeito de sua passagem pela Secretaria de Planejamento no governo Franco Montoro (1983-1987). Em 1986, ainda no PMDB, ele tinha sido eleito deputado federal com 160.868 votos, mas 70% deles vieram do interior.

Um episódio recolhido pela cientista política Judith Muszynski ("Eleições e Malufismo na Voz dos Motoristas de Táxi", 1989) é revelador.

Ao entrevistar um taxista sobre as razões de seu apoio a Serra --já que tinha colocado no carro um adesivo com o slogan do candidato e o desenho de um tucano--, o motorista ficou muito surpreso.

"Se estou apoiando Serra? Eu? Por quê? Ah! O plástico! Isso eu pus aí por causa do tucano, que é bem bonitinho, e por causa do que está escrito aí, que é engraçado: 'Serra essa mamata' [slogan do tucano, que prometia acabar com a corrupção]. É por causa da mamata... Não tô ligando muito para essas coisas, não. Acho que vou votar no Maluf, que é o menos pior."

Apesar de tudo, Serra manteve sua candidatura até o fim, sempre insistindo que seria eleito e negando ter recebido apelos de Montoro para apoiar Erundina e assim evitar a vitória de Maluf: "É uma mentira descarada", dizia.

CANDIDATO POR ACASO

Tucanos nem gostam de falar daquela campanha. O próprio Serra lhe dedica apenas duas linhas de sua biografia, "O Sonhador que Faz": "Para a Prefeitura de São Paulo, em 1988, o Montoro era candidato e ficou doente. Eu entrei candidato em agosto, quase setembro, não tive tempo de fazer a campanha".

Sua candidatura surgiu por acaso. Fundado em junho daquele ano por dissidentes do PMDB liderados pelo senador Mario Covas, o PSDB avaliou que precisava marcar posição na capital paulista, base eleitoral de seus fundadores.

Cotado para disputar a Presidência em 1989, Covas queria se preservar e rejeitou todos os convites nesse sentido. Já o senador Fernando Henrique Cardoso, derrotado em 1985, temia concorrer de novo em condições ainda mais difíceis: "Nem pensar".

Restavam assim os nomes do ex-governador Franco Montoro e do ex-ministro Dilson Funaro (que lançou o Plano Cruzado), que aceitava concorrer, mas sofria, desde 1982, de câncer linfático.

A cúpula do PSDB decidiu pressionar Montoro. Este resistia à indicação porque ainda alimentava a esperança de ser o candidato do PSDB ao Planalto --e sugeriu Serra.

Sondado, Serra criticou Funaro --não unia o partido-- e disse que aceitava ser candidato. Enfrentava, porém, fortíssima resistência de Covas.

Após muitas discussões, Montoro aceitou concorrer em 23 de julho, com a condição de que Serra fosse o seu vice, pois queria deixar a prefeitura com alguém de confiança, caso deixasse o cargo.

Contrário à indicação de Serra, Covas ainda tentou emplacar vários nomes de seu grupo. Mas acabou cedendo.

"Achava que talvez, eventualmente, se pudesse ter uma chapa eleitoralmente mais forte. O ideal seria um homem que não fosse tão próximo ao ex-governador Franco Montoro", disse Covas na convenção, em 7 de agosto. Serra evitou polemizar: "Esse episódio já está superado".

A campanha de Montoro durou só uma semana: em 15 de agosto ele deixou de ir a um comício alegando ter contraído uma gripe. Dois dias depois, o PSDB revelou que o ex-governador, com 72 anos, estava com pneumonia.

Recomeçaram as discussões. A maioria do partido insistia agora em lançar Covas, que tentava convencer o PSDB a bancar Funaro. O ex-ministro, porém, estava cada vez mais debilitado --e morreria oito meses depois.

Montoro finalmente desistiu em 18 de agosto, levando ao desespero os candidatos a vereador do PSDB, que já tinham gastado Cz$ 60 milhões (cerca de R$ 1 milhão hoje).

Covas reiterou, no dia 24, que não iria concorrer. No mesmo dia, Serra surpreendeu o PSDB e anunciou que também desistia da disputa.

Sem candidato, os tucanos passaram então a buscar uma aliança com o PT, sugerindo a troca da "radical" Luiza Erundina pelo "moderado" Plínio de Arruda Sampaio.

Porém o PSDB logo constatou que o PT não abriria mão de Erundina só "para resolver um problema nosso", como disse o então deputado federal Geraldo Alckmin.

Com o fracasso das negociações, a direção fez novo apelo a Serra, que aceitou concorrer em 31 de agosto. A eleição de 1988 foi a primeira em que ele só concordou em ser candidato após várias recusas --o que se repetiria em 1996, quando demorou 173 dias para se decidir: "Serra não gosta de enfrentar disputas, ele gosta de ser aclamado", diz Getúlio Hanashiro.

Editoria de Arte/Folhapress
 

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