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26/09/2012 - 05h45

'Sinto medo', afirma banqueira do Rural condenada no mensalão

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MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO

A banqueira Kátia Rabello, principal acionista do Banco Rural, instituição usada no esquema do mensalão, diz em carta divulgada a amigos que está com medo.

"A semana passada estive muito mal. O cansaço e a desesperança se abateram sobre mim. Sei do risco que corro e é claro que sinto medo", escreveu na mensagem, obtida pela Folha.

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Kátia não cita a palavra prisão, mas pode ir para o regime fechado após ter sido condenada pelo Supremo Tribunal Federal por lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta. Ela será julgada ainda por formação de quadrilha.

A pena de prisão pode ultrapassar os oito anos, tempo mínimo para os ministros determinarem o cumprimento em regime fechado.

Na mensagem, ela diz ter vivido "momentos terríveis" após a morte de José Augusto Dumont, ex-vice-presidente do Rural apontado por seu advogado, José Carlos Dias, como elo entre o banco e o PT.

Dumont morreu em 2004, num acidente de carro. Se a tese de defesa do advogado tivesse prevalecido, o culpado seria um morto.

Os ministros do Supremo derrotaram a tese de Dias e imputaram a responsabilidade pelos empréstimos de R$ 31 milhões do Rural, feitos a agências de Marcos Valério e ao PT, a Kátia Rabello e aos executivos que ela contratou.

Os ministros endossaram a tese da Procuradoria, segundo a qual ela teve encontros com o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, por ter interesses em acabar com a liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco, do qual o Rural controlava 22%. Essa foi a razão apontada pelo Supremo para o Rural conceder empréstimos ao PT e às agências de Valério.

"Essa sensação de impotência é que nos faz perder a razão de viver", escreve ela.

Católica, a banqueira diz ter buscado apoio em Deus e no estímulo dos amigos. Para ela, "a vida é dura demais".

Kátia diz conviver com um sentimento de "injustiça" após a condenação.

"Lá no fundo, cada um de nós sabe o que fez e o que não fez... Por isso estou em paz", relata.

Segundo ela, houve momentos de "desespero" entre 2004 e 2005. À época, o Rural foi abatido por três crises.

A primeira foi causada pela quebra do Banco Santos. Com a derrocada, muitas empresas fugiam de bancos médios temendo insolvência. "Felizmente, pude honrar todos os compromissos", diz. A segunda foi causada pelo mensalão. A outra, pela morte do pai e da irmã.

Leia a íntegra da carta de Kátia Rabello.

*

Caros amigos,

A semana passada estive muito mal. O cansaço e a desesperança se abateram sobre mim. Sei do risco que corro e é claro que sinto medo. Mas descobri que não é o medo que me derruba. Nesses últimos quase dez anos, desde a morte do Zé Augusto, vivi momentos terríveis.

Por muitas vezes me deixei abater, não por covardia, mas por temer que tudo o que eu fizesse, e por mais que me esforçasse para fazer o certo, fosse insuficiente perante as situações que a vida me trazia. Essa sensação de impotência é que nos faz perder a razão de viver. Sim, porque ninguém, em sã consciência, pode querer viver só por "diversão". A vida é dura demais...

Mas Deus é bom e nunca nos abandona. Frases de consolo e apoio como as de vocês, chegam a mim a toda hora e recarregam as baterias da fé.

O sentimento de injustiça dói demais, e nessa vida não temos a escolha de sermos ou não injustiçados. Temos, porém, o livre-arbítrio que nos permite a escolha de sermos ou não injustos... E cada um é obrigado a conviver com a consciência de seus atos. Lá no fundo, cada um de nós sabe o que fez e o que não fez... Por isso estou em paz.

Nos piores momentos do banco em 2004 e 2005, fiquei em desespero. Passei pelas mortes da minha irmã, do Zé Augusto, e finalmente a morte do meu pai, que sinceramente não tive como chorar, pois aconteceu entre as crises do Banco Santos e do mensalão. O pior de tudo foi o pânico que eu tinha de causar prejuízo a quem confiou em mim.

Felizmente, pude honrar todos os compromissos assumidos, e o banco seguiu em frente. As pessoas que se foram continuam presentes em nossas vidas através do nosso amor e dos princípios e valores que nos ensinaram.

Sofro muito pelos meus colegas. Sei o quanto é absurdo eles serem envolvidos nessa história, mas a verdade às vezes é inconveniente...

Apesar disso, temos que ser fortes e continuar lutando pelo que sabemos ser o certo.

Obrigada por todas as orações e pelo carinho que tenho recebido.

Abraços, Kátia.

 

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