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05/10/2012 - 05h00

Campos Machado diz não ver problema em misturar religião e eleição

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MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO

O deputado estadual Campos Machado (PTB) tinha tudo para ser um político de caricatura. Usa peruca acaju, tem sotaque acaipirado e modos antiquados --discursa aos brados, como se estivesse num estádio, mesmo numa sala com 20 pessoas.

Nada disso foi empecilho para que se tornasse um dos mais habilidosos articuladores da política paulista, segundo um arco ideológico que vai de Geraldo Alckmin (PSDB), de quem foi vice em duas candidaturas à prefeitura, ao clã dos Tatto, do PT.

Coordenador político da campanha de Celso Russomano, não foge da besta-fera da eleição: a mistura de política e religião. Cita uma frase que atribui a Gandhi (1869-1948), líder da independência da Índia, para sustentar que a mescla não tem nada de espúria: "Quem disse que não pode misturar política com religião, não entende de política, tampouco de religião".

Russomanno já tinha o apoio da Universal, mas foi Machado, católico como o próprio candidato, quem diz ter articulado a entrada da Renascer e de padres carismásticos na candidatura. Ele é líder do PTB há 22 anos.

Foi Machado, 73, quem procurou dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, quando a Igreja Católica começou a criticar outro coordenador da campanha de Russomanno, Marcos Pereira, bispo licenciado da Universal. Pereira havia escrito num blog em 2011 que os católicos ajudaram no "kit gay" que o governo cogitou distribuir e desistiu por pressões, sobretudo dos evangélicos.

Juca Varella/Folhapress
Coordenador da campanha de Russomanno, Campos Machado é considerado primeiro-ministro de Russomanno
Coordenador da campanha de Russomanno, Campos Machado é considerado primeiro-ministro de Russomanno

O texto voltou a circular nas redes sociais, o que enfureceu a cúpula católica. "Assumi com dom Odilo o compromisso de retirar o texto do blog", conta Machado. No mesmo dia, o post sumiu.

Russomanno nem era a primeira opção de Machado na disputa à prefeitura. "Eu sabia que o eleitorado estava cansado e ia querer alguém novo". Apostou em Gabriel Chalita, que preferiu o PMDB ao PTB por conta do tempo de TV, de acordo com ele.

A NOVIDADE

Machado lançou Luiz Flávio D´Urso, ex-presidente da OAB, como candidato a prefeito pelo PTB, mas desistiu assim que o Datafolha apontou, em 26 de junho, que o candidato dava traço.

Diz ter sido assediado por PSDB e PT, mas as conversas não foram adiante porque os dois partidos se recusaram a dar o cargo de vice ao PTB.

Só aí surgiu o nome de Russomanno (PRB). Em conversa por telefone, Machado diz ter feito uma exigência: "Só quero indicar o vice". Russomanno teria dito, na versão do petebista: "Põe o vice que quiser. Com você, posso ganhar a eleição". A Folha não conseguiu confirmar essa versão com o candidato.

Russomanno tinha 22 pontos nas pesquisas quando Machado decidiu apoiá-lo --o candidato chegou a 35 e começou a cair. "Todo mundo dizia que eu tinha apostado num cavalo paraguaio, mas o tempo mostrou que é um cavalo britânico". Cavalo paraguaio é a gíria para designar aquele que larga bem, mas no final definha.

Advogado criminalista, Machado ficou conhecido na polícia por ter tantos poderes quanto o próprio secretário de Segurança. Ele indicava delegados seccionais e tinha influência no Detran (Departamento de Trânsito). O chefe de gabinete do deputado foi apanhado em 2008 numa investigação sobre venda de carteiras falsas de habilitação e foi demitido no mesmo dia. A influência durou até a entrada de Ferreira Pinto na Segurança, em março de 2009.

Machado diz que todo esse poder é lenda e que, depois de algumas divergências, virou amigo do secretário. Ferreira Pinto confirma.

Por causa da habilidade nos bastidores, é tratado como primeiro-ministro informal de Russomanno. Machado diz que nunca cogitou esse tipo de poder numa prefeitura, que tem um projeto de dez anos para o PTB no Estado, mas logo em seguida cita um ditado, uma de suas manias: "Fama de rico e de valente não se desmente".

 

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