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20/10/2012 - 03h00

Leandro Narloch: Bem-vindo ao Masoquistão

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COLUNISTA DA FOLHA

Entre as nações mais curiosas do mundo figura o misterioso Masoquistão. Os habitantes desse país se caracterizam por desprezar tudo aquilo que os beneficia e idolatrar leis e instituições que os maltratam. Esse costume fica evidente na maior metrópole do Masoquistão, onde a prefeitura tem como principal tarefa transformar a vida das pessoas num inferno.

Por exemplo, quando um camelô resolve, durante uma tempestade, vender guarda-chuvas a preços módicos ao masoquistense parado na saída do metrô, um fiscal aparece aos gritos ("Clandestino!"), apreende os guarda-chuvas, deixa o vendedor sem a mercadoria e o cidadão contente por sofrer na chuva.

Numa avenida reta, larga e segura, a prefeitura instala radares de velocidade cujos limites mudam, sem critério, de 50 para 70 e depois para 40 km/h, rendendo multas que reduzem a um valor mais adequado a aposentadoria de velhinhas incautas.

Os masoquistenses odeiam carros e demolições de casinhas antigas. Por isso mesmo criam leis que aumentam o número de carros e demolições de casinhas antigas.

Primeiro, asseguram que o transporte coletivo seja uma desgraça, impondo um monopólio público no serviço de ônibus. Sem concorrência, as empresas agraciadas pelo monopólio oferecem um serviço de sádicos. Os poucos empresários que tentam quebrar essa reserva de mercado trabalham com carros velhos, como medo de vê-los aprendidos por fiscais.

Quando alguns cidadãos menos adeptos ao sofrimento decidem evitar os ônibus morando perto do que acham interessante, a prefeitura dificulta a construção de prédios altos nessas áreas. Estabelece limites da área construída em relação à área do terreno.

Como resultado, a cidade se expande para os lados e muita gente vai morar longe, tendo que se deslocar de carro pela cidade. E as construtoras, para erguer quaisquer 20 andares, avançam sobre a área de casinhas antigas.

Há décadas essas leis garantem o caos da grande metrópole do Masoquistão. Mas quem disse que os masoquistenses reclamam? Nada. Nas eleições, como se houvesse alguma diferença relevante entre os candidatos, eles escolhem aqueles que mais vão sabotá-los. "Mais planejamento!", exige um masoquistense típico. "Não à verticalização!", grita um vereador recém-eleito.

LEANDRO NARLOCH é jornalista e autor de "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" e coautor de "Guia Politicamente Incorreto da América Latina".

 

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