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27/10/2012 - 07h00

Delator do mensalão do DEM quis trocar silêncio por dinheiro

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RUBENS VALENTE
MATHEUS LEITÃO
DE BRASÍLIA

O delator do mensalão do DEM no Distrito Federal, em 2009, Durval Barbosa pediu proteção ao seu principal alvo de denúncias, o então governador José Roberto Arruda (à época no DEM), e sugeriu negociar seu silêncio.

É o que revela uma gravação inédita apreendida pela Polícia Civil no cofre de um hotel em Brasília e transferida em 2011 à Polícia Federal.

"Eu prefiro muito mais a proteção do que dinheiro", disse Barbosa, numa conversa com o ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), então secretário de Transportes do DF e aliado de Arruda.

Alan Marques-3.mar.2010/Folhapress
O ex-secretário do governo do DF e delator do mensalão do DEM, Durval Barbosa, em 2010
O ex-secretário do governo do DF e delator do mensalão do DEM, Durval Barbosa, em 2010

Naquele momento, Durval, secretário extraordinário do governo do DF, era acuado por investigações do Ministério Público sobre irregularidades em contratos públicos sob sua responsabilidade.

Por meio de Fraga, ele fez chegar a Arruda a informação de que detinha vídeos em que aparecia distribuindo dinheiro a parlamentares aliados e entregando um maço de dinheiro ao próprio governador.

Mais tarde, no auge do escândalo, em novembro de 2009, esses vídeos foram divulgados. O caso levou à saída de Arruda do governo.

A Folha teve acesso ao áudio, de 26 minutos, e à transcrição feita pela polícia. A gravação foi feita por Fraga, que a guardou em um hotel, onde foi localizada quando a polícia cumpria uma ordem judicial em outro inquérito.

O encontro entre Fraga e Durval teria ocorrido no primeiro semestre de 2009, depois que Arruda recebeu os primeiros indicativos de que o secretário tinha munição suficiente para abrir uma grave crise no governo.

Fraga narrou a Durval o resultado de uma reunião mantida dias antes com Arruda.

Segundo o ex-deputado, Arruda o chamou para saber sua opinião para saber "o que fazer" com Durval.

'BOMBA'

Fraga disse ter respondido: "Falei: 'Arruda, deixa eu te falar uma coisa: o cara é uma bomba ambulante. Você não pode ficar com um cara desse contra você no seu governo. [...] Se você insistir nisso, você pode ter certeza que você vai cair do governo'".

O ex-deputado disse ter sugerido pragmatismo: "Eu falei: 'Ó, se ele [Durval] tinha 'X', e você quer dizer para ele que não dá mais 'X' para ele, então você chega e diga, eu dou 'Y'. Temos que conversar'. E você [Durval] tem que se sentir também atendido". Durval corrigiu: "Protegido".

Fraga prometeu dar "as garantias" necessárias.

A advogada de Durval, Margareth Almeida, disse que o pedido do cliente foi uma mera simulação, que a conversa ocorreu em outubro de 2009, quando o seu cliente já era colaborador do Ministério Público, e apenas procurava "acalmar" Arruda antes da deflagração da Operação Caixa de Pandora. Ela negou se tratar de ameaça.

Segundo a advogada, na época todo o "material de prova" já havia sido entregue ao Ministério Público.

Fraga afirmou que apenas fez a intermediação dos pedidos de Durval e negou ter cometido qualquer irregularidade. Disse que Arruda não interferiu no Judiciário. O governador e seu advogado não foram localizados.

OUÇA OS ÁUDIOS

Trecho 1

Áudio 1

Alberto Fraga: [O então governador José Roberto Arruda] falou, agradeceu, papapá, aquele negócio todo, falou que estava tendo intriga no governo e que tinha muita gente querendo a cizânia do grupo, papapá, aquele negócio todo. Bom, a reunião foi uma maravilha, a reunião foi light, totalmente light. Quando acabou a reunião, ele falou assim: 'Eu queria um minuto de você'. Me levou lá para dentro e começamos a conversar. E aí ele queria saber o que que estava acontecendo com você [Durval Barbosa]. Eu disse: 'Olha, ele está chateado com você. Está totalmente chateado com você'. Ele disse: 'Por que chateado comigo?' Eu digo: 'Pô, por quê? Você sabe porque'. Ele disse: 'O mesmo assunto?' Eu falei: 'É'. [Arruda]: 'Mas ele está muito nervoso'.

Trecho 2

Áudio 2

Alberto Fraga: Bom, aí o Arruda me chamou: 'Fraga, o que fazer?'. Falei: 'Arruda, deixa eu te falar uma coisa: o cara é uma bomba ambulante. É nitroglicerina pura. Você não pode ficar com um cara desse contra você no seu governo. Você tem que ter, tem que se resolver. Não dá para você ficar com ele contra você. Se você insistir nisso, você pode ter certeza que você cair do governo'.
Durval Barbosa: Ahhh... [ironizando]
Alberto Fraga: 'Eu estou te dizendo. Eu vi [os vídeos] e é coisa pesada'. [Arruda responde]: 'Ah, mas ele também cai'. [Eu disse]: 'Bom, mas ele não pensa nisso, o Durval é doido, o Durval é doido, ele não está pensando nisso'.
Durval Barbosa: Tem coisas sozinho que não precisa dele...
Alberto Fraga: Aí foi quando ele chegou e falou uma coisa e eu falei assim: 'Mas tem um detalhe, a imagem fala mais do que qualquer... por cinco milhões de palavras. Quando eu te falei, que eu não tenho medo de provar como eu comprei a minha casa, eu tenho medo do cara colocar uma matéria sacana [na imprensa]. Aqui está o exemplo. Vamos tentar resolver, vamos tentar resolver'. [Arruda comentou]: 'Mas está todo mundo achando que ele vai fazer alguma coisa agora'. Eu disse 'não, não acho que vai fazer nada, não. Eu só acho o seguinte, vamos fazer o seguinte, quando a gente voltar, vamos conversar aqui com a [inaudível] para resolver a situação dele'. [Arruda indagou]: 'Mas como?'. Eu falei: 'Vamos ser pragmáticos'. E aí eu fui pragmático. Eu falei: 'Ó, se ele [Durval] tinha 'xis', e você quer dizer para ele que não dá mais 'xis' para ele, então você chega e diga, eu dou 'Y'. Nós tem que conversar!'. E você [Durval] tem que se sentir também atendido.
Durval Barbosa: Protegido.
Alberto Fraga: Protegido.
Durval Barbosa: Eu prefiro muito mais a proteção do que dinheiro.
Alberto Fraga: Não, tudo bem.

Trecho 3

Áudio 3

Alberto Fraga: Então, mas eu senti que ele quer fazer esse acordo. Então, o seguinte...
Durval Barbosa: O problema é que ele é bipolar, ele é igual [inaudível] de baiano, de manhã é uma coisa, de tarde é outra.
Alberto Fraga: Durval, mas agora é diferente. Durval, me envolva no processo.
Durval Barbosa: Tu já foi candidato pelo cara.
Alberto Fraga: Não, fui candidato não, peraí. Eu quero resolver. Então eu vou refazer tudo o que eu estou falando aqui. Aí eu pergunto para você: nós queremos continuar brigando ou queremos resolver a situação?
Durval Barbosa: Não, nós queremos resolver a situação. Mas eu quero resolver com garantia.
Alberto Fraga: Então pronto. Tudo bem, mas eu vou lhe dar a garantia. Eu vou te dar a garantia. Você sabe por que eu vou te dar a garantia? Porque ele apoiou quem eu falei para ele. Que você tinha passado para mim umas coisas. Aí ele olhou assim. Pois é. Então o seguinte, a sua garantia agora, se não eu não tinha força com ele, eu tenho certeza de que ele passou a ter, porque agora ele viu que eu não estou brincando. Porque eu quero resolver a sua vida, a nossa vida.

 

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